sábado, 9 de agosto de 2025

BATTI SUTU SACRÍSÃ, A Árvore de Natal Estrelar






Uma Fábula na Noite de Natal 


Era noite de calor manso na aldeia. A lua, redonda como um fruto branco, subia devagar pelo céu. Dentro das casas, as crianças indígenas estavam caladas, olhando para o vazio.

— Mainá… — sussurrou Nayara — será que Papai Noel sabe que nossa aldeia existe?

— Acho que não… — respondeu Mainá, segurando o próprio brinquedo de madeira — aqui nem temos árvore de Natal.


Lá fora, o pombo Tute, que voava de galho em galho, ouviu aquela tristeza. Abriu as asas e partiu. Voou longe, sobre as roças, os riachos, e chegou até a velha árvore sutu. Ela estava seca, sem folhas… mas algo mágico acontecia. No alto, a lua brilhava como a estrela mais luminosa, e cada galho se enfeitava com pontos de luz vindos do céu. O Vespeiro (Plêiades) piscava ao lado de Touro e Aldebarã; o Caminho da Anta (Via Láctea) cruzava a noite; a Cobra Mboi Tatá se estendia entre as estrelas.


Tute bateu as asas e voltou depressa.

— Crianças! — chamou, pousando na porta da oca de Abirã — Venham comigo! Tenho algo para mostrar!

— É comida? — perguntou Namã, com os olhos arregalados.

— Melhor que comida — disse Tute — é presente da própria noite.


As crianças saíram correndo. Quando chegaram à árvore sutu, pararam em silêncio. Nayara foi a primeira a falar:

— É… uma árvore de Natal feita pelo céu!

— Olhem! — apontou Abirã — a Ema (Landutim) corre entre as estrelas! E ali está a Linda Mulher (Joykexo)!

— E o Cruzeiro do Sul! — completou Mainá, com o dedo erguido.


Logo, começaram a rir e pular. Trouxeram frutas, panelinhas, colares de sementes e brinquedos feitos à mão. Colocaram tudo aos pés da árvore. Nayara olhou para Tute e disse:

— Não precisamos de enfeites comprados… o que temos já é bonito.

— E o que é nosso, quando partilhado, vira luz — respondeu o pombo.


Naquela noite, a aldeia cantou, trocou presentes e histórias. E o nome daquela visão mágica passou a ser Batti Sutu Sacrísã, a Árvore de Natal Estrelar.


E até hoje, quem olha para o céu no Natal e vê a lua coroando um galho seco pode ouvir, ao longe, o bater de asas de Tute… lembrando que a verdadeira festa mora no brilho de cada coração que sabe compartilhar.




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 




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