A Fábula das Aves Gigantes
Nos tempos em que o vento ainda dançava entre as árvores do Opará e as estrelas ouviam as histórias da Terra, reinava na Caatinga uma ave de longas pernas e olhar atento: era Bruan, a Ema, guardiã dos caminhos secos e dos segredos do Sertão.
Bruan caminhava sozinha entre cactos e mandacarus, sempre atenta ao farfalhar do mundo. Certo dia, ao dobrar um caminho de pedras quentes, deparou-se com uma criatura alta, de pescoço longo e olhos saudosos. Nunca havia visto tal ave.
— Quem és tu, que tens o pescoço como vara de ingazeira e és ainda mais alta que eu? — perguntou Bruan, surpresa.
A grande ave respondeu com voz serena:
— Sou chamada de Ieeniemoe, “a ave grande de pescoço comprido”, vinda de uma terra distante, além do mar, chamada África.
Bruan se aproximou com curiosidade e viu que havia tristeza nos olhos da visitante.
— Minha alma pesa — confessou Ieeniemoe — deixei para trás minha terra e minha gente. Aqui tudo me é estranho.
Bruan então abriu suas asas como quem acolhe o vento e disse:
— Irmã Ieeniemoe, não temas. Nossa Caatinga pode parecer árida, mas é cheia de vida e calor. Aqui és bem-vinda. Esta terra é de Raddadé, a Mãe Terra que não rejeita nenhum de seus filhos.
E assim, Bruan e Ieeniemoe caminharam juntas pelos caminhos do Sertão, descobrindo que a Caatinga e a Savana têm mais em comum do que parecem — pois onde há sol, vento e liberdade, também há amizade.
E desde aquele dia, contam os anciãos que se escutarmos com atenção, podemos ouvir o som de duas grandes aves correndo juntas pelos caminhos do mundo.
Moral da fábula:
Mesmo vindos de terras distantes, os que têm bom coração são recebidos como irmãos pelos filhos da Mãe Terra. A amizade não conhece fronteiras — ela voa alto, como as grandes aves livres do mundo.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
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