A Formação da Identidade da Península Ibérica e as Instituições Políticas
1. Introdução
A Península Ibérica passou por um longo processo de transformação política, cultural e étnica ao longo dos séculos. Desde a presença dos povos nativos e a dominação romana, passando pela fragmentação com os reinos bárbaros e a Reconquista cristã, até a consolidação dos reinos de Portugal e Espanha, a história ibérica moldou as identidades nacionais modernas.
2. As Províncias Romanas e a Estrutura Administrativa
A presença romana na Península Ibérica teve início em 218 a.C. durante as Guerras Púnicas. A dominação romana trouxe a romanização da região, estabelecendo infraestruturas, a língua latina e um modelo administrativo baseado em províncias:
Hispânia Citerior (197 a.C. - 27 a.C.): Abrangia o leste e o centro da península.
Hispânia Tarraconense (27 a.C. - 472 d.C.): Com capital em Tarraco (atual Tarragona), era a maior província romana da Península Ibérica.
Lusitânia (16 a.C. - 411 d.C.): Correspondia ao território do atual Portugal central e sul e parte da Espanha ocidental, com capital em Emerita Augusta (Mérida).
Galécia (284 - 409 d.C.): Situada no noroeste, com capital em Bracara Augusta (Braga), foi uma província tardia de Roma.
3. Os Reinos Bárbaros e a Fragmentação Pós-Romana
Com a decadência do Império Romano, povos germânicos se estabeleceram na Península:
Reino Suevo (409 - 585 d.C.): Ocupou a região da Galícia e norte de Portugal, com capital em Bracara Augusta.
Reino Visigodo (507 - 711 d.C.): Formado após a queda do Reino Visigodo de Tolosa, unificou a maior parte da península, com capital em Toledo.
Os visigodos estabeleceram um sistema jurídico próprio, fundindo elementos do direito romano com as tradições germânicas. Entretanto, a instabilidade política e disputas sucessórias enfraqueceram o reino, permitindo a invasão muçulmana em 711.
4. A Reconquista Cristã e a Formação dos Reinos Medievais
Após a conquista islâmica, os cristãos iniciaram a Reconquista, um processo de retomada do território que durou séculos e resultou na formação de diversos reinos cristãos:
Reino das Astúrias (718 - 924 d.C.): Primeiro núcleo da resistência cristã, com capital em Oviedo.
Reino da Galícia (750 - 1833 d.C.): Evoluiu a partir das Astúrias e teve importância no cristianismo ibérico.
Reino de Leão (910 - 1230 d.C.): Sucessor das Astúrias, com capital em Leão, tornou-se um dos mais influentes reinos cristãos.
Reino de Castela (1065 - 1230 d.C.): Inicialmente um condado, tornou-se um dos principais reinos da península.
Reino de Portugal (1139 - 1910 d.C.): Surgiu a partir do Condado Portucalense, consolidando sua independência em 1139.
Reino de Aragão (1035 - 1716 d.C.): Expandiu-se e uniu-se à Catalunha, formando a Coroa de Aragão.
5. A Importância dos Condados e a Formação de Novos Reinos
Antes da consolidação de grandes reinos, diversos condados tiveram papel fundamental na estrutura política:
Condado de Castela (850–1065): Tornou-se o Reino de Castela.
Condado de Aragão (c. 802–1035): Evoluiu para o Reino de Aragão.
Condado de Barcelona (801–1137): Unido à Coroa de Aragão.
Condado Portucalense (868–1139): Evoluiu para o Reino de Portugal.
6. Cidades e Capitais de Destaque
Ao longo da história ibérica, algumas cidades tiveram grande importância:
Tarraco (Tarragona): Capital da Hispânia Tarraconense romana.
Bracara Augusta (Braga): Centro da Galécia e do Reino Suevo.
Toledo: Capital do Reino Visigodo.
Oviedo: Primeira capital do Reino das Astúrias.
Leão: Capital do Reino de Leão.
Lisboa: Tornou-se a capital do Reino de Portugal.
Barcelona: Centro do Condado de Barcelona e da Coroa de Aragão.
Sevilha e Granada: Importantes cidades durante a ocupação muçulmana e a Reconquista.
7. Conclusão
O processo de formação da identidade ibérica foi marcado por diversas influências culturais e políticas. A fusão entre heranças romanas, germânicas e cristãs moldou as instituições políticas que levaram ao surgimento de Portugal e Espanha. A Reconquista consolidou a identidade cristã, mas manteve traços das civilizações anteriores, refletindo a complexidade histórica da região.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Livros:
FERREIRA, João. História da Península Ibérica: De Roma aos Reinos Cristãos. São Paulo: Editora Contexto, 2018.
GARCÍA DE CORTÁZAR, José Ángel; GONZÁLEZ VESGA, José Manuel. Breve Historia de España. Madrid: Alianza Editorial, 2016.
MENÉNDEZ PIDAL, Ramón. La España del Cid. Madrid: Espasa-Calpe, 1987.
SÁNCHEZ-ALBORNOZ, Claudio. España, un Enigma Histórico. Madrid: Ediciones Rialp, 2003.
TORRES, João Paulo Oliveira e. Portugal: Das Origens à Atualidade. Lisboa: Círculo de Leitores, 1991.
Artigos e Periódicos:
BARROCA, Mário Jorge. “A Reconquista Cristã na Península Ibérica e a Formação dos Reinos Medievais.” Revista de História da UFRJ, v. 10, n. 2, p. 45-67, 2015.
MARTÍNEZ DÍEZ, Gonzalo. “La Expansión del Reino de León y la Formación de Castilla.” Hispania. Revista Española de Historia, v. 63, p. 217-250, 2003.
Fontes Primárias:
ISIDORO DE SEVILHA. Historia de Regibus Gothorum, Vandalorum et Suevorum. Tradução de G. Donini. Madrid: CSIC, 2006.
CRÔNICAS MEDIEVAIS: Crónica de Afonso III e Crónica dos Reis de Leão. Edições críticas disponíveis na Real Academia de la Historia, Madrid.
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