sábado, 5 de outubro de 2024

UM ESTUDO ONOMÁSTICO DOS GAMELA E ANÁLISE DA DIVISÃO LINGUÍSTICA DESTA NAÇÃO


 De acordo com o registro de Nimuendajú, os Gamella de Codó preservaram a palavra que serve de nome para seu último líder, Bertrotopama, que cometeu suicídio ao ver, de uma janela, seu povo sendo injustamente capturado pelas tropas do governo maranhense da época. Estes Gamelas, ou Acobu, são distintos dos Gamela de Viana, pois a palavra do seu líder está apocopada ao extremo em comparação à estrutura CV do Curinsi (Gamela de Viana), possuindo encontros consonantais não vistos no vocabulário deste mesmo documento, que veio de uma anciã do povo Curinsi.


 Pode-se explicar que os Gamela de Codó foram extremamente influenciados pelos Timbira, o município de Codó é vizinho direto do atual município Timbiras ao norte, indicando que os dois povos estavam em contato mais direto do que entre os Gamela de Codó e os Curinsi, assim a palavra Bertrotopama foi truncada foneticamente pois a fonotática local permitia tal processo.


 A palavra Bertrotopama se desconstrói como ber-tro-to-pa-ma, pois as línguas Lokono-Guajiro são morfemicamente monossilábicas.


ber = berwa 'predar, caçar sem fazer barulho' (Bennett, 1989, p. 7)

troto = torodo 'deitar' (lay down, Goeje, 1928, p. 43)

pa = fa 'futuro' (Goeje, 1928, p. 21)

ma = 'potencializador, aquele que pode...' (Goeje, 1928, p. 32)


Bertrotopama 'que poderá predar silenciosamente e matar (lay down)'


A língua de Bertrotopama é caracterizada pela assimilação aos aspectos ds línguas Timbira da região, isso a torna uma língua distinta do Curinsi, o único ramo dessa família presente e perto do município de Codó e no rio Itapecuru eram os Coroatás, os mesmo que viriam a nomear o município de Croatá no Ceará, na região de Ibiapaba, sendo uma das duas divisões dos Gamelas que vieram para o Estado do Ceará, a outra sendo os Poti, que se assentaram no rio Poti.




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



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