Era tempo de festa na casa do Porco-do-mato, o velho Murawó, que convidou todos os animais kerí da floresta. Mas havia uma regra: apenas um representante de cada família poderia entrar.
A mãe do Macaco Kukõj foi escolhida para representar sua família. Kukõj, então, teve que ficar do lado de fora, cercado pelas palhas e troncos que delimitavam o espaço da festa. Sentiu-se excluído, ficou com raiva. Do alto de um krow, o coqueiro da clareira, Kukõj observava os risos, as danças e a alegria.
Tomado pela inveja e pela mágoa, colheu um fruto de coco e o lançou no meio da multidão. O impacto foi grande: o alvoroço se espalhou, os tambores silenciaram e a festa terminou de repente. Todos correram.
No caminho de volta, a Ema Bruan, que fora das primeiras a sair, encontrou o pequeno Kukõj entre as árvores. O macaco, curioso, perguntou:
— Ora, Bruan, já terminou a festa?
— Sim — respondeu a Ema com tristeza. — Jogaram um coco em meio ao povo, e, veja só... a sua própria mãe foi atingida, Kukõj.
O macaquinho paralisou. Baixou os olhos, sentiu o peso da culpa. O mal que ele lançara ao mundo retornara a ele mesmo, ferindo quem mais amava.
Tempos depois, sua mãe se recuperou. Kukõj aprendeu, com dor, uma lição importante:
Quem semeia o mal colhe a tristeza. E muitas vezes, a pedra lançada ao outro retorna para o próprio peito.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
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