quarta-feira, 16 de abril de 2025

A ORIGEM E A COSMOVISÃO DOS GUARANI

  





Cronologia, Espiritualidade e Ambiente Cultural 



Resumo



Este texto apresenta uma síntese sobre a origem histórica e a cosmovisão dos povos Guarani, com destaque para os grupos Chiripá e Mbyá. Seguindo uma abordagem descritiva e cronológica, são exploradas as origens pré-coloniais desses povos até o contato com os europeus no século XVI, além da estrutura cósmica dos Guarani Chiripá, suas moradas espirituais e entidades hierárquicas. Também se analisa a corporalidade dos Guarani Mbyá e os estágios da alma na concepção de saúde, bem como os tipos de ambientes culturais existentes na Terra e a noção de paraíso terrestre. A pesquisa visa demonstrar a riqueza simbólica e espiritual do povo Guarani, evidenciando sua profunda relação entre corpo, alma, natureza e cosmos.


Introdução


Os povos Guarani constituem uma das mais antigas e expressivas etnias indígenas da América do Sul. Sua presença se estende por regiões do Brasil, Paraguai, Argentina e Bolívia, onde desenvolveram uma cultura marcada por uma visão cosmológica profunda e complexa. A história dos Guarani, anterior à chegada dos europeus, está ligada às migrações de troncos linguísticos Tupi-Guarani e à construção de uma espiritualidade centrada na busca por equilíbrio entre o mundo físico e espiritual.


Este trabalho apresenta uma breve cronologia da origem dos Guarani, destacando os principais períodos até o contato com os colonizadores europeus. Em seguida, explora-se a estrutura cósmica dos Guarani Chiripá, as moradas espirituais e os seres que regem os céus. Por fim, examina-se a corporalidade entre os Guarani Mbyá, especialmente os estágios da alma e sua relação com a saúde, além dos ambientes culturais da Terra e o ideal sagrado da Terra sem mal (yvy marã e’ỹ).


Origem dos Guarani: Cronologia e a Estrutura Cósmica 


Antes de Cristo (a.C.):


c. 3.000 a.C. – Os antepassados dos Guarani pertenciam à macrofamília Tupi-Guarani, que se desenvolveu na região amazônica (atualmente entre o Peru, Bolívia e Brasil).


c. 2.000–1.000 a.C. – Migrações gradativas dos proto-Tupi-Guarani rumo ao sul (regiões do atual Mato Grosso do Sul, Paraguai, Argentina e sul do Brasil), formando diversas etnias com base em troncos linguísticos.


c. 500 a.C. – Formação de aldeias horticultoras semi-sedentárias, com base na agricultura da mandioca, milho e batata-doce.


Depois de Cristo (d.C.):


Séculos I–XII d.C. – Estruturação cultural dos Guarani ancestrais, com consolidação de seus mitos de origem, organização social, práticas espirituais e linguísticas distintas. Os Guarani se espalham pelas bacias do Prata e do Paraguai.


Séculos XIII–XV d.C. – A presença Guarani se estende por grandes áreas da América do Sul: regiões dos atuais Paraguai, sul e sudeste do Brasil, Bolívia e Argentina, desenvolvendo rica mitologia e prática xamânica.


Século XVI (a partir de 1500) – Contatos com os europeus, especialmente os espanhóis e portugueses. Inicialmente, os Guarani estabelecem alianças, mas depois sofrem com a colonização, reduções jesuíticas e escravidão.


Estrutura Cósmica dos Guarani Chiripá 


Os Guarani Chiripá (ou Nhandeva) possuem uma cosmovisão vertical e estratificada, onde o mundo é dividido em camadas celestes e subterrâneas, unidas pela presença do ser humano como mediador espiritual. Há um constante diálogo entre o plano visível e o invisível, com forte ênfase na palavra sagrada (ñe'ẽ).


Camadas celestes e moradas espirituais:


Yvágapy – Céu mais próximo da Terra.


Yvá tenonde – Morada de seres sagrados que ajudam os xamãs.


Yvá mbyte – Céu intermediário, onde vivem espíritos de sabedoria.


Yvá katú – Região das entidades superiores.


Yvá pytã – Céu vermelho, morada dos deuses protetores da palavra.


Yvá porã – Morada dos mortos justos.


Yvá marangatú – Céu sagrado, onde vive Ñamandu Ru Ete, a divindade máxima.


Hierarquia espiritual:


Ñamandu Ru Ete – Criador supremo, ser da luz e da palavra primordial.


Karaí, Jakaira, Tupã, Nhanderuvusu – Entidades secundárias associadas aos elementos (fogo, vento, água, sabedoria).


Xamãs (karai) – Mediadores humanos entre os mundos; acessam os céus por meio do canto sagrado e do sonho (karai rekove).


