Pt.:
Encontrei um fato interessante sobre o verbo têrê ‘ir.SG’ que surge no nome da nação Terejê. Esse verbo é irregular se comparado com o Akuwẽ, visto que não herdou a forma antiga do verbo do Proto-Cerratense, que era *tẽ-m ‘ir.SG’ com o sufixo de não-finitude -m no final da raiz. Isso é muito interessante, pois indica duas coisas:
1 ) Em algum momento da história do Terejê, houve a queda do -m no final da palavra, deixando a raiz em sua forma bruta tẽ, que logo viraria tê (ê = ee longo).
2) No período intermediário, os povos Terejê ainda tinham noção da existência do sufixo de não-finitude -r, e logo optaram por substituir o -m, que havia desaparecido, criando a nova raiz regularizada gramaticalmente para *tẽ-r (> tê-r-ê).
Esse argumento é reforçado pela forma que o Akuwẽ herdou essa palavra, que foi *nẽm, sem extensão da coda -m, o que foneticamente no Terejê teria feito essa consoante desaparecer sem deixar o traço típico desse ramo, que é a coda extendida (hipotéticamente teria resultado em *tê-m-ê). Por conta disso, é possível afirmar que o Proto-Jê-Central herdou a forma *tẽm sem modificação da coda de não-finitude, ao invés de herdar como *tẽmẽ, quando os Terejê adentraram e participaram da área de convergência linguística do Nordeste, que tende a não permitir consoantes finais, estes tiveram que regularizá-la para uma forma que seguisse o padrão C(r)V da região. Assim criando a dicotomia de tê ‘ir.SG’ na forma finita e têrê na forma não-finita.
Fontes:
Nikulin, Andrey Proto-Macro-Jê: um estudo reconstrutivo, 2020, Brasília.
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
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