1️⃣ Capa Principal (Frontal)
Título: A Origem das Feiras Livres
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
Ilustração 3D: Amanhecer em feira nordestina antiga, barracas sendo montadas, vendedores chegando, cordelistas e violeiros presentes, cores vibrantes e atmosfera poética.
2️⃣ Dedicatória Poética
Dedico este meu cordel
Ao povo trabalhador,
Que madruga em feira livre
Com suor, fé e labor.
Ao que planta e colhe o fruto,
Ao artista e ao cantador,
Ao cordelista e poeta,
E ao Nordeste sonhador.
3️⃣ Índice Poético
Abertura
Prólogo Poético
Capítulo I – A Origem das Feiras no Oriente
Capítulo II – Feiras na Idade Média
Capítulo III – As Feiras Ibéricas
Capítulo IV – A Chegada ao Brasil
Capítulo V – A Feira Nordestina
Capítulo VI – A Feira de Caruaru
Capítulo VII – As Vozes do Povo e os Artistas da Feira
Capítulo VIII – A Feira como Patrimônio da Identidade Nordestina
Encerramento
Epílogo Poético
Nota de Fontes Rimada
Ficha Técnica Poética
Quarta Capa 3D Digital
4️⃣ Abertura
No terreiro das tradições,
Sopro o vento do passado,
Revela no chão do tempo
Um costume consagrado.
É a feira, mãe da cultura,
Do povo tão abençoado,
Que faz da troca um poema
E do viver, um mercado.
5️⃣ Prólogo Poético - Das Antigas Civilizações
Diz a história que há milênios,
Nas areias do Oriente,
Surgiam grandes encontros
Do comércio e da gente.
Babilônios e persas juntos,
Fazendo o ato evidente:
Quem troca, não só enriquece,
Mas liga o corpo e a mente.
6️⃣ CAPÍTULOS I a VIII
🌅 Capítulo I — O Berço no Oriente
Por volta de quinhentos anos
Antes de Cristo nascer,
Já havia feiras vivas
Com o dom de acontecer.
Oásis de caravanas,
Camelos a se mover,
Trazendo de longe os sonhos
Que a terra queria ter.
Nos desertos do Crescente,
Onde o sol beija o areal,
Mercadores faziam trocas
De forma universal.
Um punhado de especiarias
Valia um bem sem igual,
E o simples gesto da troca
Virava um rito ancestral.
Babilônios e persas firmes,
Com paciência e precisão,
Mediam peso e medida
Com justiça e exatidão.
A palavra era o contrato,
E o trato, uma oração,
Pois a honra era moeda
Naquela civilização.
Pelas margens do Eufrates,
Entre tendas e lampiões,
Ecoavam vozes antigas
Cheias de revelações.
Ali se trocava o fruto
Das colheitas e paixões,
E a feira era a alma viva
Das primeiras gerações.
Os fenícios navegantes,
Senhores do litoral,
Levavam ao mundo inteiro
O comércio artesanal.
Vendiam púrpura e vidro,
Madeira e sal mineral,
E criaram feiras portuárias
De valor monumental.
Nas cidades da Mesopotâmia
Já se via o movimento,
Homem e mulher trocando
O pão e o conhecimento.
Cada barraca era um templo,
Cada troca, um sentimento,
E o mercado era a forma
Do humano entendimento.
No Egito, às margens do Nilo,
Havia troca de grãos,
De linho, mel e perfumes,
De joias e emoções.
O faraó abençoava
As feiras nas estações,
Pois nelas o povo encontrava
Paz e comunicações.
Nas rotas das caravanas
Surgiram os caravançarás,
Hospedagens de mercantes
Que vinham de muito atrás.
Ali dormiam histórias,
Culturas e ritos de paz,
E a feira, entre povos diversos,
Foi ponte que nunca se desfaz.
Assim nasceu a semente
Do comércio universal,
Que uniu homens e reinos
De forma essencial.
E a feira, desde então,
Fez-se elo cultural,
Misturando fé e trabalho
Num costume imortal.
🏰 Capítulo II — As Feiras da Idade Média
Na Europa medieval,
Entre mosteiros e muros,
Nasceram feiras imensas,
De encantos tão maduros.
Gente vinha de mil léguas,
Com tecidos e futuros,
E trovadores cantavam
Os amores mais puros.
O sino do povoado
Marcava a hora da feira,
E o campo virava festa,
Colorido de bandeira.
Vendia-se pão e vinho,
Ferramenta e esteira,
E o povo fazia trocas
De forma justa e inteira.
Eram feiras anuais,
Grandes centros de emoção,
Onde se firmavam pactos
E também negociação.
A moeda era recente,
Mas valia o coração,
E o mercador via no lucro
Um sinal de redenção.
