segunda-feira, 14 de abril de 2025

AS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS DA CAPITANIA DE PERNAMBUCO SÉCULO XVII






Manifestações Culturais e Religiosas na Capitania de Pernambuco no Século XVII: Resistências, Conflitos e Permanências



Introdução



O século XVII foi um período marcado por intensas transformações na Capitania de Pernambuco, com destaque para a consolidação do sistema agroexportador baseado na monocultura da cana-de-açúcar, o avanço das frentes de colonização rumo ao interior, e a eclosão de conflitos como a Insurreição Pernambucana (1645–1654). Nesse contexto, as manifestações culturais e religiosas continuaram a desempenhar papel fundamental na construção de identidades coletivas, no reforço das hierarquias coloniais e na resistência de grupos subalternizados, como indígenas e africanos. Além das tradições trazidas por portugueses no século anterior, o século XVII assistiu à incorporação de novos elementos culturais africanos, ao fortalecimento das irmandades religiosas e à adaptação das festividades ao cotidiano das fazendas de gado, vilas e engenhos. Este trabalho propõe uma abordagem cronológica e descritiva dessas manifestações, destacando seus significados sociais e simbólicos.


Desenvolvimento Cronológico e Descritivo


1. Avanço para o Sertão e as Missões Religiosas


Durante o século XVII, houve um forte impulso nas entradas e bandeiras, movimentos que penetravam o interior do território em busca de riquezas, terras e mão de obra indígena. A ocupação do sertão pernambucano exigiu a presença de missões religiosas, especialmente franciscanas, que buscavam catequizar os povos indígenas, como os Cariris e os Xocós. Nessas missões, além da doutrinação cristã, foram implantadas festas religiosas adaptadas à realidade local, como o Dia de Todos os Santos, o São João Batista e o Senhor dos Passos, com destaque para procissões, danças e autos religiosos. Essa evangelização forçada contribuiu para o sincretismo e para a reelaboração simbólica das crenças nativas.


2. A Expansão das Irmandades Leigas


Com a urbanização crescente em núcleos como Olinda, Recife e Goiana, o século XVII viu o fortalecimento das irmandades religiosas, sobretudo entre os negros e mestiços. Organizadas em torno de santos padroeiros, como Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, essas irmandades promoviam festas, procissões, missas cantadas e novenas, tornando-se espaços de afirmação cultural e solidariedade entre os grupos excluídos da elite colonial. As festas do Rosário e de São Benedito incorporavam elementos de origem africana, como cânticos, percussões e coreografias circulares, mesmo sob a vigilância do clero.


3. Festas nas Fazendas de Gado e o Culto a Santo Antônio


Com a expansão da pecuária para o sertão, surgiram as fazendas de gado, núcleos de cultura e religiosidade próprios. Nessas regiões, longe dos centros urbanos, o culto a Santo Antônio – padroeiro dos vaqueiros e casamenteiro – ganhou força, dando origem a festividades ligadas ao ciclo junino. As celebrações envolviam rezas, quadrilhas rústicas, queima de fogueiras, danças e comidas típicas, integrando a devoção com o cotidiano sertanejo. A religiosidade sertaneja assumia um tom mais popular, com forte presença de elementos orais e simbólicos herdados da tradição lusitana medieval.


4. A Insurreição Pernambucana e a Cultura da Resistência


Durante o período da ocupação holandesa (1630–1654), a Capitania viveu tensões culturais e religiosas. Enquanto os calvinistas neerlandeses tentavam implantar certa tolerância religiosa, a população luso-brasileira e o clero católico reagiram com firmeza. A Insurreição Pernambucana, além de movimento político e militar, teve caráter religioso, pois envolvia a defesa da fé católica contra os “hereges protestantes”. Os líderes insurretos utilizavam símbolos religiosos em seus estandartes, missas de campanha e promessas aos santos. Após a expulsão dos holandeses, festas religiosas como o Corpus Christi e o São José passaram a incorporar narrativas patrióticas.


5. Cheganças, Cavalhadas e a Guerra Simbólica


A partir da segunda metade do século XVII, formas de teatro popular como as Cavalhadas – encenações das lutas entre mouros e cristãos – e as Cheganças passaram a se espalhar pelo interior de Pernambuco. Estas manifestações reforçavam valores cristãos e a história das conquistas ibéricas, ao mesmo tempo que incorporavam elementos locais e africanos. As danças guerreiras, as fardas, os instrumentos musicais e os personagens caricatos criavam um espetáculo sincrético que celebrava a fé e o passado colonial.


Considerações Finais


O século XVII na Capitania de Pernambuco foi marcado por conflitos e adaptações que moldaram profundamente o imaginário cultural do povo nordestino. As manifestações religiosas e culturais desse período foram instrumentos de dominação, resistência e também de reinvenção das identidades. As missões, as irmandades, as festas juninas e os autos populares constituíram espaços de negociação simbólica entre colonizadores, indígenas e africanos.


Enquanto o catolicismo se consolidava como religião oficial, práticas oriundas de tradições africanas e indígenas encontravam brechas nas festas populares para se manifestar, criando um mosaico cultural híbrido e resistente. As festas dos santos, as procissões e os autos teatrais não eram apenas formas de expressão espiritual, mas também estratégias de sobrevivência e pertencimento diante de um mundo desigual e violento.


Preservar a memória dessas manifestações é essencial para compreender as raízes profundas da cultura nordestina, especialmente em Pernambuco. A riqueza simbólica, musical, ritualística e social herdada do século XVII ainda ressoa nas expressões culturais contemporâneas, tornando-se uma ponte entre passado e presente.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 



ARAÚJO, Ubiratan. Festas e tradições populares do Brasil. São Paulo: Moderna, 1991.


CASCUDO, Luís da Câmara. Antologia do Folclore Brasileiro. São Paulo: Global, 2000.


CHANDLER, Billy Jaynes. A Guerra dos Mascates. São Paulo: Paz e Terra, 1970.


FREYRE, Gilberto. Nordeste: aspectos da influência da cana sobre a vida e a paisagem do nordeste do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1960.


LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. Tomo II. Lisboa: Livraria Portugália, 1943.


MATTOSO, Kátia M. de Queirós. Ser escravo no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1982.


SOUZA, Laura de Mello e. Desclassificados do Ouro: a pobreza mineira no século XVIII. Rio de Janeiro: Graal, 1982.



Autor: Nhenety KX



Utilizando a ferramenta Gemini ( Google ), inteligência artificial para análise da temática e Consultado por meio da ferramenta ChatGPT (OpenAI), inteligência artificial como apoio para elaboração do trabalho, em 14 de abril de 2025 e a capa do artigo dia 2 de maio de 2025.






Nenhum comentário: