A Fábula dos Peixes de Águas Profundas
Nas águas escuras e profundas do grande rio, viviam muitos peixes de couro. Entre eles, o poderoso Surubim, de corpo rajado, forte como uma correnteza, e o pequeno Niquim, discreto, mas guardião de espinhos venenosos.
O Surubim nadava altivo, orgulhoso de seu tamanho e de sua fama entre os homens. Era celebrado nas margens dos rios, servido nas mesas das famílias e lembrado em festas como símbolo de fartura.
Já o Niquim, quase invisível entre pedras e raízes, carregava em silêncio sua arma: espinhos escondidos que podiam causar dor e lembravam o respeito que se deve ter com as águas.
Um dia, o Surubim encontrou o Niquim diante de uma pedra.
— Saia do meu caminho, pequeno! — disse o gigante, agitando sua cauda.
— Grande Surubim, cada um tem seu lugar. Você é força, eu sou cautela. Não zombe de mim — respondeu o Niquim com voz calma.
O Surubim riu, confiante em seu porte. Mas ao se aproximar para afastar o pequenino, sentiu nos flancos a ferroada dos espinhos venenosos. Recuou, dolorido, e pela primeira vez olhou para o Niquim com respeito.
— Agora entendo, pequeno guardião — disse o Surubim. — Nem sempre o maior é o mais temido, e cada ser tem sua defesa e seu valor.
Desde então, o Surubim continuou a nadar como rei das águas profundas, oferecendo sua carne saborosa aos homens que dele se alimentavam. E o Niquim permaneceu escondido entre as pedras, lembrando a todos que o rio é fartura, mas também exige cuidado.
Moral da fábula:
"Na vida e na mesa, é preciso respeitar tanto a força que alimenta quanto a cautela que protege."
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
NIQUIM E SURUBIM, Os Peixes de Águas Profundas
( Versão em Cordel )
No fundo do rio corria,
A vida em sombra e clarão,
Surubim era o gigante,
Rei forte da região,
Niquim pequeno e discreto,
Guardava sua atenção.
Surubim, peixe rajado,
De carne farta e sabor,
Era festa na canoa,
Na panela e no labor.
Todos o tinham na mesa,
Como dádiva e valor.
Niquim vivia escondido
No silêncio do seu chão,
Com espinhos venenosos,
Arma de sua proteção.
Não buscava ser temido,
Mas pedia precaução.
Um dia o peixe gigante
Viu o pequeno a nadar:
— Saia logo do caminho,
Não me tente enfrentar!
Sou maior, sou mais famoso,
Você não pode ganhar.
Mas ao tentar dominá-lo,
Sentiu ferroada e dor,
E viu que o pequeno guarda
Força que causa temor.
— Cada ser tem sua defesa,
Respeito é o seu valor.
Assim seguiram na vida,
Um com fartura e poder,
Outro com sua cautela
Ensinando o bem viver.
Na mesa ou dentro d’água,
É preciso compreender.
✨ Moral em cordel:
“Nem só o grande alimenta,
Nem só o pequeno fere,
Respeitar cada criatura
É lição que tudo ensere.”
Autor: Nhenety Kariri-Xocó

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