A Fábula de Aves Aquáticas
No coração do brejo, onde o sol fazia brilhar as águas e os capins dançavam ao vento, viviam três aves muito diferentes: a Sanã, o Franguinho-d’água e a Jaçanã.
A Sanã, pequena e ligeira, era conhecida por seu canto barulhento de “turu-turu”, que ecoava sem parar pelas margens. Gostava de se exibir e acreditava que sua voz era a mais importante do brejo.
O Franguinho-d’água, esperto e curioso, vivia a procurar alimento em todos os cantos. Se precisava, tirava larvas do estrume do gado ou até enfrentava pequenas cobras-d’água. Era astuto e sabia se virar em qualquer situação.
A Jaçanã, elegante e atenta, caminhava sobre a vegetação flutuante como se fosse dona do brejo. Cuidava dos ninhos e ensinava seus filhotes a se equilibrar sobre as folhas largas, mantendo sempre o olhar alerta para qualquer perigo.
Certo dia, um gavião sobrevoou o brejo.
— Turu-turu! Turu-turu! — gritava a Sanã, sem perceber que chamava a atenção do predador.
O Franguinho, ao notar a sombra no céu, correu para se esconder entre a lama e as touceiras de capim.
Já a Jaçanã, firme e corajosa, espalhou seus filhotes pela vegetação e, com seu canto forte e repetido, confundiu o gavião, que não conseguiu distinguir se era um bando imenso ou apenas uma ave.
Cansado da confusão, o gavião desistiu da caçada e voou para longe.
A Sanã, envergonhada por ter atraído o perigo com seu barulho, abaixou o bico. O Franguinho, sujo de lama, riu de si mesmo, mas agradeceu por estar vivo. A Jaçanã, com serenidade, apenas disse:
— No brejo, cada um tem seu valor, mas é o cuidado e a vigilância que sustentam a vida.
Moral da fábula:
“Quem fala demais atrai perigos, quem observa protege a todos. Mas só a união das diferenças mantém o equilíbrio do brejo.”
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
SANÃS E JAÇANÃS, Pintos, Frangos e Galinha-d'água
( Versão Cordel )
No brejo de verde espesso
Morava ave diversa,
A Sanã fazia alarde,
Cantava de forma inversa,
Seu “turu-turu” soava,
A vaidade lhe dispersa.
O Franguinho era ligeiro,
De tudo sabia tirar,
Inseto, cobra, semente,
Nada lhe podia faltar.
Astuto e bem prevenido,
Sabia sempre escapar.
A Jaçanã cuidadosa,
Nos ninhos se equilibrava,
Sobre folhas flutuantes,
Com filhotes caminhava.
Atenta a todo o perigo,
Com firmeza sempre olhava.
Um dia surgiu no céu
Um gavião caçador,
A Sanã gritou tão alto
Chamando o predador.
O Franguinho foi pra lama,
Escondendo seu temor.
A Jaçanã corajosa
Se fez forte no cantar,
Espalhou os seus filhotes,
Que ficaram a boiar.
O gavião confundido
Não sabia a quem caçar.
Partiu longe o inimigo,
O brejo voltou à paz,
A Sanã ficou calada,
Sem gabar-se nunca mais.
E a Jaçanã lhe disse:
— Vigilância é que dá trás.
Moral da fábula em cordel:
“Quem fala sem ter cuidado
Acaba atraindo o mal,
Mas quem observa com calma
Protege o bem natural.
No brejo cada ser conta,
Unidos têm força igual.”
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
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