sábado, 26 de julho de 2025

WÃMYHÉ DOICLI, A Soberba da Traíra






Uma Fábula da Soberba da Traíra 


Antigamente, quando as águas do Rio Opará corriam livres e fartas, os peixes — chamados wãmyá — nadavam felizes, brincavam entre as pedras e se reproduziam no leito natural do rio, o antse.


Tudo era equilíbrio e harmonia.


Mas com o tempo, os homens chegaram com suas grandes construções de concreto e ferro. Levantaram barreiras que chamamos maecrótçawo — "cerca de pedra que corta o rio". As águas deixaram de correr livres e muitas lagoas começaram a secar. O sofrimento dos peixes foi grande.


Dentre todos, havia um peixe conhecido por sua mordida e arrogância: a Traíra, a quem chamamos Wãmyhé.


Quando os outros peixes reclamavam da falta de água, Wãmyhé zombava:

— “Ah, vocês são fracos! Isso é só uma poça! Eu vivo bem até na lama!”


Com sua boca cheia de dentes e orgulho, ria do sofrimento alheio.


Mas um tempo depois, a lagoa Dzurió, onde Wãmyhé morava, secou por completo. Sozinha e presa na lama, sem forças, a Traíra gritou por socorro.


Foi então que apareceu Sãmbá, o velho e sábio cágado.


— “Ora, Wãmyhé... onde está toda aquela força? Eu me lembro de você zombando dos outros peixes, chamando-os de fracos... E agora?”


Wãmyhé, envergonhada, baixou os olhos.


Apesar de tudo, Sãmbá, com seu coração bondoso, se penalizou. Cuidadosamente, retirou a Traíra da lama e a carregou de volta para o rio.


Ao sentir a água fresca novamente, Wãmyhé agradeceu:

— “Obrigado, Sãmbá. Se não fosse você, eu não teria sobrevivido.”


O cágado sorriu e respondeu com calma:

— “Por isso, Wãmyhé, nunca zombe da dor dos outros. O mundo gira, e um dia, você pode precisar de quem desprezou.”


Moral da história:

Quem se envaidece da própria força e zomba da fraqueza alheia pode um dia cair — e depender da compaixão de quem humilhou.




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 




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