segunda-feira, 16 de outubro de 2023

PROPOSTAS ETIMOLÓGICAS DAS RAÍZES NOS NOMES DAS FAMÍLIAS KARIRI-XOCÓ


 Através desse texto, venho propor a etimologia das raízes registradas nas publicações do blog entituladas de VOCABULÁRIO DE NOMES PRÓPRIOS com conexões


1) WÁ 'sonho, dormir, deitar', está conectada a:


Arawá: PARA *wada ‘sonhar/dormir’ > JRW wata ‘deitar/sonhar’ 

Harakmbet: wɛdʔ ‘deitar’

Caribe: PKAR *wetu ‘dormir'



2) EMURÁ 'cipó, corda, balaio de cipó, fazer balaio de cipó' é separado como emu-rá:


a) emú está conectada a:


Mako: wibɯ(-pʰa) 

Piaroa: wipohu 

Saliba: poxu 

Hodi: ibuhu


Todas indicam uma forma *ibu ~ *imu


b) rá talvez signifique 'corda, sipó', no entanto nenhum cognato convincente foi descoberto até o mesmo, essa raiz será discutida no ponto 3.


Alternativa: No caso dessas etimologias não estarem corretas, também proponho que emurá seja uma variante de ymbyra do Tupi Antigo, no entanto alerto que isso não explicaria a transferência da sílaba tônica para a sílaba final.



3) MUIRÁ 'arco', essa palavra tem uma chance pequena de ser um composto de duas palavras


Arawak: WRA muwi ‘aceso’, ̃ MHN mui ‘id.’

Pukina: PKN mowe 'madeira'


 Essas raízes confirmam a presença de uma raiz *muwi nas línguas indígenas da A. do sul, faltando explicar rá, cujo talvez seja cognato do rá de emurá, fazendo com que Muirá seja mui-rá 'madeira-corda' ou 'madeira com corda'. Caso essa etimologia não esteja correta, também proponho conexão direta com muyrá 'madeira' do Nheengatú, que seria uma variante de mbyrá 'madeira'.



4) GIRIÇÁ, essa palavra está marcada com o agentivo ativo das línguas Katuandí, visto em Inkrandibiça 'preguiçoso' e analisado em uma postagem prévia, como confirmado no VOCABULÁRIO DE NOMES PRÓPRIOS 3, girí significa 'chuva de minha antepassada', encontrei no Uru-Chipaya o seguinte:


Uru-Chipaya: PUCP *ʧiri ‘nuvem’ (ʧ = tch de tchau, portanto txiri)


 girí e ʧiri talvez indiquem uma forma antiga em *jiri 'nuvem, chuva'.


 Portanto temos giri-çá (jiri-ssá na ortografia Katuandí) 'nuvem-dor, chuva-dor' ou 'aquele(a) que causa nuvem, aquele(a) que causa chuva'.



5) NA 'nós', esse talvez continue o prefixo A- 'eu' visto em publicações passadas que discutem sobre as últimas frases do Katuandí, parece estar marcado com o prefixo N-, cujo talvez indique uma tentativa de discernir o pronome plural do singular, mas caso não e seja na verdade um resquício de uma antiga marcação gramatical sem função de distinção de pluralidade, então talvez os pronomes tivessem pouca senão nenhuma distinção de número.



6) RY (RÍ) 'onda', cognata de:


Proto-Jê *rɨ 'comprido'



7) NAWANE 'somos parentes' talvez seja na-w-ane 'nós-REL-parente', com ane sendo cognato distante do Tupi Antigo anam-a e do Yanomami *jano ‘aldeia’ ou *ʧanɨma ‘gente’



8) MAAY 'união estável' talvez seja cognato do Aymara maji-ɲa 'pedir' e do Uru-Chipaya maj 'pedir'



9) NIDÉ 'penas azuis', ní tem chance de ser cognato das seguintes palavras:


Arawak: PMGU *anɨ, BAR enu, BNW eenu, PLK en, ENN eno ‘ceu’


 Todas com o significado de 'céu, azul', dé portanto talvez seja a palavra para 'pena' do Katuandí, cognato dessas palavras:


Katukina-Katawixi: KTK dai 'cabelo'

Mura-Matanawi: PRH tai 'cabelo'


ou talvez:


Arawak: PARW *-iti > WPX -ɗi, GRF idiburi; MRW hiti; PNWK *-ʧii, GNU/MNO iʧi, WRK -iʧɨ, BWN -ʧi 


Todas do Arawak significam cabelo.



10) SUIRA 'sopradores que curam', cognata das seguintes:


Piaroa: juʔu 'assoprar'

Hodi: ju 'assoprar'


o -ra no final talvez dê continuidade ao antigo sufixo -r do Proto-Macro-Jê, que tem função de não-finitude de acordo com Andrey Nikulin, como temos poucos dados, torna-se difícil elaborar um esclarecimento sobre a herança das codas no Katuandí, portanto a presença dessa única coda é especulativa e necessita de mais estudos.



11) PAHANKÓ 'estrondo das águas no barranco do rio', separado como pahan e kó.


a) pahan tem como cognatos:


Cholon-Hibito: CLN pahato 'descer'

Barbakoa: TFK pahta- 'descer'


b) kó talvez continue:


Proto-Macro-Jê *kuñ° ‘buraco’ ou *kut ‘cavar’ (L)



12) SOYÁ 'peixe diferente', etimologicamente talvez seja um composto de *côk-ĵə̂ 'rosto-amargo' do Proto-Macro-Jê ou talvez tenha uma relação distante com o *sae 'peixe' do Proto-Taruma, com especialização do significado.



13) BAKA 'flecha', tem conexão direta com o Kariri buikú 'flecha' e o Proto-Boróro *boika 'arco', nota-se que se distingue do termo Xocó registrado que é ikrô, o que indica que esse termo deriva de outra língua dentro da família Katuandí, possivelmente o Natú.



14) TINGA 'alvo, branco', essa palavra tem duas possiveis etimologias, recentemente foi descoberta a palavra para 'flor' do Katuandí que é tinga, homófona mas não derivada do termo Tupi ting-a 'branco, alvo', portanto esse nome possui duas possíveis origens.



15) PIRIGIBE 'barbatana', esse termo deriva diretamente do Tupi pirá-îyba 'braço de peixe, barbatana'



16) IBÁ 'canoa, canoeiro', derivado do Kariri ibá 'veículo', cujo talvez seja i 'madeira, ferramenta' + ba 'nadar' = ibá 'madeira que nada'



17) IREÇÊ significa 'mel verdadeiro', a estrutura encontrada na palavra Iranche ʔiriʃi 'abelha' junto à forma eír-a do Tupi Antigo indicam uma origem compartilhada do termo que significa 'abelha, mel'. Também não se pode negar a possibilidade de ser y-reçê 'pela água, à mercê da corrente' do Tupi Antigo.



18) POITÉ ' pedra amarrada numa corda que serve de âncora das canoas', a origem talvez seja no Tupi Antigo poitá 'âncora', uma segunda possibilidade etimológica é de que se separe como pó + ité, ambos os termos com o significado de 'barriga', com cognatos nas seguintes línguas:


pó, cognato de:


Harakmbet: HKB dapu ‘barriga’

Pano: PPAN *napo ‘interior, centro’


ité, cognato de:


Arawak: LKN ɨte 'barriga'

Kwaza: etɛ 'barriga'





Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



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