A Fábula das Abelhas Nativas e Estrangeira
Na antiga floresta “Retsé” dos Kariri e “Tekohá” dos Tupi-Guarani — tão cheia de frutos, caças e segredos — viviam felizes as abelhas nativas sem ferrão. Eram a Jandaíra, a doce “abelha do mel”; a Uruçu, a “grande abelha” que zumbia forte; a Tiúba, a “abelha amarela” de voo dourado; a Mandaçaia, a “vigia bonita”; a Manduri, a do “campo largo”; e a pequena Jataí, “água de fruto duro”.
Todas eram chamadas de Catti pelos Kariri, e juntas trabalhavam incansáveis, enchendo de vida a floresta. Seu mel alimentava não só os povos, mas também o Guaxinim guloso e o paciente Tamanduá-mirim, que sabiam onde encontrar os melhores favos.
Mas um dia, muito tempo depois, chegaram à terra abelhas que não eram dali. Chamavam-se Eíraetémaîu, a “abelha estrangeira brava”. Vieram trazidas pelos homens para aumentar a produção de mel. Porém, sem querer, alguns enxames escaparam. Cruzaram-se com outras abelhas vindas da Europa e se tornaram ainda mais velozes e fortes.
Logo, as Eíraetémaîu tomaram campos e florestas, expulsando as pequenas Catti de seus ninhos e disputando as flores com fúria. O Guaxinim, que já não achava mel doce como antes, reclamou ao Tamanduá-mirim, que também passava fome. Os dois foram chamar os outros animais da mata para buscar uma solução.
— Se não cuidarmos das Catti, perderemos o mel e as flores! — disse o Tamanduá-mirim.
Os animais se reuniram e decidiram que os humanos que amavam a terra fariam criadouros para proteger as abelhas nativas. Assim, poderiam continuar ajudando as flores a nascer e alimentando a todos. E, para que a lição não fosse esquecida, o velho Sábia sentenciou:
“Quando um ser de fora chegar, primeiro observe se ele vem para somar ou para tomar. A floresta vive em equilíbrio, e quem a quebra, quebra a vida.”
Moral da história:
Não se deve introduzir espécies de outros lugares sem conhecer o impacto que causarão. O que parece ajudar, pode destruir.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
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