A Fábula da Floresta de Luz
Na noite de Natal, quando o céu se enche de estrelas como sementes espalhadas pela mão do Criador, uma pomba branca chamada Tute abriu suas asas para mais uma viagem.
Tute não voava apenas por voar — sua missão era antiga: visitar cada canto da Terra e levar consigo a paz e a esperança.
Do alto, ela viu algo maravilhoso: cidades inteiras brilhando com luzes coloridas, ruas repletas de árvores enfeitadas, janelas sorrindo em cores. E, vista assim, de cima, a Terra já não parecia feita de pedra e asfalto, mas transformada em uma imensa Hiné Retsé — uma Floresta de Luz.
Tute voou baixo, passando sobre praças e lares. Onde havia alegria, ela via famílias reunidas, abraços e partilhas. Em casas humildes, onde a ceia era pequena, via mãos dividindo o pouco que havia. Em mansões, via mesas fartas, mas também corações que aprendiam a doar.
Porém, Tute também encontrou janelas apagadas. Casas frias e silenciosas, onde a solidão tinha feito morada. Então, a pequena pomba pousava discretamente, colhia no bico um fragmento de luz das casas felizes e o levava até as janelas escuras. Não eram lâmpadas que ela acendia, mas corações esquecidos.
Quando a madrugada chegou, Tute subiu novamente aos céus. Lá do alto, a Terra não era apenas uma floresta de luzes — era um jardim vivo, onde cada ponto brilhante era um lar e cada luz, um gesto de amor.
Desde então, na noite de Natal, Tute volta a voar sobre o mundo, lembrando que a luz mais forte não é a que enfeita as ruas, mas a que brota do coração.
Moral da fábula:
O Natal brilha mais quando a nossa luz acende no coração de outra pessoa.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
HINÉ RETSÉ – A FLORESTA DE LUZ
(Versão em Cordel)
Na noite que o mundo canta,
Com estrelas pelo chão,
O Natal vem de mansinho
Bater no nosso portão.
E uma pomba mensageira
Vai voando em oração.
Seu nome é Tute, ligeira,
Branca como o algodão,
Leva a paz no bater d’asa,
Leva amor no coração,
E seu voo, lá do alto,
Faz brilhar cada nação.
Do céu, Tute enxerga a Terra
Toda cheia de alegria,
Luz piscando em cada esquina,
Árvore em cada freguesia,
E pensa: “Que linda imagem
De amor e de harmonia!”
Vendo tanta claridade
Que a cidade reluz,
O mundo vira uma floresta,
Mas não de tronco ou de cruz,
E sim de galhos de afeto,
Que espalham frutos de luz.
Porém, também há morada
Onde a festa não chegou,
Janela fria e escura,
Onde a dor se demorou.
Tute, então, leva consigo
A luz que um lar ofertou.
Não é lâmpada acendida,
Nem enfeite de salão,
É calor de um gesto amigo
Que aquece qualquer mão,
Pois a luz mais verdadeira
É aquela do coração.
Assim, Tute todo ano
Na Noite Santa refaz
Seu caminho entre as casas,
Entre o rico e o que nada traz,
E a Terra, vista do alto,
Brilha em luz, amor e paz.
Moral da fábula:
Quem reparte o que tem pouco
Acende o Natal de alguém,
Pois a luz que se divide
Ilumina mais também.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
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