terça-feira, 23 de abril de 2024

PARTE II: ASPECTOS COMPARTILHADOS COM O KARIRI


 A proximidade do Masakará com o Kariri em termos geográficos e culturais trouxe algumas influências no seu léxico, principalmente na parte de substantivos como ga ré 'branco', que é comparável com karaí 'branco', kra tsó 'anta' com kradzò 'vaca, boi, gado' e a ming 'fome' com amì 'fome, mantimento', expliquei isso na última vez que falei aqui sobre essa língua e decidi trazer alguns detalhes em uma comparação tripartida entre o Kariri, o Natú e o Masakará. A palavra para casa do Masakará, que é pa, é totalmente diferente do que se vê nas outras línguas Kamakã (töah, deha, diha, tuah, toah, etc...), mas se assemelha bastante ao verbo bastante conhecido do Kariri: bà 'viver, morar', que deriva o substantivo ba-tè 'moradia, casa', e o Natú pa/ba 'viver, morar'.


 Outras palavras do Masakará demonstram sua divergência, como o fato deles usarem küm büo 'mão' ao invés de *ñim-kruk, a primeira sílaba talvez seja descendente do PTSF *kym 'tronco, chifre', enquanto büo carrega o significado de mão, se assemelhando fortemente ao Kipeà bò 'braço, mão' (cf.: raenbò 'acenar com a mão') e o Dzubukuá bo 'braço’, formando küm büo 'chifre (apêndice) que é mão'.


 Como o vocabulário Masakará surge somente no documento de Martius, não temos uma lista extensa da possível influência que o Kipeá teria passado para essa língua, mas em qualquer instância de revitalização deste idioma, a utilização de empréstimos Kariri daria sem dúvidas continuidade a este processo de amizade ancestral.


 Mesmo que superficialmente, é interessante notar que o Kamakã tem uma partícula que se assemelha integralmente ao kri/kli ‘já, sufixo do pretérito’ das línguas Kariri, nesta sendo kurê ou krê ‘já’, existe a possibilidade deste também ser um empréstimo, no entanto, não sei informar em qual direção.


 Ainda no tópico de escassez de dados, não é possível inferir muito sobre a gramática do Masakará, mas é possível que a influência do Kariri fosse bastante forte, pois a única adposição do Masakará funciona como preposição, enquanto nas outras línguas Kamakã ela funciona como posposição:


pa ko ‘dentro’, literalmente ‘em buraco’ vs dun-a (*dũ-pa) ‘longe’, literalmente ‘longe-para’


 Isso indica para nós que o Masakará talvez estivesse passando por processos semelhantes ao Kariri, preposições, marcação do sintagma nominal DNA (determinante-nome-adjetivo) e talvez verbo-inicial (VSO e VOS)


O Masakará se assemelha ao Dzubukuá em sua falta da sibilante /s/, o Dzubukuá transformando os fonemas que normalmente derivam /s/ nas outras línguas Kariri em /ð/ ou /h/, enquanto o Masakará transforma ele em /c/, /tʃ/, /ts/, /t/, /tsʰ/ ou /tʰ/, assim as duas línguas devem utilizar outros fonemas para expressar a sibilante:


Dzubukuá: dapuca, do Tupi Antigo gûyrá-sapucaî-a


Masakará: thüo ‘dente’, cognato do Kamakã ankö’-tschoh e do Menien yo, do Proto-Kamakã *jo

 



Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



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