terça-feira, 16 de julho de 2024

REAPRENDENDO O PROCESSO DE DERIVAÇÃO ZERO TEREJÊ


Pt.:


 Como falantes de português, temos o costume de presumir que palavras devem seguir uma regragem rígida de afixos derivativos, se olho tem que ser verbo, este perde o sufixo de gênero masculino -o e ganha -ar, virando olhar, assim também é o caso vice-versa. É difícil compreender o sistema de uma língua que não foi descrita com grande exatidão de detalhes, mas com o desvendamento de suas raízes, como feito com mensô ‘pajé’ e sementia ‘menino(a)’, podemos recriar o sistema antigo da língua e replicá-lo fielmente.


 Primeiro, devemos entender que as raizes verbais das línguas Terejê são inflexiveis, isto é, não se conjugam de forma alguma, se eu digo a-çô ‘eu curo’ no Wakonã, também digo o-çô ‘tu curas’, sem modificar o verbo em si, apenas afixando qualquer modificador de forma independente. Igualmente digo çô para ‘curandeiro, médico’, havendo a possibilidade de um modificador que diga que estou falando de alguém com a profissão de curar, como jim çô, lit.: pessoa curar, também posso usar o prefixo genérico de terceira pessoa humana para criar a-çô ‘curandeiro, médico’, e posso usar a terceira pessoa genérica para criar i-çô ‘objeto que cura, medicina’, tudo sem modificar a raiz em si.


 O mais extremo, é claro, é o primeiro exemplo de derivação de agente que dei para o verbo çô ‘curar’, que é çô ‘curandeiro, médico’, tal pode ser aplicado livremente com outros verbos:


cram ‘comer’ > ‘comedor’


ex.: çú cram grigó Nhôcrê ‘Nhôcrê come mandioca’ ou ‘Nhôcrê é comedor de mandioca’


çô ‘ver, enxergar, estudar’ > ‘estudante, observador’


ex.: ta dô Marcu çô cí ‘Marco foi um ornitólogo’ (çô 'estudar' + cí 'ave, pássaro').




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



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