A Fábula da Árvore dos Urubus
Certa manhã, a jovem indígena Anawá caminhava pela trilha que levava à sua roça. O sol ainda nascia, e o vento trazia o cheiro da terra molhada. No caminho, avistou uma velha árvore de cajá, sem folhas, de galhos secos, que mais parecia estar morta.
— Pobre árvore… — pensou Anawá — talvez tenha perdido a força.
Trabalhou o dia inteiro, até que o sol começou a cair no horizonte. Ao voltar, reparou que a árvore estava completamente negra. Assustada, murmurou:
— Meu Deus… o que será aquilo?
Aproximando-se, viu que não era sombra nem feitiço: eram Xõná, os urubus, empoleirados em cada galho, imóveis, como sentinelas sombrias. O coração de Anawá apertou.
— Será um aviso? Algo ruim vai acontecer? — perguntou a si mesma.
Com medo, decidiu seguir para casa.
Na manhã seguinte, voltou ao mesmo caminho. A árvore estava vazia, sem urubus. Agora, com coragem, Anawá foi investigar o que havia ali por perto. E então encontrou a verdade: os Karaí, homens brancos, haviam despejado caminhões de lixo na terra indígena, envenenando a natureza antse.
Anawá correu para avisar os parentes. Juntos, denunciaram o crime às autoridades. Os culpados foram punidos com multas, para que aprendessem a respeitar a terra e aqueles que dela cuidam.
Desde então, quando um indígena vê muitos Xõná pousados em silêncio sobre uma árvore, lembra do dia em que a natureza pediu ajuda.
Moral: A natureza fala — mas só ouve quem caminha atento e com respeito pela vida.
Autor: Nhenety KX
IRÓ SUTU XÕN — A Árvore Escura dos Urubus
(em cordel)
Numa manhã de verão
Seguindo a velha estradinha
Anawá, moça guerreira
Filha da mata nativa
Viu um cajá sem folhas
Parecendo árvore mortiva.
Parou, fitou seus galhos
Secos, quietos, sozinhos
Pensou: "Perdeu sua força,
Já não dá mais seus frutinhos."
Seguiu pra roça em paz,
Plantando amor nos caminhos.
Quando a tarde chegou
E o sol baixava no chão,
No mesmo caminho antigo
Teve uma estranha visão:
A árvore estava negra,
Com um ar de assombração.
Era repleta de aves,
Urubus, os Xõná,
Sentinelas do silêncio
Que vinham tudo observar.
O coração da pequena
Começou a apertar.
"Será algum mau presságio?
Será aviso de dor?"
Com medo, correu depressa,
Guardando o temor.
Mas o dia seguinte
Mostrou seu real valor.
De manhã bem cedinho
Voltou pelo mesmo lado,
A árvore estava vazia,
Nenhum urubu pousado.
Foi então que descobriu
O segredo malcriado.
Os Karaí, homens brancos,
Sem pedir, sem permissão,
Trouxeram lixo e veneno
Pra poluir o chão,
Ferindo a terra indígena
E a nossa criação.
Anawá chamou os parentes,
A aldeia se levantou,
Denunciaram o crime
Que a justiça escutou.
Os culpados foram punidos
E a lição se firmou.
Hoje, quem vê Xõná
Sobre a árvore pousar,
Sabe que a mãe natureza
Algo quer avisar:
Quem cuida dela com zelo
Vai sempre lhe escutar.
Moral:
Nós devemos respeitar
O chão que nos dá sustento,
Pois ferir a mãe natureza
Traz de volta sofrimento.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
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