sexta-feira, 25 de julho de 2025

KERUÁ AINDHÊ RETSÉ, A Fábula dos Animais que Plantaram a Floresta






Numa época em que a floresta ainda se vestia de silêncio e sonho, os Keruá, os animais da mata, reuniram-se com uma missão invisível aos olhos dos humanos: plantar o verde do mundo.


Gongá, o sabiá cantor, pousou num galho e, entre um canto e outro, avistou Kukryt, a anta jardineira, saboreando frutas maduras perto do rio.

— Olá, dona Anta! — disse o sabiá com alegria — O que comes por aí, tão feliz?


A anta olhou com olhos serenos e respondeu:

— Frutas doces, irmão sabiá. Mas o mais importante é o que deixo depois: as sementes que irão brotar em novas árvores.


Gongá sorriu, balançando as penas:

— Ah, então és também jardineira da floresta! Eu, que voo e canto, também como frutas. Talvez eu também seja semeador...


Nesse momento, chegou Kukên, a esperta cutia, com um fruto de Sapucaia, chamado Prõti.

— Olá, companheiros! — disse ela — Vim enterrar as sementes que não comi. Algumas dormem debaixo da terra até acordarem com as chuvas.


Kukryt e Gongá se entreolharam.

— Então todos nós somos plantadores?


— Sim, irmãos — disse Kukên — Cada um cuida de uma parte: uns espalham voando, outros enterram, outros deixam cair pelo caminho. A floresta cresce com nossos passos, voos e mastigadas.


Naquela roda viva de saber, os animais entenderam que a floresta só é floresta porque eles existem. São os jardineiros invisíveis, os semeadores silenciosos, os verdadeiros guardadores do verde.


Por isso, proteger os animais é proteger a própria floresta. Cuidar da mata é dar segurança às nascentes dos rios e a todos os seres que nela vivem.


E assim, a cada lua nova, novos frutos nasciam, e com eles, novas sementes, novos brotos, novas vidas.




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 




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