ÍNDICE POÉTICO
Quem quiser ler meu cordel
Veja aqui por onde andar,
Cada parte é um caminho
Do folclore popular.
Com Cascudo como mestre
Vou no verso apresentar:
👉 Abertura – Cantoria
Mostro o tema e a missão,
Digo as matrizes sagradas
Que formaram a nação.
👉 Encerramento – Gratidão
Deixo aqui minha homenagem,
Na memória popular,
Pois folclore é viva chama
Que jamais vai se apagar.
✍️ DEDICATÓRIA POÉTICA
Dedico este meu cordel
Com respeito e devoção,
Ao mestre Câmara Cascudo,
Guardião da tradição.
Que estudou o povo simples
E lhe deu valorização.
Dedico ao povo indígena,
Raiz firme e primeira,
Que ensinou o som da mata,
A ciência verdadeira.
Que deixou na nossa história
Sua marca duradoura e inteira.
Dedico ao povo africano,
Que no ferro se acorrentou,
Mas no canto e no batuque
Sua força proclamou.
E no axé de seus deuses
A esperança semeou.
Dedico também à lusa
Com seus contos e memórias,
Que misturou fé e festa
Na estrada de tantas histórias.
Assim brotou o Brasil
Com riqueza e vitórias.
Dedico ao povo brasileiro,
Do sertão e do litoral,
Que faz da vida sofrida
Um folguedo sem igual.
E transforma dor em riso,
Na cultura imortal.
📜 ABERTURA
Na viola da memória
Vou cantando a tradição,
Com Cascudo como guia
Pra contar nossa nação.
Do folclore brasileiro
Faço aqui celebração.
São três troncos poderosos
Que formaram o Brasil:
A matriz do povo índio,
O europeu varonil,
E o africano guerreiro,
Resistente e sutil.
📜 PRÓLOGO POÉTICO
Leitor amigo que chega
Com vontade de aprender,
Aqui começa o cordel
Pra sua mente enriquecer.
É viagem no folclore,
Vem comigo conhecer.
O folclore é a raiz
Que sustenta a tradição,
É brinquedo, é cantoria,
É memória do sertão.
É reza, mito e costume
Que formaram a nação.
Luís da Câmara Cascudo
Foi quem muito pesquisou,
Deu respeito ao povo simples,
Seu saber registrou.
Com livros, contos e estudos,
O Brasil ele mostrou.
Por isso nesse cordel
Vou seguindo seu caminho,
Das matrizes culturais
Teço versos com carinho.
E convido o nobre leitor
Pra seguir no meu cantinho.
Sente e abra bem os olhos,
Deixe o coração mandar,
Cada página é um retrato
Do folclore popular.
Que essa leitura lhe faça
Mais sonhar e mais pensar.
🌿 CAPÍTULO I – A MATRIZ INDÍGENA
O Tempo Primordial
Antes mesmo de Cabral
Chegar neste litoral,
Já havia povos livres
Com cultura sem igual.
Nessa terra abençoada
Florescia o ancestral.
Era o tempo das aldeias,
Das florestas sem cercado,
Onde o rio era caminho,
Onde o mito era narrado.
Na palavra do ancião
Todo saber repassado.
Curupira, pé virado,
Protetor do matagal,
Boitatá, cobra de fogo,
Contra o dano ambiental.
E o Saci de uma perna
Brinca em modo desigual.
Jaci, lua feminina,
Com Tupã, trovão maior,
Guardiões da natureza,
Do universo, do suor.
E a Iara, linda sereia,
Seduzia o pescador.
Na pajelança do povo
Com raiz, fumo e maracá,
Rezador soprava forte,
Espírito vinha ajudar.
E a cura que não se via
Tornava o doente a andar.
No alimento a fartura:
Mandioca em beijus quentes,
Tapioca, cauim doce,
Peixes frescos reluzentes.
Essa mesa originária
Nutria povos contentes.
⛪ CAPÍTULO II – A MATRIZ EUROPEIA
O Tempo Colonial
No século dezesseis
A nau grande se avistou,
E na praia do Brasil
O europeu desembarcou.
Com ele vieram crenças
Que o folclore incorporou.
Veio a reza, veio o santo,
O rosário em procissão,
A bandeira do Divino,
O presépio no sertão.
E a folia de Reisada
Ecoava a devoção.
Lobisomem e visagens
Vieram do velho além,
Com duendes e mouras tortas
Que Cascudo cita bem.
E a mula sem cabeça
Corre e assombra até hoje também.
No terreiro da fazenda
O fandango começou,
A catira bate palmas,
Com viola se entoou.
E a ciranda portuguesa
Com o povo se juntou.
