No século 19, um pesquisador chamado Carl Friedrich Philipp von Martius viajou pelo Brasil coletando informações etnológicas dos povos de nossa terra, três foram os povos cujos os vocábulos foram anotados e comparados e que vamos discutir nesta publicação: Xavante, Xerente e Xakriabá.
Essas três línguas formam parte de um grupo de línguas próximas classificadas como Jês Centrais devido à sua posição geográfia bem no centro do país, esse vocabulários são importantes, pois não só eles, como também o de várias outras nações e subdivisões destas tiveram seus léxicos descritos em quantidades variadas neste documento, o nome do documento em questão é "Beiträge zur Ethnographie und Sprachenkunde Amerikas zumal Brasiliens. I. Zur Ethnographie. II. Glossaria linguarum Brasiliensium", podendo ser encontrado no site Etnolinguística, deixarei o link no final da publicação.
O importante para esta publicação é somente uma coisa que notei ao rechecar este documento em busca de palavras cognatas ao Katuandí, notei que uma das palavras que venho usado para associar o Katuandí ao Jê do Cerrado, que é a palavra para 'mulher' pikuá *SOMENTE* surge no ramo central, nenhuma outra língua herdou uma palavra semelhante a essa dentro do grupo Cerrado ou fora dele:
Katuandí: pikuá (Xokó)
Xavante Antigo: picon (atualmente pi'õ)
Xerente Antigo: picon
Xakriabá Antigo: picon
Novamente argumento aqui a proximidade lexical deste grupo e agora afirmo que o Katuandí é um membro do ramo Central que migrou (possivelmente de Goiás ou de Tocantins) para o Nordeste, ainda havendo a possibilidade de ter sido uma migração conjunta com o povo Kariri. A divergência na pronúncia talvez demonstre sua distância do epicentro desta cultura, tornando o Katuandí em um membro com características únicas dentro da família, ainda é possível notar algumas outras semelhanças:
SOL
Katuandí: krà-shùtó (Xokó), kra-shulo (Natú), krá-ssútó (Wakonã)
Xavante Antigo: sidacro, stukro
Xerente Antigo: beudeu
Xakriabá Antigo: estagro, stacró
sida/stu/esta/sta cognato de shuto ?
LUA
Katuandí: kri-ũavi (Xokó), kra-wáve (Natú), krá-bàbì (Wakonã) < (ũa/wá/bà = lua)
Xavante Antigo: ouá, hevá
Xerente Antigo: oua
Xakriabá Antigo: oà, ua
MÃO
Katuandí: krasia (Xokó)
Xavante Antigo: dai-iperai
Xerente Antigo: danicra
Xakriabá Antigo: daschipigrá, dajipcra
cra do Xerente e grá/cra do Xakriabá cognatos do kra de kra-si-a
CHUVA
Katuandí: tá (Xokó)
Xavante Antigo: tá
Xerente Antigo: tan
Xakriabá Antigo: ?
Akroá: thaite
ÁGUA
Katuandí: ká (Xokó)
Xavante Antigo: keu
Xerente Antigo: cou
Xakriabá Antigo: kú, ku, kü
TABACO
Katuandí: bari (Natú)
Xerente: warĩ
Akroá: uari
MANDIOCA
Katuandí: grygo (Xokó), grogó (Natú), guli-jó 'bebida de mandioca' (Wakonã)
Xavante: 'upa
Xerente: kupa
Akroá: cuipá
Proto-Jê Central: *ku-pa
gry/gro = gVry/gVro (gory/goro ~ gury/goro)
Katuandí go/gu cognato do Proto-Jê Central *ku
TERRA
Katuandí: adsihi (Xokó), atissêrê (Natú)
Xavante: ti'a
Xerente: tka
Xakriabá: tika
hi do Xokó = hi 'colocar, pôr' do Xerente
sêrê do Natú = sẽrẽ 'colocar dentro, sepultar' do Xerente
Link da publicação de Martius: http://www.etnolinguistica.org/biblio:martius-1867-beitrage
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
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