Numa época em que a floresta ainda se vestia de silêncio e sonho, os Keruá, os animais da mata, reuniram-se com uma missão invisível aos olhos dos humanos: plantar o verde do mundo.
Gongá, o sabiá cantor, pousou num galho e, entre um canto e outro, avistou Kukryt, a anta jardineira, saboreando frutas maduras perto do rio.
— Olá, dona Anta! — disse o sabiá com alegria — O que comes por aí, tão feliz?
A anta olhou com olhos serenos e respondeu:
— Frutas doces, irmão sabiá. Mas o mais importante é o que deixo depois: as sementes que irão brotar em novas árvores.
Gongá sorriu, balançando as penas:
— Ah, então és também jardineira da floresta! Eu, que voo e canto, também como frutas. Talvez eu também seja semeador...
Nesse momento, chegou Kukên, a esperta cutia, com um fruto de Sapucaia, chamado Prõti.
— Olá, companheiros! — disse ela — Vim enterrar as sementes que não comi. Algumas dormem debaixo da terra até acordarem com as chuvas.
Kukryt e Gongá se entreolharam.
— Então todos nós somos plantadores?
— Sim, irmãos — disse Kukên — Cada um cuida de uma parte: uns espalham voando, outros enterram, outros deixam cair pelo caminho. A floresta cresce com nossos passos, voos e mastigadas.
Naquela roda viva de saber, os animais entenderam que a floresta só é floresta porque eles existem. São os jardineiros invisíveis, os semeadores silenciosos, os verdadeiros guardadores do verde.
Por isso, proteger os animais é proteger a própria floresta. Cuidar da mata é dar segurança às nascentes dos rios e a todos os seres que nela vivem.
E assim, a cada lua nova, novos frutos nasciam, e com eles, novas sementes, novos brotos, novas vidas.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
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