Uma Fábula do Pássaro Anũ
Era uma vez, na floresta chamada Retsé, um lugar sagrado onde tudo tinha espírito e som, onde os animais — os Keruá — viviam atentos ao menor estalo, ao mais leve cheiro e ao sussurro do vento.
Entre tantos seres da mata, havia uma ave especial, negra como o céu antes do trovão: o Ieende-Iró-Kendé, o pássaro-preto-avisador, que todos chamavam apenas de Anũ. Ele não era o mais forte, nem o mais veloz. Mas tinha algo que o tornava valioso: seu grito de alerta.
Sempre que um predador rondava, tentando capturar os mais frágeis, o Anũ subia ao topo das árvores e soltava um canto sofrido, quase chorado, como se dissesse:
— "Ein-hé... o perigo está vindo!"
Esse aviso ecoava pelos galhos, pelos campos Merá, pelas margens das águas Dzu, e todos os animais corriam para se esconder. Não importava se era tatu, cutia, veado ou passarinho: todos confiavam no Anũ.
Por isso, os animais começaram a viver mais próximos dele. Onde o Anũ pousava, ali era lugar seguro. Ele se tornara o guardião invisível da floresta, o olho que vê antes, o ouvido que escuta longe.
Diziam os mais velhos que também existia o Anũ-branco, que fazia o mesmo grito de alarme. Ambos, preto e branco, carregavam a missão de proteger os que não sabiam lutar.
Assim, todos na floresta aprenderam uma lição valiosa:
A força nem sempre está nas garras ou nos dentes. Às vezes, ela vive no aviso, na união e na escuta.
E quem ouve o pássaro avisador, vive mais um dia.
Moral da fábula:
Na floresta da vida, quem escuta os avisos e anda com os sábios, escapa dos perigos mais sombrios.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
Nenhum comentário:
Postar um comentário