São João traz fogueira alta,
Balão sobe pelo ar,
Com quadrilha e casamento,
Pamonha e milho a rolar.
No arraiá do Nordeste
Todo mundo vai dançar.
Na cozinha portuguesa
O sabor também chegou:
O pão-de-ló, o azeite,
O quindim que encantou.
E o arroz com bacalhau
Na mesa se firmou.
🥁 CAPÍTULO III – A MATRIZ AFRICANA
O Tempo da Resistência
Do outro lado do mar
Vieram negros cativos,
Mas no peito carregavam
Seus deuses sempre vivos.
E no Brasil espalharam
Seus cantos tão expressivos.
Nas senzalas e terreiros
Reinava o tambor sagrado,
Batuque de resistência
Contra o mundo escravizado.
E nos pontos de candomblé
O orixá era invocado.
Iemanjá, rainha-d’água,
Mãe dos peixes, do mar,
Oxum, dona da beleza,
Com espelho a se enfeitar.
Xangô com seu machado
Fez trovão trovejar.
Ogum, senhor da batalha,
Foi quem abriu o caminho,
Oxóssi, rei das caçadas,
Protegia o peregrino.
E Exu com sua força
Levava recado divino.
Na ginga da capoeira
A cultura se defende,
Com berimbau, atabaque,
O corpo dança e surpreende.
Era luta disfarçada
Que o opressor não entende.
Na culinária africana
Dendê deu cor e sabor,
Vatapá e caruru,
Feijão-preto e seu valor.
E o acarajé sagrado
Ofertado ao orixá de amor.
Congadas e maracatus
Desfilaram pelo chão,
Misturando o catolicismo
Com a força da devoção.
E o Brasil se reinventava
Na batida do refrão.
🎭 CAPÍTULO IV – A SÍNTESE DO BRASIL FOLCLÓRICO
Das três matrizes se fez
Um Brasil rico e plural,
Que mistura fé e festa,
Brincadeira e ritual.
É um tesouro de memórias
Do povo sem igual.
É o boi-bumbá de Parintins,
Com vermelho e azul brilhante,
É o frevo de Pernambuco,
Com passista elegante.
É a ciranda na praia,
Do caboclo dançante.
É congada em Minas Gerais,
É carimbó do Pará,
É reisado no Nordeste,
É fandango a encantar.
Cada canto desta terra
Tem cultura pra mostrar.
O folclore não é morto,
É raiz que sempre cresce,
Se transforma com o tempo,
E no povo permanece.
É herança que nos guia,
É riqueza que fortalece.
✒️ ENCERRAMENTO
Assim fecho este cordel,
Com Cascudo como guia,
Mostrando o Brasil folclórico
Em cultura e poesia.
Nhenety deixa registrado:
É raiz, força e magia.
EPÍLOGO POÉTICO
No sopro da tradição que o tempo não apaga,
Ergue-se a palavra firme como chama que alaga.
O cordel é rio antigo, que corre sem ter fim,
Leva histórias do passado, traz futuro para mim.
Na aldeia da memória, no terreiro da canção,
O verso se faz ponte ligando o coração.
Entre a sombra e a luz, entre o ontem e o agora,
O cordel segue cantando, nunca parte, sempre aflora.
E quem lê estas rimas, leva um pedaço da vida,
Um grão da eternidade, uma seiva já nascida.
Pois cada verso plantado é raiz que se renova,
Guardião da resistência, que o tempo nunca prova.
Assim se fecha o cordel, mas o canto não se cala,
Ecoa nas gerações, feito estrela que não se abala.
No silêncio da palavra, há um grito imortal,
Da aldeia para o mundo, um legado ancestral.
🪶 NOTA DE FONTES / NOTA FONTIUM
Este cordel se inspirou
No mestre pesquisador,
Câmara Cascudo é nome
De imenso valor e amor.
Guardião do nosso povo,
Do folclore e do contador.
Consultando seus escritos,
Aprendi cada lição,
Nas páginas do Dicionário
Brota a alma da nação.
E em Geografia dos Mitos
Revela a inspiração.
Made in Africa descreve
A raiz de um povo irmão,
Que em batuques e cantigas
Deu ao Brasil coração.
E em Vaqueiros e Cantadores
Mostrou fé, chão e canção.
Mas também vem da memória,
Do terreiro e da aldeia,
Da ciranda e da cantiga
Que a cultura semeia.
Das vozes que nunca morrem,
Mesmo o tempo sendo areia.
Assim deixo registrada
A origem deste cantar,
Com respeito aos que vieram
O Brasil decifrar.
Da boca do povo simples
Surge a arte de rimar.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó


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