A Fábula do Menino e a Onça-parda
Rayná era um menino curioso, que gostava de andar pela mata ouvindo os cantos dos pássaros e observando cada detalhe das árvores. Um dia, ao subir a encosta do morro, seus olhos se depararam com um felino de corpo esguio, cauda longa e olhar dourado.
Assustado e encantado ao mesmo tempo, Rayná pensou:
— Ué! Mas eu conheço esse bicho dos desenhos! Só que na tela ele era colorido e engraçado… aqui, na floresta, é real e imponente.
A suçuarana, tranquila, observava o menino com olhos atentos. Não tinha pressa nem raiva, apenas curiosidade. Rayná entendeu, em silêncio, que aquele animal não era de brincadeira, mas sim um guardião da mata, respeitado por todos os outros seres.
Com voz baixa, disse:
— Eu achei que você fosse só imaginação… mas vejo que é de verdade. Você é a dona dos caminhos escondidos e das montanhas silenciosas.
A suçuarana, sem emitir som, deu meia-volta e sumiu entre as pedras, como se fosse um sopro da floresta.
Rayná voltou para casa pensativo. Aprendeu que a natureza também cria personagens muito mais grandiosos do que qualquer desenho. Desde aquele dia, sempre que via a lua iluminar a mata, lembrava da felina que parecia vinda de um sonho, mas que era tão real quanto seu próprio coração.
Moral da fábula:
A imaginação mostra caminhos, mas a natureza guarda segredos ainda mais maravilhosos do que qualquer história inventada.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
RAYNÁ E A SUÇUARANA, O Menino e a Onça-parda
( Versão em Cordel )
Na beira de um velho monte,
O menino foi andar,
Rayná tinha no peito
A vontade de escutar,
Os cantos que a floresta
Gosta tanto de entoar.
De repente a sua vista
Se encheu de admiração,
Um felino cor de terra
Surgiu firme no sertão,
Olhos de ouro faiscando,
Silenciosa aparição.
Rayná logo se lembrou
De um desenho divertido,
Mas notou que a criatura
Era forte e destemido,
Não vivia em fantasia,
Era um ser bem decidido.
A suçuarana imponente
Com seu corpo a reluzir,
Não mostrou nenhum receio,
Só parou para assistir,
O menino que aprendia
Com a mata a refletir.
— Tu não és só brincadeira,
Nem pintada de ilusão,
És a onça verdadeira,
Guardiã do meu sertão,
Que caminha entre os vales,
Com silêncio e precisão.
O felino deu meia-volta,
E sumiu no vão da serra,
Feito sombra que desliza
No silêncio da sua terra,
Deixando no coração
Um respeito que não erra.
Rayná voltou pensativo
Com a lição na lembrança:
Que a natureza é mais viva
Do que qualquer esperança,
E o que a mente inventa
Na floresta ganha andança.
Moral do cordel:
Na tela a imaginação
É caminho que engalana,
Mas maior que a fantasia
É a vida soberana,
Que revela sua força
Na figura da Suçuarana.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
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