Numa floresta antiga chamada Retsé, onde os ventos sussurram os segredos dos bichos, havia trilhas entrelaçadas feitas pelos passos dos animais, os keríá.
Certa manhã dourada, Kaplan, o jabuti de casco firme e olhar sereno, caminhava lentamente pela trilha comprida. Seu corpo avançava com calma, como quem ouve a terra antes de cada passo.
De repente, Buké, o veado ligeiro como relâmpago, surgiu entre os arbustos com saltos velozes. Ao ver Kaplan, zombou com risos saltitantes:
— Ora, Kaplan! Para onde vais com tanta pressa? Não tens patas que voam como as minhas!
Kaplan ergueu os olhos, sem raiva nem espanto, e respondeu com doçura:
— Vou devagar, mas sei onde quero chegar.
Buké deu uma gargalhada e saiu em disparada, feliz por mostrar sua velocidade. Mas logo adiante, seus cascos tropeçaram numa raiz oculta, e ele caiu, ferido e sem forças para continuar.
Enquanto isso, Kaplan continuava em seu ritmo, passo após passo, até alcançar sua morada sob a velha jabuticabeira. Lá, colheu os frutos doces e se alimentou com alegria.
E assim, o lento chegou antes do veloz.
Desde então, os anciões da floresta ensinam:
"Nunca zombes da forma de caminhar de alguém, pois cada um tem seu jeito de chegar ao destino."
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
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