A Fábula das Crianças e o Coelho
Numa clareira da floresta, duas crianças indígenas corriam alegres entre as árvores. O som das risadas misturava-se ao canto dos pássaros quando, de repente, um tapiti surgiu, com suas orelhas curtas e olhos atentos.
— Olha! É o coelhinho da Páscoa! — disse a menina, lembrando das histórias que ouvira na escola.
O irmão riu e respondeu:
— Não, é aquele coelho da TV! Eu já vi ele correndo engraçado nos desenhos.
O tapiti parou, curioso com aquelas palavras que não entendia, e então falou com sua voz suave, como o vento entre as folhas:
— Crianças, eu sou o Tapiti. Vivo aqui desde os tempos antigos. Os povos de suas avós e bisavós já contavam histórias sobre mim.
As crianças se entreolharam, admiradas.
— Mas… e o Coelho da Páscoa? — perguntou a menina.
O tapiti respondeu com serenidade:
— Esse veio de longe, junto com a religião trazida pelos colonizadores. Ele traz ovos coloridos e fala de renascimento. É bonito, mas não nasceu nesta terra.
— E o coelho da TV? — quis saber o menino.
— Esse é do mundo das telas — disse o tapiti. — Foi criado para divertir, fazer rir e mostrar esperteza. Ele não existe na floresta, mas na imaginação que chega pelas imagens.
O tapiti ergueu-se um pouco sobre as patas traseiras e completou:
— Cada um de nós vive em um mundo diferente: eu pertenço à floresta e à memória dos povos indígenas; o Coelho da Páscoa pertence à fé e às festas cristãs; e o coelho da TV pertence às histórias inventadas nos desenhos. Mas todos falamos de esperança, de riso e de vida.
As crianças sorriram, encantadas.
— Então vamos lembrar sempre de você, Tapiti, o coelho da nossa terra!
O animal desapareceu entre as folhas, deixando apenas o som leve de sua corrida.
E as crianças compreenderam que o mundo é feito de muitas histórias que podem viver lado a lado.
🌟 Moral da Fábula
Cada cultura cria seus símbolos e personagens, mas é importante reconhecer e valorizar o que é da nossa própria terra. O tapiti ensina que tradição, fé e imaginação podem se encontrar sem que uma apague a outra.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
📜🐇 O TAPITI, O COELHO DA PÁSCOA E O DA TV
( Versão Cordel Sextilhas )
Na beira da mata virente
Brincavam duas crianças,
Com alegria inocente
Viviam suas andanças.
De repente um coelhinho
Surge pulando sozinho.
— Olha, é o da Páscoa, irmão!
Disse a menina contente.
— Não, é o da televisão!
Falou o menino ridente.
O tapiti respondeu:
— Eu sou da terra, sou eu!
— Moro aqui desde o passado,
Sou coelho verdadeiro,
Pelos povos celebrado,
Astuto, leve e ligeiro.
Na floresta sou nativo,
No mato sempre eu vivo.
— O da Páscoa veio de fora,
Com fé e religião,
Trouxe os ovos toda hora
Pra festa e celebração.
Bonito é seu costume,
Mas não nasceu no meu lume.
— Já o coelho da telinha
É feito só de invenção,
Corre, fala, faz gracinha,
Diverte pela ilusão.
Não existe em nossa mata,
Mas na tela ele retrata.
— Cada um tem seu lugar,
Disse o tapiti ligeiro,
Um na fé pra celebrar,
Outro vive no roteiro.
Eu sou filho desta terra,
Da floresta que me encerra.
As crianças sorridentes
Disseram com emoção:
— Tapiti é diferente,
É da nossa tradição!
E o coelho foi embora,
Na mata que o acolhora.
🌟 Moral em Cordel
Cada cultura é diversa,
Tem símbolo e tradição,
Mas valor maior se expressa
Na raiz e no chão.
O tapiti nos ensina
Que a vida é terra-mãe fina.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó

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