Uma fábula de sabedoria ancestral por Nhenety Kariri-Xocó
Era uma vez, no tempo do mundo antigo chamado "antse", uma nuvem muito sábia chamada Arankedzó. Ela não era uma nuvem qualquer. Desde que nascia no ventre do mar aindemodzu, carregava a missão sagrada de avisar os seres da Terra radda que a chuva tidzo estava a caminho.
Quando Arankedzó crescia e ficava escura, cobria o brilho do sol com seu manto. Esse era seu sinal: ela dizia aos tsohó (os homens), aos keríá (os animais) e às ubumaná (as plantas):
— Preparem-se! A chuva vem chegando...
As içá, pequenas formigas sábias, entendiam o recado e começavam a carregar folhas apressadas para o formigueiro.
Os cururu, sapos encantadores, soltavam seu canto ancestral "wonhé" como um coral anunciando a mudança.
O vento soprava frio cunhí, e o céu chorava gotas que caíam como bênçãos sobre a Terra.
As ubumaná despertavam, pintando tudo de verde. Os rios transbordavam de alegria. E na natiá, a aldeia viva, as roças floresciam.
Ali brotava o alimento sagrado, o amí, sustento do corpo e do espírito do povo.
E assim, sempre que Arankedzó aparecia, todos os seres sabiam: ela não vinha para assustar, mas para avisar e renovar a vida.
Moral da fábula:
A natureza fala, avisa e ensina. Só ouve quem caminha com o coração ligado à Terra.
🌧️ VERSÃO EM CORDEL:
ARANKEDZÓ KENDÉ UIÁ – A Nuvem que Avisava os Seres
Em Cordel por Nhenety Kariri-Xocó
No tempo da natureza,
Chamado de antse,
No céu na ligeira beleza
Uma nuvem com valesse.
Era Arankedzó, a sabia,
O poder que aparecesse.
Nascida do mar sagrado,
Chamado aindemodzu,
Subia pro alto espaço,
Com seu ventre tão azul.
Crescia, ficava escura,
E dava seu aviso útil.
Quando a luz do sol sumia
Por trás da nuvem fechada,
Era sinal pra todo mundo
Que vinha chuva esperada.
Ela avisava os tsohó,
Gente firme e enraizada.
Avisava os keríá,
Animais da criação.
Avisava ubumaná,
As plantas do chão.
Com respeito e com ternura,
Trazia sua missão.
As formigas içá ligeiras
Corriam com precisão,
Levando folhas pra casa,
Fazendo sua estação.
Sabiam que era chegada
A hora da proteção.
Os sapos cururu cantavam
Seu canto wonhé bonito,
Chamando toda floresta
Pro novo tempo bendito.
O vento soprava cunhí,
Fazendo o frio infinito.
Logo a chuva tidzo descia
Molhando a terra radda,
E a vida toda sorria
Com a força que ela traz.
As plantas viravam verde,
Brilhando feito o gás.
Os rios ficavam cheios,
Correndo com emoção,
E na aldeia natiá
Brotava do chão o pão:
Era o amí, alimento,
Do povo e da tradição.
A nuvem não era perigo,
Era mãe com seu cuidado.
Trazia vida e fartura
Com seu manto acinzentado.
Quem sabia escutar a Terra
Tinha o saber revelado.
✨ Moral do Cordel:
Escute os sinais da vida,
Que vêm da natureza-mãe.
Quem entende seu idioma
Não se perde, não se vai.
Arankedzó nos ensina:
A Terra fala — ouça, pai!
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
Nenhum comentário:
Postar um comentário