segunda-feira, 14 de abril de 2025

AS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS DA CAPITANIA DE PERNAMBUCO SÉCULO XVI





As Manifestações Culturais e Religiosas Trazidas pelos Portugueses para a Capitania de Pernambuco no Século XVI



Introdução



A formação cultural da Capitania de Pernambuco, desde o século XVI, resultou de um processo de enraizamento e adaptação de elementos europeus, indígenas e, posteriormente, africanos. Entre os vetores mais marcantes dessa formação estão as manifestações culturais e religiosas trazidas pelos colonizadores portugueses. Esses elementos não chegaram ao Brasil como meras expressões festivas, mas carregavam consigo significados profundos ligados à fé, ao poder, à ordem social e à identidade coletiva. Ao analisarmos as expressões como o Reisado, o Pastoril, a Chegança, o Carnaval e as festas do calendário cristão, é possível perceber o modo como os portugueses utilizaram suas tradições para estabelecer vínculos sociais e espirituais em uma terra ainda desconhecida e hostil. Este trabalho busca apresentar, em ordem cronológica e descritiva, a chegada e a inserção dessas manifestações culturais na Capitania de Pernambuco durante o século XVI, destacando suas origens, transformações e impactos.


Desenvolvimento Cronológico e Descritivo


1. Implantação do Cristianismo e das Festas Religiosas (1535 em diante)


Com a instalação da Capitania de Pernambuco em 1535, sob o comando de Duarte Coelho, os portugueses iniciaram o processo de evangelização dos povos indígenas. Nesse contexto, a Igreja Católica teve papel central, introduzindo o calendário litúrgico europeu, com destaque para festas como o Natal, a Semana Santa, o Corpus Christi e as Festas Juninas (São João, Santo Antônio e São Pedro). Tais festas, além de rituais religiosos, incorporavam cortejos, danças e encenações, utilizadas como instrumentos de catequese.


2. O Reisado e os Autos Natalinos


O Reisado, ou Festa de Reis, foi introduzido como uma representação popular da visita dos Reis Magos ao menino Jesus. Com raízes na Península Ibérica, essa manifestação chegou ao Brasil já no século XVI e se espalhou pelos engenhos e vilas, especialmente na zona rural. Consistia em grupos de brincantes com trajes coloridos, que percorriam as casas cantando loas e versos religiosos, muitas vezes acompanhados de instrumentos como rabecas e pandeiros. Tais práticas associavam-se aos autos natalinos, dramatizações da natividade cristã que, no contexto colonial, ganhavam forte caráter comunitário.


3. Chegança de Mouros e o Teatro Popular de Guerra Santa


Inspiradas nas batalhas medievais entre cristãos e muçulmanos, as Cheganças dramatizavam o embate entre dois mundos. No século XVI, essa prática foi trazida pelos colonos portugueses como parte da tradição de encenações religiosas e militares, conectadas à ideia da Reconquista. Na Capitania de Pernambuco, a Chegança de Mouros era representada por grupos de marinheiros, capitães e soldados, simulando combates, conversões e vitórias da fé cristã. Tais encenações tinham função pedagógica e moralizante, reforçando o ideal de combate ao "infiel" e afirmando a supremacia do catolicismo.


4. O Pastoril e a Simbologia Mariana


Outra manifestação trazida por influência ibérica foi o Pastoril, surgido inicialmente como parte das festas natalinas e dedicado ao culto à Virgem Maria. No Brasil colonial, o Pastoril tornou-se um auto popular onde pastoras se dividiam em dois cordões – azul e encarnado – representando o bem e o mal. Acompanhadas por música e dança, as personagens travavam um embate simbólico em torno da devoção mariana. Em Pernambuco, essa prática já se difundia no final do século XVI, especialmente em localidades ligadas à presença franciscana.


5. Carnaval: Entre a Folia Profana e o Controle Social


Embora o Carnaval como o conhecemos hoje tenha se desenvolvido ao longo dos séculos posteriores, suas raízes estão no período colonial. Os portugueses trouxeram práticas do Entrudo, festa popular de origem medieval caracterizada por brincadeiras com água, farinha e gestos irreverentes. Já no século XVI, o Entrudo era praticado em Recife e Olinda, sendo combatido pelas autoridades coloniais e eclesiásticas por seu caráter desordeiro. Ainda assim, ele sobreviveu como expressão da cultura popular e mais tarde deu origem ao Carnaval pernambucano.


Considerações Finais


As manifestações culturais e religiosas introduzidas na Capitania de Pernambuco no século XVI revelam não apenas a presença europeia no território, mas também os mecanismos pelos quais se construiu uma identidade cultural local, forjada pela convivência entre diferentes tradições. Os colonizadores portugueses, ao implantarem suas crenças, práticas festivas e representações simbólicas, utilizaram-se dessas expressões como instrumentos de catequese, dominação e pertencimento. A análise do Reisado, da Chegança de Mouros, do Pastoril, do Carnaval e das festas cristãs demonstra como essas manifestações, enraizadas na cultura europeia medieval e renascentista, foram ressignificadas no contexto colonial, adaptando-se à nova realidade social e geográfica do Brasil.


É possível observar, ao longo do século XVI, a consolidação de um conjunto de práticas que contribuíram para a formação de um imaginário coletivo na Capitania de Pernambuco. Através da festividade, da teatralidade e da musicalidade, esses elementos culturais também se tornaram espaços de resistência, de diálogo e, futuramente, de sincretismo entre as matrizes europeia, indígena e africana. Por isso, compreender essas expressões culturais não significa apenas analisar suas origens, mas sobretudo reconhecer seu papel fundamental na formação do patrimônio imaterial brasileiro.


Dessa forma, o presente estudo reforça a importância da preservação e valorização das manifestações culturais tradicionais como parte essencial da memória histórica nacional. O conhecimento sobre tais práticas não só enriquece a compreensão do passado colonial, mas também ilumina a permanência e a relevância dessas expressões no presente, reafirmando sua legitimidade como herança viva do povo pernambucano e brasileiro.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 



CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. Rio de Janeiro: Edições Melhoramentos, 1972.


FREYRE, Gilberto. Casa-Grande & Senzala. São Paulo: Global Editora, 2003.


HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.


LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. Tomo I. Lisboa: Livraria Portugália, 1938.


MELLO, José Antônio Gonsalves de. Tempo dos Flamengos: influência da ocupação holandesa na vida e na cultura do norte do Brasil. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1979.


OLIVEIRA, Edison Carneiro de. Folguedos Tradicionais. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.


SOUZA, Laura de Mello e. O Diabo e a Terra de Santa Cruz. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.



Autor: Nhenety KX



Utilizando a ferramenta Gemini ( Google ), inteligência artificial para análise da temática e Consultado por meio da ferramenta ChatGPT (OpenAI), inteligência artificial como apoio para elaboração do trabalho, em 14 de abril de 2025 e a capa do artigo dia 2 de maio de 2025.






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