sexta-feira, 16 de agosto de 2024

ETIMOLOGIA DE ALGUMAS PALAVRAS DO MASAKARÁ, PARTE II


Pt.:


 A seguintes palavras podem ser decompostas em comparação com seus cognatos diretos:


Obs.: Aplicarei uma sugestão de ortografia para todas as palavras aqui estudadas, as versões originais se encontram na fonte que será deixada no final de cada etimologia.


Leitura da ortografia:


a = ó aberto

ä = á aberto

b = p

c = tx + aspiração

d = t

dz = ts

e = ê fechado

ë = é aberto

g = k

gh = g holandês, aspirado

h = h

i = i

j = y de yes ou Yanomami

k = k + aspiração

l = l

m = m

mh = b de barco

n = n

nh = d de dado

ñ = nh de nhoque

o = ô fechado

p = p + aspiração

q = r de rato do dialeto carioca, rasgado

r = r de Pará, nunca de rato

t = t + aspiração

ts = ts + aspiração

u = u

y = i grosso do Tupi Antigo

z = tx



16) gäq tä ‘negro (homem)’


 A palavra é composta de gaq ‘corpo’ + ta ‘preto’, gaq serve para modificar o adjetivo e dar-lhe o sentido de que fala de um ser humano, ao invés de wejq ta ‘preto (cor)’ que é a forma genérica do adjetivo ta, sem atribuí-lo a qualquer coisa.


Fonte: Martins, 2007, p. 65



17 ) gäq tä do dzo ‘negra (mulher)’

 A palavra tem a mesma etimologia da anterior, só que é modificada pelo substantivo do dzo ‘mulher’, que na verdade vem de um composto antigo, que é do dzo ni ‘(que) pare coisas’, com do dzo sendo ‘coisa’, aqui usado para se referir a bebês de qualquer espécie, sendo essa palavra um termo genérico para qualquer mãe.


Fonte: Martins, 2007, p. 65



18) zyq go ‘nariz’


 A palavra é composta de zyq ‘nariz’ + go ‘buraco’.


Fonte: Martins, 2007, p. 65



19) gyn gring ‘coxa’


 A palavra é composta de gyn ‘lado’ + gring ‘filho’, literalmente sendo gyn gring ‘filho dos lados’ ou ‘descendente dos lados’. Cognato do Krenák kinkrok ou kinkruk ‘coxa’.


Fonte: Martins, 2007, p. 65



20) in dä ‘mulher’


 A palavra mulher é cognata direta do Krenák inta ‘costela’, assim como retzani ‘orar’ no vocabulário de Martius indica uma influência cristã bem antecedente, o uso de costela para definir mulher deriva diretamente da narrativa cristã, sobre a origem de Eva do conto de Adão e Eva. A palavra original era provavelmente *qing ou *qyöng, baseada em seus cognatos no Menien ashun e Kamakã 1 shö


Fonte: Martins, 2007, p. 64



21) honn ‘morrer, morto’


 A palavra é cognata do Krenák ahom ‘terminou, gasto, fora’ e ki ji hom ‘acabar completamente’, portanto o verbo honn (com vogal eco -i, portanto hôni) significa ‘acabar, terminar’ e foi extendido para ‘morrer’.


Fonte: Martins, 2007, p. 64



22) bäw dzö ero äng ‘muito’


 As palavras aqui são decompostas como baw ‘mão’, cognato do Krenák po ‘mão’ + dzö ‘passar, ir, além’, cognato do Krenák jan ‘ir, passar’, portanto baw dzö ‘além do que se pode contar nas mãos’, cognato da construção Krenák po jan. Ero ang é composto de ero ‘maduro, caído, muito, completo’, cognato do Krenák arak ‘maduro, caído, muito, completo’ + ang ‘verdade, é assim’, cognato do Krenák ha a ‘a verdade, é assim’.


Fonte: Martins, 2007, p. 64


23) hjwö za ‘moça’


 A palavra é cognata direta do Krenák jo a ‘moça’, que ao que parece, significa ‘de onde nascemos’.


Fonte: Martins, 2007, p. 64



24) win dzä ny ‘moço’


 A palavra parece ser composta de cognatos do Krenák wintscha ‘pôr, posto’ + nuk ‘não’, ou seja win dza ny ‘não posto, não colocado’, no entanto, sem registros diretos da cultura dos Masakará, não temos como inferir o que exatamente essa expressão significava e se a interpretação está correta.


Fonte: Martins, 2007, p. 64



25) hiän honn ‘morrer’


 A palavra é composta de hian ‘acabar, passar’, cognato Krenák jan ‘passar, acabar’ e variante direta de dzö de baw dzö ‘muito’ + honn ‘acabar’, que se tornou ‘morrer’, portanto hian honn ‘acabar acabar’.


Fonte: Martins, 2007, p. 64



26) in ñung ‘meu’


 A palavra é composta de in ‘eu (acusativo)’ + ñung ‘sufixo genitivo’.


Fonte: Martins, 2007, p. 64



27) äro ju hwing ‘enxaqueca’


 A palavra é composta de aro ‘muito, maduro, completo’, cognato do Krenák arak ‘muito, maduro, completo’ e variante de ero ‘muito, maduro, completo’ + ju ‘ser’, cognato do Krenák jun ‘ser, existir’ + hwing ‘dor’, cognato do Krenák hok ‘dor’, portanto aro ju hwing ‘é muita dor, dói muito’.


Fonte: Martins, 2007, p. 64



28) kuun ‘mel’


 A palavra é possivelmente cognata do Maxakalí kũy ‘tirar o mel dos favos’, portanto é tanto o substantivo ‘mel’ quanto o verbo com mesmo significado do Mx.


Fonte: Martins, 2007, p. 64


29) äyäq ‘mijar’ (Martins erroneamente traduz mingo do latim como misturar)


 A palavra deriva do Proto-Transfranciscano *jyc ‘mijar, urinar’.


Fonte: Martins, 2007, p. 64



30) dzoy äry ‘amanhã’


 É variante de dz-ajri ‘dia’, derivado de um cognato do Krenák àrek ‘pequeno, plano, claro’.


Fonte: Martins, 2007, p. 63




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



Nenhum comentário: