domingo, 26 de novembro de 2023

JÈTÍPIÁ SUÁ KRAÉ-BRAÈ ADZÀ TÁTÓ / O PRÍNCIPE E O DONO DA CAVERNA PARTE QUATRO


No dia do nascimento de Ramá, Turumarã ouviu o proclamar da floresta, nos ventos que sopravam na aldeia principal, tudo floresceu como se fosse primavera, nenhuma nuvem obscureceu a luz de Krassutô o Sol, eram indicadores de que seu nascimento traria bonança. Turumarã foi para a oca dos caciques Ticunê e Piúna para trazer as boas notícias que a natureza provia, disse então: "uma semente foi plantada no mudno, ela cresce e cresce no solo fecundo, o fogo do sol e a água do rio que nos cerca são seu alento, para que um dia grão de nossas almas seja sustento", Turumarã olha para o bebê e complementa: "do seu primeiro passo ao último, o renovar que esta criança trará será legítimo", o pai Ticunê celebrou e foi cantar o quiracá (lit.: canto verde), a mãe foi fazer outros preparativos.


 Piúna nunca contou a ninguém sobre aquele dia, mantendo sempre este segredo e pedindo para que Turumarã nunca contasse para ninguém, na noite de uma lua crescente, Piúna cortou seu cabelo em um estilo tradicional do povo Pranhú, pediu por último para que o mensô pintasse três símbolos que ela desenhou com um graveto na terra, eram representações do desejo e da abnegação nas laterais e no centro de sua testa, a harmonia.


 Ramá cresceu brincando como toda criança, aos 2 anos no entanto demonstrou uma capacidade absurda de aprendizado, sendo já naquela idade de manter uma conversa com adultos sem muitos problemas, mas logo aos 3 anos de idade demonstrou falta de interesse nos brinquedos e brincadeiras, a cada dia mais se isolando de seus companheiros, seus pais perceberam essa atitude e logo questionaram: "filho, o que te causa tanta hesitação em brincar ?", Ramá respondeu "de que valor há tudo que logo não será ?", Ticunê não conseguia de forma alguma fechar sua boca, pois acabara de ouvir um infante de 3 anos dizer palavras tão complexas, mas tão tristes, já Piúna já tinha uma resposta para essa indagação: "O que Sonsé nos proveu foi a graça do mundano, efêmera, mas bela, é da imperfeição desta pedra que se constrói um muro resistente", Ramá olha para sua mãe, Essaeté olha para seu filho e continua "o Desejo do Objetivo é a percepção de uma única trilha prédestinada para a humanidade, isso é uma ilusão, a trilha que percorremos se constrói quando tudo ao redor compartilha um pouco de si para contribuir na formação de quem somos e do que faremos, por isso o humano não possui uma única trilha, cada um cresce com sua própria trilha traçadas por eles e pela Harmonia Total, e para ser ter harmonia precisa de... ?", "querida, você tem certeza de que ele vai entender tudo isso ?" diz Ticunê, cujo Piúna apenas responde com um sorriso largo, olhando de volta para Ramá, vê que ele está pensativo, o infante apenas falou "Apreciação..." e saiu com o rosto de quem descobriu algo muito importante.


 Nas semanas seguintes, o casal líder de Pranhuretã notou que seu filho estava mais alegre que nunca, aproveitando cada momento e fazendo novas amizades a toda oportunidade que encontrava, eles apreciavam da porta de sua oca, Piúna segurava sua barriga, outra semente foi plantada no solo fecundo deste mundo.




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 





Nenhum comentário: