terça-feira, 12 de agosto de 2025

IRÓ SUTU XÕN, A Árvore Escura dos Urubus





 

A Fábula da Árvore dos Urubus 


Certa manhã, a jovem indígena Anawá caminhava pela trilha que levava à sua roça. O sol ainda nascia, e o vento trazia o cheiro da terra molhada. No caminho, avistou uma velha árvore de cajá, sem folhas, de galhos secos, que mais parecia estar morta.

— Pobre árvore… — pensou Anawá — talvez tenha perdido a força.


Trabalhou o dia inteiro, até que o sol começou a cair no horizonte. Ao voltar, reparou que a árvore estava completamente negra. Assustada, murmurou:

— Meu Deus… o que será aquilo?


Aproximando-se, viu que não era sombra nem feitiço: eram Xõná, os urubus, empoleirados em cada galho, imóveis, como sentinelas sombrias. O coração de Anawá apertou.

— Será um aviso? Algo ruim vai acontecer? — perguntou a si mesma.


Com medo, decidiu seguir para casa.


Na manhã seguinte, voltou ao mesmo caminho. A árvore estava vazia, sem urubus. Agora, com coragem, Anawá foi investigar o que havia ali por perto. E então encontrou a verdade: os Karaí, homens brancos, haviam despejado caminhões de lixo na terra indígena, envenenando a natureza antse.


Anawá correu para avisar os parentes. Juntos, denunciaram o crime às autoridades. Os culpados foram punidos com multas, para que aprendessem a respeitar a terra e aqueles que dela cuidam.


Desde então, quando um indígena vê muitos Xõná pousados em silêncio sobre uma árvore, lembra do dia em que a natureza pediu ajuda.


Moral: A natureza fala — mas só ouve quem caminha atento e com respeito pela vida.




Autor: Nhenety KX 




IRÓ SUTU XÕN — A Árvore Escura dos Urubus 

(em cordel)



Numa manhã de verão

Seguindo a velha estradinha

Anawá, moça guerreira

Filha da mata nativa

Viu um cajá sem folhas

Parecendo árvore mortiva.


Parou, fitou seus galhos

Secos, quietos, sozinhos

Pensou: "Perdeu sua força,

Já não dá mais seus frutinhos."

Seguiu pra roça em paz,

Plantando amor nos caminhos.


Quando a tarde chegou

E o sol baixava no chão,

No mesmo caminho antigo

Teve uma estranha visão:

A árvore estava negra,

Com um ar de assombração.


Era repleta de aves,

Urubus, os Xõná,

Sentinelas do silêncio

Que vinham tudo observar.

O coração da pequena

Começou a apertar.


"Será algum mau presságio?

Será aviso de dor?"

Com medo, correu depressa,

Guardando o temor.

Mas o dia seguinte

Mostrou seu real valor.


De manhã bem cedinho

Voltou pelo mesmo lado,

A árvore estava vazia,

Nenhum urubu pousado.

Foi então que descobriu

O segredo malcriado.


Os Karaí, homens brancos,

Sem pedir, sem permissão,

Trouxeram lixo e veneno

Pra poluir o chão,

Ferindo a terra indígena

E a nossa criação.


Anawá chamou os parentes,

A aldeia se levantou,

Denunciaram o crime

Que a justiça escutou.

Os culpados foram punidos

E a lição se firmou.


Hoje, quem vê Xõná

Sobre a árvore pousar,

Sabe que a mãe natureza

Algo quer avisar:

Quem cuida dela com zelo

Vai sempre lhe escutar.


Moral:

Nós devemos respeitar

O chão que nos dá sustento,

Pois ferir a mãe natureza

Traz de volta sofrimento.



Autor: Nhenety Kariri-Xocó 




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