sábado, 9 de agosto de 2025

GUAXINIM DUBOHERÍBA, O Mestre da Sobrevivência






A Fábula do Guaxinim e a Moça 


Na vasta floresta, havia alimento para todos: frutas suculentas, raízes saborosas, rios cheios de peixes e abrigo seguro. Animais e plantas viviam em harmonia, cada qual cumprindo seu papel no ciclo da vida.


Mas um dia, o homem chegou, trazendo consigo a destruição. Árvores tombaram, rios secaram, e muitos animais perderam seu lar. A fome e o perigo espreitavam. Muitos não resistiram... mas havia um que se destacou: o Guaxinim Duboheríba, conhecido pela astúcia e incrível capacidade de adaptação.


Na aldeia, os indígenas guardavam seus alimentos com cuidado: peixe cozido em panelas de barro tampadas, mel em cabaças, frutas sobre as paredes de taipa. Certa noite, na casa de palha e barro chamada “erá”, uma jovem chamada Namara descansava em sua rede.


De repente, ouviu um barulho vindo da cozinha.

— Quem estará mexendo nas coisas a esta hora? — pensou.


Silenciosa, levantou-se e seguiu até lá. Ao acender a pequena lamparina, surpreendeu-se: era Duboheríba, o Guaxinim, saboreando o peixe cozido que estava escondido numa panela de barro, dentro de outro vasilhame, guardado num balaio chamado “bará”.


Namara, intrigada, disse:

— Ah, então é você! Agora acredito que és mesmo um mestre da sobrevivência. Outro animal não teria a inteligência de destampar uma panela assim.


O Guaxinim, limpando o focinho, respondeu:

— Diante da destruição da floresta, aprendi a sobreviver cobrando uma “taxa” de alimentos pelos impactos ambientais.


Namara caiu na gargalhada:

— Pode ir embora, Duboheríba. Sua taxa já está paga. Mas lembre-se: foram os Caraí — os brancos — que destruíram as florestas. Nós, indígenas, não!


E o Guaxinim partiu, com o olhar esperto e o estômago cheio, deixando para trás a lição de que, mesmo nas maiores dificuldades, a inteligência é a chave para sobreviver.


Moral: Quando a natureza é ferida, até os mais astutos precisam mudar para sobreviver. Mas nunca esqueça quem realmente causou o dano.




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 




VERSÃO EM CORDEL: GUAXINIM DUBOHERÍBA, O Mestre da Sobrevivência


Na floresta abençoada

Tinha fruto e tinha pão,

Peixe farto na água clara

E abrigo em cada chão.

Mas um dia o homem veio

E espalhou a destruição.


Árvore velha tombada,

Rio seco, chão sem cor,

Bicho indo embora triste

Pra fugir do caçador.

Mas um Guaxinim valente

Mostrou ser bom lutador.


Chamava-se Duboheríba,

Astuto como ninguém,

Não tinha medo da noite

Nem do passo que vem.

Se havia comida guardada,

Ele abria também.


Na aldeia dos parentes

O costume era guardar

Peixe cozido na panela

E fruta pra se salvar,

O mel na cabaça doce

E tudo no alto, no ar.


Numa noite bem serena

Namara ouviu barulho,

Levantou da rede leve

Pisando sem fazer arrulho,

E viu o mestre ladino

No meio do seu embrulho.


O bicho roía contente

O peixe da refeição,

Abrira tampa de barro

Com extrema precisão.

Namara então lhe falou:

— Tu és mestre, meu irmão!


E o Guaxinim respondeu

Lambendo o beiço devagar:

— Cobro taxa de comida

Pra poder me alimentar.

Foi o homem que estragou

O meu lar, o meu lugar.


Namara caiu na risada

E logo lhe advertiu:

— Vai embora, Duboheríba,

Teu imposto já sumiu!

Mas saiba que foi o branco

Quem a mata destruiu!


E o bicho partiu ligeiro

Com o olhar de vencedor,

Levando no peito a prova

Do que é ser sobrevivente,

Mostrando que a inteligência

Vale mais que o simples vigor.


Moral: Quando a vida aperta, a astúcia abre caminho, mas nunca esqueça quem destruiu o ninho.




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 




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