segunda-feira, 25 de agosto de 2025

O TAPITI, O Coelho da Páscoa e o da TV






A Fábula das Crianças e o Coelho 


Numa clareira da floresta, duas crianças indígenas corriam alegres entre as árvores. O som das risadas misturava-se ao canto dos pássaros quando, de repente, um tapiti surgiu, com suas orelhas curtas e olhos atentos.


— Olha! É o coelhinho da Páscoa! — disse a menina, lembrando das histórias que ouvira na escola.


O irmão riu e respondeu:

— Não, é aquele coelho da TV! Eu já vi ele correndo engraçado nos desenhos.


O tapiti parou, curioso com aquelas palavras que não entendia, e então falou com sua voz suave, como o vento entre as folhas:

— Crianças, eu sou o Tapiti. Vivo aqui desde os tempos antigos. Os povos de suas avós e bisavós já contavam histórias sobre mim.


As crianças se entreolharam, admiradas.


— Mas… e o Coelho da Páscoa? — perguntou a menina.


O tapiti respondeu com serenidade:

— Esse veio de longe, junto com a religião trazida pelos colonizadores. Ele traz ovos coloridos e fala de renascimento. É bonito, mas não nasceu nesta terra.


— E o coelho da TV? — quis saber o menino.


— Esse é do mundo das telas — disse o tapiti. — Foi criado para divertir, fazer rir e mostrar esperteza. Ele não existe na floresta, mas na imaginação que chega pelas imagens.


O tapiti ergueu-se um pouco sobre as patas traseiras e completou:

— Cada um de nós vive em um mundo diferente: eu pertenço à floresta e à memória dos povos indígenas; o Coelho da Páscoa pertence à fé e às festas cristãs; e o coelho da TV pertence às histórias inventadas nos desenhos. Mas todos falamos de esperança, de riso e de vida.


As crianças sorriram, encantadas.

— Então vamos lembrar sempre de você, Tapiti, o coelho da nossa terra!


O animal desapareceu entre as folhas, deixando apenas o som leve de sua corrida.

E as crianças compreenderam que o mundo é feito de muitas histórias que podem viver lado a lado.


🌟 Moral da Fábula


Cada cultura cria seus símbolos e personagens, mas é importante reconhecer e valorizar o que é da nossa própria terra. O tapiti ensina que tradição, fé e imaginação podem se encontrar sem que uma apague a outra.




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 





📜🐇 O TAPITI, O COELHO DA PÁSCOA E O DA TV

( Versão Cordel Sextilhas  )



Na beira da mata virente

Brincavam duas crianças,

Com alegria inocente

Viviam suas andanças.

De repente um coelhinho

Surge pulando sozinho.


— Olha, é o da Páscoa, irmão!

Disse a menina contente.

— Não, é o da televisão!

Falou o menino ridente.

O tapiti respondeu:

— Eu sou da terra, sou eu!


— Moro aqui desde o passado,

Sou coelho verdadeiro,

Pelos povos celebrado,

Astuto, leve e ligeiro.

Na floresta sou nativo,

No mato sempre eu vivo.


— O da Páscoa veio de fora,

Com fé e religião,

Trouxe os ovos toda hora

Pra festa e celebração.

Bonito é seu costume,

Mas não nasceu no meu lume.


— Já o coelho da telinha

É feito só de invenção,

Corre, fala, faz gracinha,

Diverte pela ilusão.

Não existe em nossa mata,

Mas na tela ele retrata.


— Cada um tem seu lugar,

Disse o tapiti ligeiro,

Um na fé pra celebrar,

Outro vive no roteiro.

Eu sou filho desta terra,

Da floresta que me encerra.


As crianças sorridentes

Disseram com emoção:

— Tapiti é diferente,

É da nossa tradição!

E o coelho foi embora,

Na mata que o acolhora.


🌟 Moral em Cordel


Cada cultura é diversa,

Tem símbolo e tradição,

Mas valor maior se expressa

Na raiz e no chão.

O tapiti nos ensina

Que a vida é terra-mãe fina.



Autor: Nhenety Kariri-Xocó 





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