sábado, 26 de julho de 2025

YMOÁ E A MOÇA DE AREIA







Uma fábula dos tempos do Opará


Há muito tempo, quando as águas do Rio Opará ainda cantavam aos ouvidos de todos os seres, existia um menino chamado Ymoá, filho dos Kariri-Xocó. Ele amava brincar, nadar e pescar nos bancos de areia dourada que o povo chamava de Pykitci, as coroas do rio. Ali, as famílias se reuniam para tomar banho, sorrir e celebrar a vida que brotava da Mãe Terra.


Mas o tempo passou.

As pessoas foram se afastando do rio.

Trocaram o Opará pelas águas presas do banheiro encanado.

O Pykitci ficou vazio. O rio, esquecido.


Um dia, a saudade apertou no peito de uma família indígena.

Pai, mãe e filhos subiram numa ubá, uma canoa leve como folha, e remaram até o antigo Pykitci.

Lá, mergulharam nas águas doces e brincaram como nos tempos antigos.


Enquanto a família se alegrava, Ymoá, o menino curioso, começou a moldar a areia com suas mãos.

Fez dela o contorno de uma moça.

A escultura ficou tão perfeita que parecia viva.

O menino olhou e disse:

— Essa imagem parece que respira... Qual seria o nome dela?


Então, para sua surpresa, a escultura abriu os olhos.

Sorriu.

E falou com voz de vento suave:

— Me chamo Tibuadda, sou a Moça da Areia, filha da Mãe Terra, Raddadé.

Que alegria ver vocês aqui! O Opará está feliz outra vez.


Ymoá sentou-se ao lado dela, e os dois conversaram por longas horas.

A Moça da Areia contou segredos do rio, das estrelas, dos peixes e das árvores.

Disse que o Opará sente tristeza quando é esquecido.

Mas renasce de alegria quando os povos retornam.


Ao entardecer, a família voltou para a Aldeia Natiá, levando no coração a lembrança daquele dia mágico.

E Ymoá nunca mais esqueceu o que aprendeu:


"A natureza é um templo vivo.

Deve ser respeitada, não sujada.

Quem cuida da Mãe Terra, recebe saúde, alegria e sabedoria."


Moral da fábula:

🌿 Quem abandona a natureza, esquece parte de si mesmo.

Mas quem retorna a ela, reencontra a alegria e a ancestralidade. 🌿




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 




Nenhum comentário: