terça-feira, 26 de agosto de 2025

SANÃS E JAÇANÃS, Pintos, Frangos e Galinha-d'água






A Fábula de Aves Aquáticas 


No coração do brejo, onde o sol fazia brilhar as águas e os capins dançavam ao vento, viviam três aves muito diferentes: a Sanã, o Franguinho-d’água e a Jaçanã.


A Sanã, pequena e ligeira, era conhecida por seu canto barulhento de “turu-turu”, que ecoava sem parar pelas margens. Gostava de se exibir e acreditava que sua voz era a mais importante do brejo.


O Franguinho-d’água, esperto e curioso, vivia a procurar alimento em todos os cantos. Se precisava, tirava larvas do estrume do gado ou até enfrentava pequenas cobras-d’água. Era astuto e sabia se virar em qualquer situação.


A Jaçanã, elegante e atenta, caminhava sobre a vegetação flutuante como se fosse dona do brejo. Cuidava dos ninhos e ensinava seus filhotes a se equilibrar sobre as folhas largas, mantendo sempre o olhar alerta para qualquer perigo.


Certo dia, um gavião sobrevoou o brejo.

— Turu-turu! Turu-turu! — gritava a Sanã, sem perceber que chamava a atenção do predador.

O Franguinho, ao notar a sombra no céu, correu para se esconder entre a lama e as touceiras de capim.

Já a Jaçanã, firme e corajosa, espalhou seus filhotes pela vegetação e, com seu canto forte e repetido, confundiu o gavião, que não conseguiu distinguir se era um bando imenso ou apenas uma ave.


Cansado da confusão, o gavião desistiu da caçada e voou para longe.


A Sanã, envergonhada por ter atraído o perigo com seu barulho, abaixou o bico. O Franguinho, sujo de lama, riu de si mesmo, mas agradeceu por estar vivo. A Jaçanã, com serenidade, apenas disse:


— No brejo, cada um tem seu valor, mas é o cuidado e a vigilância que sustentam a vida.


Moral da fábula:


“Quem fala demais atrai perigos, quem observa protege a todos. Mas só a união das diferenças mantém o equilíbrio do brejo.”



Autor: Nhenety Kariri-Xocó 




SANÃS E JAÇANÃS, Pintos, Frangos e Galinha-d'água 


( Versão Cordel  )



No brejo de verde espesso

Morava ave diversa,

A Sanã fazia alarde,

Cantava de forma inversa,

Seu “turu-turu” soava,

A vaidade lhe dispersa.


O Franguinho era ligeiro,

De tudo sabia tirar,

Inseto, cobra, semente,

Nada lhe podia faltar.

Astuto e bem prevenido,

Sabia sempre escapar.


A Jaçanã cuidadosa,

Nos ninhos se equilibrava,

Sobre folhas flutuantes,

Com filhotes caminhava.

Atenta a todo o perigo,

Com firmeza sempre olhava.


Um dia surgiu no céu

Um gavião caçador,

A Sanã gritou tão alto

Chamando o predador.

O Franguinho foi pra lama,

Escondendo seu temor.


A Jaçanã corajosa

Se fez forte no cantar,

Espalhou os seus filhotes,

Que ficaram a boiar.

O gavião confundido

Não sabia a quem caçar.


Partiu longe o inimigo,

O brejo voltou à paz,

A Sanã ficou calada,

Sem gabar-se nunca mais.

E a Jaçanã lhe disse:

— Vigilância é que dá trás.


Moral da fábula em cordel:


“Quem fala sem ter cuidado

Acaba atraindo o mal,

Mas quem observa com calma

Protege o bem natural.

No brejo cada ser conta,

Unidos têm força igual.”




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 





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