Interligação entre mundos:


A interligação ocorre por meio do canto sagrado (ayvu), da oração (mborai), e do uso de plantas ritualísticas.


Os sonhos e visões revelam caminhos espirituais entre os planos.


Corporalidade Guarani Mbyá: Estágios da Alma e a Saúde.


Os Mbyá Guarani compreendem a pessoa como constituída por vários aspectos da alma, que interagem com o corpo físico e espiritual:


Aña – Espírito ou energia negativa que pode invadir o corpo e causar doenças. Deve ser expulso por meio de rituais de cura.


Angá – Alma individual, que pode se desprender durante o sonho ou doença. Se não retorna, pode levar à morte.


Ñe'ẽ – Palavra-alma, força vital presente na fala sagrada. Manifesta a essência do ser.


Akã – Cabeça como centro da percepção espiritual e emocional.


Pytũ – Energia vital da noite, associada ao equilíbrio dos ciclos.


Saúde e cura:


A saúde é equilíbrio espiritual. A doença surge da quebra de harmonia entre corpo, alma e ambiente.


A cura é conduzida pelo xamã (oporaíva) com cantos, ervas, fumaça ritual, jejuns e banhos.


Ambientes Culturais e o Paraíso Terrestre Guarani  


Os Guarani Mbyá e Chiripá acreditam que o mundo foi criado com base em um projeto ideal (yvy marã e’ỹ) – a Terra sem mal, onde não há dor nem morte.


Ambientes culturais:


Aldeia (tekoha) – Espaço sagrado e comunitário. Centro da vida coletiva e espiritual.


Opy – Casa de reza ou templo, onde o xamã lidera cantos e rituais. É o elo com o plano divino.


Floresta (ka’aguy) – Lugar da sabedoria e morada de espíritos. Fonte de alimento, medicina e ensinamento espiritual.


Yvy marã e’ỹ – Paraíso terrestre, onde os justos viverão em plenitude. A caminhada espiritual dos Guarani visa reencontrar esse lugar por meio da prática do bem, da música sagrada e da palavra justa.


Considerações Finais


A trajetória histórica e espiritual dos Guarani revela uma civilização profundamente conectada com as forças do cosmos e da natureza. Desde suas origens nas florestas da Amazônia até sua expansão por territórios ao sul do continente, os Guarani mantiveram uma cosmovisão que valoriza a palavra sagrada, os cantos rituais e o equilíbrio entre o corpo, a alma e o mundo invisível.


A estrutura celeste dos Guarani Chiripá, com seus múltiplos céus e entidades hierárquicas, revela uma sofisticada compreensão do universo espiritual. Da mesma forma, a corporalidade dos Guarani Mbyá, com suas concepções de alma, saúde e cura, expressa uma forma de medicina espiritual que integra o indivíduo à comunidade e à terra. Os ambientes culturais, como a aldeia, a floresta e a casa de reza, simbolizam espaços sagrados onde se busca viver o bem e reencontrar a Terra sem mal – um ideal que ultrapassa a noção de paraíso e se manifesta como um caminho ético, espiritual e coletivo.


Com isso, entende-se que a sabedoria Guarani, longe de pertencer apenas ao passado, representa um legado de profundo valor simbólico, ético e ecológico para o presente.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS (ABNT)



CADOGAN, León. Ayvu Rapyta: textos míticos, religiosos y legendarios de los Mbyá-Guaraní del Guairá. Asunción: Biblioteca Paraguaya de Antropología, 1959.


MELIÁ, Bartomeu. El guaraní conquistado y reducido. Asunción: CEPAG, 1986.


LOPES DA SILVA, Aracy; GRUPIONI, Luís D. M. Povos indígenas no Brasil. São Paulo: Instituto Socioambiental, 2000.


MORIN, Roberto. Cosmovisão Guarani: A Terra Sem Mal. São Paulo: Paulinas, 2002.


PIERRI, Daniel Calazans. O perecível e o imperecível: lógica do sensível e corporalidade no pensamento guarani-mbyá. São Paulo, 2013.


SCHADEN, Egon. Aspectos Fundamentais da Cultura Guarani. São Paulo: EDUSP, 1974.


SILVEIRA, Tereza Cristina . Mbya retxãi Opy tekoaxy mongy'a oa .A manutenção da saúde Guarani-Mbya na Casa de Reza. São Carlos 2011.




Autor: Nhenety KX



Utilizando a ferramenta Gemini ( Google ), inteligência artificial para análise da temática e Consultado por meio da ferramenta ChatGPT (OpenAI), inteligência artificial como apoio para elaboração do trabalho, em 12 de abril de 2025 e a capa do artigo no dia 8 de maio de 2025.




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