sexta-feira, 13 de outubro de 2023

PÔRDSEBUARÁ GRANTIDZA-PÁ DSÁM TÚ / O PRÍNCIPE E O DONO DA CAVERNA PARTE DOIS


 Eis então que a mensagem é transmitida, os guardas do caminho confirmaram que eram os Aragôiá que iniciavam este conflito, uma divisão da nação nortenha dos Jaguaribaras cearenses, que haviam migrado e subsequentemente se aliado com mais duas nações que estavam em atrito com os Pranhús, os Paraguaçus e Paramirins, todos prontos para derrubar as aldeias aliadas à Pranhuretã. Dzacupêm diz que nos próximos 2 dias eles farão o Marãmônhangandaruçú (Grande Dança da Guerra), o mênsô (pajé) firmou a tenacidade dos guerreiros através dos rituais sagrados de guerra, assim, os Pranhús e seus aliados, os Rônateá (Tecelãos), os Ôrôbuiê (Os Araraguaçús), os Cuibá (Os Caracarás), os Êicóquiê (Os que não descansam) e os Putundá (os noturnos) estavam resolutos.


 Após o Conselho Geral (Matêmbê), Ticunê chamou todos os seus leais guerreiros, Sissauí dos Ronateá e seu irmão mais novo Sissú, a guerreira conhecida por sempre trocar sua lança por seu machado Acranê, o forte filho de pais Paratiós chamado de Côquiá Êtafé, o filho do pajé e grande formador de táticas Hêibá, o poeta de palavras tocantes Abiquiá e a lança mais jovem do grupo, mais novo até que Piúna, o contador de histórias Tibêrêmá, nesse chamado também incluiu Essaeté e oficiliazou sua participação nos Aramanassunã, Piúna esbranqueceu ao perceber que havia saído de sua vida tranquila para entrar em um mundo de guerra.


 Desesperada com a notícia de sua participação, não falou nada entre as lanças e o príncipe, mas voltou para rede em pavor, perdendo 1 noite de sono que ela tinha garantida antes de ir para a floresta caçar os inimigos, foi aí que ela teve uma visão, era uma figura alta de cabelos longos e brancos e com um chifre luminoso e outro partido que seu declarou Nhicô Sôssicrã (Chifre de Cristal) e disse uma frase sucinta:


"pám assú, ká tissú" (acaba meu tempo, começa o tempo dele)


 Com essas palavras, seu chifre cai de seu crânio e com o topo pontiagudo apontado para baixo, perfura a barriga de Piúna, ela grita e acorda todos da rede, que mal veêm o que ocorreu, apenas um vulto que sumiu e um brilho que entrou em Essaeté. No dia seguinte, todos da aldeia central perguntaram ansiosos pelo significado disso, quando ele perguntou para Essaeté o que ela viu e sentiu, este logo disse: "era Acajara, o carô (imagem) da sabedoria", todos ali ficaram pasmos, o mênsô complementa: "de tu Piúna, sairá a sabedoria encarnada".


 Mais uma noite se passou, era o dia da batalha, os guardas viram os Paramirins se aproximando da aldeia antes dos outros, Dzacupêm guia seus guerreiros e pede para que seus filhos defendam as outras posições, com essa ordem, Ticunê e seus lanceiros se movem para a direção que os guardas suspeitam terem visto a força principal dos Aragôiá.


 A noite chegou, mas nenhum deles encontravam os Aragôiá, este grupo então acampa junto aos Rônateá e os Ôrôbuiê, eles conversam, comem e vão dormir, deixando alguns soldados selecionados para guardar e fazer turnos depois de algumas horas. Chega a noite alta, a Balhá (Lua) se ergue no horizonte e a floresta não manifesta muito som, Piúna estava de guarda neste horário junto com todo o grupo de lanceiros.


 Sissú notou uma movimentação estranha na mata e alertou Côquiá que estava mais próximo, ambos foram checar e viram a terra se levantando, não só em um lugar, mas eu múltiplos locais, era difícil de enxergar, mas parecia com uma tampa gigante de folhas,. Seja lá o que fosse, dela surgem inúmeros guerreiros com lanças e arcos, preparados para a batalha, eram os Aragôiá e isso era uma armadilha, imediatamente Sissú que era mais rápido corre para alertar os outros.


"Emboscada! Emboscada!"


 Sob esse alarde enorme, todos despertaram de imediato, os Aragôiá chegaram no acampamento e começaram a matança, os guerreiros ainda sonolentos mal tiveram tempo de reagir ou até mesmo acordar, muito sendo mortos neste ataque. Com todo esse caos acontecendo, o príncipe Ticunê ordenou que os oito lanceiros lutassem para defender o acampamento, Hêibá organizou os ôrôfôquinhís (jovens guerreiros) e os ôrôfôcumás (veteranos), Acranê cortou o caminho para que os guerreiros avançassem, Sissú foi ordenado para buscar reforços no acampamento mais próximo e avisar sobre as armadilhas, enquanto Abiquiá e Côquiá recebiam ordens de Hêibá para impedir o avanço dos Aragôiá, por último Tibêrêmá e Piúna comandavam catanhãs (esquadras) de seus melhores atiradores para matar os arqueiros, usuários de zarabatana e lançadores de dardos inimigos.


 No fim, os Aramanassunã, junto com os Ôrôbuiê e os Rônateá conseguiram defender sua posição, os Aragôiá que os emboscaram notaram a súbita reviravolta da batalha, aos poucos recuando para a mata escura, Ticunê grita vitória, mas um dos lançadores de dardos ouve e volta para atirar, no que ele se prepara pra lançar, Piúna corre para frente de Ticunê subitamente, de lado, ela toma toda a força do dardo que é quase do mesmo tamanho que seu braço no seu antebraço direito. Piúna desmaia, a guerra prossegue...




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



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