Em tempos antigos, quando o céu ainda cantava com as vozes dos ventos e as florestas dançavam sob os passos dos espíritos da natureza, existia uma mata sagrada chamada Retsé Aindzu — a Floresta da Alma do Mundo. Era ali que a Mãe Natureza, a anciã Antsé, guardava seus maiores segredos: nascentes cristalinas, árvores sábias chamadas Sutuá, peixes dourados Wãmyá, plantas curadoras e uma multidão de animais, os Keríá, que cantavam a harmonia do planeta.
Mas com o tempo, chegaram homens de fala estranha e mãos impacientes. Eram os colonizadores, que com seus machados, destruíram grande parte da floresta. O choro das árvores subiu aos céus e os ninhos se calaram.
Foi então que o Papagaio Sábio, chamado Krêre, reuniu os pássaros mensageiros — as araras flamejantes, o gavião da justiça, o sabiá da memória e o beija-flor da esperança. Eles voaram em grande nuvem até Brasília, a aldeia dos homens-governo. O céu se encheu de asas e cores. Todos pararam para olhar.
Krêre desceu sobre a praça principal e, junto aos seus irmãos Ieendeá, cantou a canção da floresta ferida. Seu canto dizia:
“Se a mata morrer, os rios secarão, os ventos adoecerão, e nenhum ser — nem bicho, nem gente — poderá viver em paz.”
A comoção foi tamanha que os ouvidos dos homens finalmente se abriram. Eles escreveram leis e criaram os Retseantoá, os Santuários da Floresta, onde a vida voltaria a florescer.
Os pássaros retornaram em voo cerimonial à Retsé Aindzu. Lá, os Keríá dançaram, os Sutuá balançaram suas copas em saudação, os Wãmyá saltaram nas águas e toda a floresta celebrou com alegria.
E desde aquele dia, todo ser da mata lembra que até os menores podem proteger o todo, quando voam juntos por um bem maior.
Moral da fábula:
Mesmo as menores vozes podem mudar o mundo quando cantam juntas pela vida da Terra.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
Nenhum comentário:
Postar um comentário