segunda-feira, 8 de abril de 2024

O KAMAKÃ FAZIA PARTE DO SPRACHBUND NORDESTINO


 Começando com essa discussão, elaboro aqui meus argumentos para inclusão do Kamakã dentro da Área de Convergência Linguística do Nordeste (ACOLINE), defendo esse posicionamento baseado nos cognatos entre o Kamakã e seus irmãos, o Krenák e o Maxakalí:


1) Partícula de posse


Proto-Transanfranciscano *ñ-uk


Kamakã: ñ-o

Krenák: nh-uk

Maxakalí: ñ-ũK


2) Ver


Proto-Transanfranciscano *pêp


Kamakã: hwe

Krenák: pip

Maxakalí: pe-nã


3) Flecha


Proto-Transanfranciscano *puñ


Kamakã: hwañ

Maxakalí: puC


4) Urinar


Proto-Transanfranciscano: *jyc


Kamakã: yak

Maxakalí: cyC


5) Preto


Proto-Transanfranciscano *tak


Kamakã: tá



Nestes exemplos, demonstrei algumas codas do Kamakã em comparação aos seus parentes mais próximos, é possível notar as correspondências de algumas das codas, é possível perceber que algumas delas são perdidas, como -t, -p e -k, mas um delas (-k) se recupera através da coda -c do Proto-Transanfranciscano (PTSF), como demonstrando no exemplo 4), isso demonstra que o processo de redução das codas foi incompleto nessa família, talvez isso indique que os Kamakã estavam na fronteira do Sprachbund, sofrendo alguns dos efeitos dela, mas não o concluindo, não é possível determinar se o processo ainda estava acontecendo na família Kamakã ou não, é possível ver que cada língua trabalhou com suas sílabas de formas de diferente, nota-se que, de forma secundária, isto é, após a conclusão da perda das codas pre-mencionadas, algumas línguas desse grupo começaram a reduzir algumas de suas sílabas e recriar codas:


(Martins, 2007)


1) Mandioca


Proto-Kamakã *kajy

Menien: kaiú

Kamakã (Martius): kasch (hipoteticamente derivado de um antigo *kaschu ou *kaschy)


2) 


 Esse processo de reaquisição de codas não é único do Kamakã, exemplifico por exemplo o Peagaxinã zitók, cujo derivou de um antigo jitókó ou jitókê, ou as codas do Xukurú e Tarairiú, cujo não são codas herdadas do Proto-Jê Setentrional, mas sim reduções silábicas bem anotadas por Lapenda (1962). Então temos uma língua que vivia na fronteira das línguas que sofriam dos efeitos da Área de Convergência, compensando a perda de algumas de suas codas com outras, vemos também uma coisa interessante sobre essa presença ao lado deste Sprachbund, que é a interação com a participantes diretos dessa área, o Terejê e o Kariri, cujo será o tópico da próxima publicação.




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



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