sábado, 6 de julho de 2024

A ETNIA KATEMBRI E SUA LÍNGUA


 Pt.:


 Loukotka nos fala sobre três etnias que estavam juntas na missão de Saco dos Morcegos, onde hoje é a aldeia de Mirandela: Masakará, Kariri e Katembri. No primeiro semestre, demonstrei minhas teorias sobre a primeira língua da lista, mas hoje retorno para um tópico que discuti nas minhas primeiras publicações, que é o substrato Katembri.


Dz.:


 Cummea no Loukotka mo witanedique dseho do do coho tiddhuli mo anrabuye Tupan Saco dos Morcegos, moande doihi anrabuye Mirandela: Masacara, Cariri, Catembri. Mo bihe clopatte, hitthocli hiñêmêttea mo bihe wolidze mo cleclebuyette, ibono doihi hitthequie hany wromarâ do himmecli mo bihe tipennea hiadse, do ittattho Catembri.


Pt.:


 Meu argumento na publicação que citei a língua substrato do Katembri, foi que ela era uma língua divergente do tronco Aruaque, tendo mudanças sonoras que tornam difíceis associá-la a qualquer ramo desse tronco, um exemplo é erin-tuca, que possívelmente corresponde ao Proto-Aruaque *li-taky ‘orelha dele’, notam-se nesse caso mudanças radicais da raiz taky ‘orelha’ para tuca ‘orelha’.


Dz.:


 Hiwroñêmê mo tipenne do himmêpemoedhaquicli ittattho Catembri, immoro do coho wolidze timanniccu bewanydzi Arawaqui, dadiwany pewibannahoyâ ticcaccua do pebule ippeandde cunna marâcliboe hendzi coho bewanydzi, bihe itthotte erin-tuca, do do immoronnutte queddeeeddhu ho Arawaquiyedde *li-taky ‘i-beñe’, ubbia mo marâ coho pewibannahoyâ mannibuyea bo immu taky ‘beñe’ ho tuca ‘beñe’.


Pt.:


 Volto novamente a argumentar que o grupo étnico Katembri e sua língua eram Arawak, com os seguintes vocábulos:


Dz.:


Hitthequiebahi wroñêmê do buiho dseho Catembri co wolidze hammuy Arawaqui immorobahi, iddeho cohobbuy immettea:



1) ‘mão’

Katembri: quifi vs Proto-Arawak *kʰapɨ


2) ‘cabelo’

Katembri: idiqui-quetipati vs Proto-Arawak *iti


3) ‘orelha’

Katembri: e-rin-tuca vs Proto-Arawak *(li-)taky


4) ‘teus lábios’

Katembri: bu-quiri vs Proto-Arawak *pɨ-kira


5) ‘tua língua’

Katembri: bu-niqui vs Proto-Arawak *pɨ-nika ‘tu comes’


6) ‘prefixo afirmativo, variante 1’

Katembri: QUI-ti-pati vs Proto-Arawak ka-


7) ‘cabeça 1’

Katembri: qui-TI-pati vs Proto-Bolívia *tʊ-ti


8) ‘cabeça 2’

Katembri: qui-ti-PATI vs Proto-Bolívia *-paki


Portanto: quitipati ‘é/tem cabeça’


9) ‘prefixo afirmativo, variante 2’

Katembri: CO-quibi vs Proto-Arawak *ka-


10) ‘lavar’

Katembri co-QUIBI vs Proto-Bolívia *kipa


Portanto coquibi ‘é (para) lavar’ (necessita de segunda averiguação, também pode ter relação com o Proto-Japurá-Colômbia *-iʔiwa, cujo também necessita explicar a presença do k- em quibi)


11) ‘teu ombro’

Katembri: pu-fixié vs Proto-Mamoré-Guaporé *pike ‘pescoço’


 A evolução de ‘pescoço’ para ‘ombro’ é facilmente explicada pela proximidade das duas partes do corpo. Comprovando aqui a origem de f em antigos *p, processos de palatalização, possivelmente causados por vogais altas e deafricação (ké > kié > txié > xié).


12) ‘floresta’

Katembri: sequieifi vs Proto-Mamoré-Guaporé *jɔkɨ-ki ‘madeira’


Apesar de eu ter escolhido a proto-língua do lado direito, eu creio que haja mais proximidade fonética com seus descendentes, como o Paunáka (jɨkɨ-ke), Paikonéka (tʃaki-se) e Bauré (jaki-se), as vogais desse explicariam o alçamento vocálico de a > e, enquanto a sílaba -ke no final explicaria o -fi do final, cujo será comprovado pelo próximo argumento.


13) ‘chuva, chover’

Katembri: ifó, in-hó vs Proto-Mamoré-Guaporé *ɨko


 Creio firmemente, graças às duas evidências da evolução dessa palavra, que o Katembri passou por dois processos fonéticos diferentes. O primeiro transformou k (possivelmente só intervocalicamente ?) em h, portanto yko > iko > iho (/ixɔ/). O segundo transformou o h em possível variação livre no fonema ɸ, um sopro que se assemelha ao f do português, mas que usa os lábios. Tal mudança é vista nas línguas japônicas e também na evolução da palavra rough do inglês, que ganhou um som de f onde havia o fonema /x/.


Fontes:

BANDEIRA, Maria de Lourdes, Os Kariris de Mirandela: Um Grupo Indígena Integrado, 1972

https://pt.wikipedia.org/wiki/Protoaruaque

https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADnguas_mamor%C3%A9-guapor%C3%A9#Reconstru%C3%A7%C3%A3o

https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADnguas_japur%C3%A1-col%C3%B4mbia#Reconstru%C3%A7%C3%A3o.




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



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