As feiras tinham seus dias,
Ligados ao calendário,
Às festas dos santos padroeiros,
Ao tempo do santuário.
E ao lado das procissões,
Um cenário extraordinário:
A vida comum pulsava
Num quadro comunitário.
Vendia-se lã e couro,
Ferros, trigos, especiarias,
E os artistas de rua
Cantavam suas poesias.
Monarcas, monges e servos
Misturavam suas vias,
E as feiras se tornavam
Cidades por alguns dias.
Na França, em Champagne,
Feiras tinham renome real,
Pois atraíam mercadores
De poder continental.
E as rotas comerciais
Uniram mundo e quintal,
Fazendo da troca simples
Um fato universal.
Em Portugal e na Espanha,
Também floresceu o costume,
Feiras sob proteção
De castelo e de lume.
Ali o povo encontrava
Alimento, fé e perfume,
E a praça era um altar
Do trabalho e do volume.
A Idade Média moldou
O caráter desse lugar,
Feira era ponto de encontro,
De rir e de negociar.
O trovador era o rádio,
O pregão, o noticiar,
E o saber popular
Ali vinha se expressar.
Assim, do chão europeu,
Nasceu a tradição bendita,
De reunir o povo simples
Com alma pura e bonita.
Feira não era só venda,
Era escola infinita,
Onde a voz e a mercadoria
Faziam a terra escrita.
🇵🇹 Capítulo III — As Feiras Ibéricas
Na Península formosa,
Entre santos e procissões,
Portugal e Espanha erguiam
Feiras de mil tradições.
Com bandeiras nas janelas
E sons de sinos e canções,
O povo fazia trocas
Com fé e celebrações.
As feiras chamadas “francas”
Tinham lei do rei fiel,
Que dava isenção de taxas
E proteção ao cordel.
Ali o pobre e o nobre
Vendiam pão, couro e mel,
E a praça virava um templo
De comércio e de papel.
Nos caminhos de Castela,
De Lisboa e de Sevilha,
Os feirantes se encontravam
De vila em vila e trilha.
As barracas coloridas
Faziam rua e partilha,
E o trovador anunciava
Sua voz como maravilha.
Havia bois, frutas, tecidos,
Ervas de cura e oração,
E ao som de tamborileiros
Se fazia a diversão.
O artesão mostrava a arte,
O camponês, o feijão,
E o povo, no meio disso,
Vivia a comunhão.
O rei dava “foro livre”
Pra o povo comercializar,
Garantindo segurança
Pra quem viesse negociar.
Era a lei da liberdade
Que fazia prosperar,
E as feiras se tornaram
O modo de se encontrar.
Os mouros, que ali viveram,
Deixaram grande influência,
Nas cores, nos sons, nos trajes,
E na própria convivência.
Misturaram fé e canto,
Trabalho e consciência,
E das feiras ibéricas veio
A poética essência.
Nas feiras, também havia
Poetas e pregadores,
Músicos, curandeiros,
Profetas e sonhadores.
Era um mundo ambulante
De fé e vendedores,
Que plantava nas palavras
Mil futuros redentores.
E o português aprendiz,
De alma simples e aberta,
Viu na feira uma escola,
Uma experiência certa.
Quando cruzou o oceano,
Levou a ideia desperta,
Pra fundar no Novo Mundo
Feira justa e descoberta.
Assim, da Península viva,
Saiu a semente bendita,
Que cruzou mares e ventos
Com alma firme e bonita.
Das feiras ibéricas veio
A cultura infinita,
Que o Brasil tornaria
Herança tão bendita.
⚓ Capítulo IV — A Chegada ao Brasil
Quando as velas das caravelas
Cortaram o azul do mar,
Trouxeram mais que colonos,
Trouxeram o costume de estar.
As feiras cruzaram o tempo,
Vieram no verbo e no olhar,
E o solo do Novo Mundo
Começou a negociar.
No século dezesseis,
Entre engenhos e capelas,
As vilas viraram palco
De feiras tão singelas.
Ali o povo trocava
Peixes, frutas, panelas,
E a vida ganhava cor
Com barracas paralelas.
As feiras do Brasil nascente
Tinham cheiro de sertão,
Mistura de índio e negro,
De fé e devoção.
O europeu via cultura,
O nativo via paixão,
E o africano trazia
Música e tradição.
No chão batido da praça
Se misturava a canção,
O batuque das marimbas
E o toque do violão.
A feira era o encontro
Da terra com o coração,
E o povo via no trabalho
Um gesto de criação.
O padre abençoava o campo,
O vaqueiro trazia o gado,
O lavrador vendia milho,
E o oleiro, seu legado.
O doceiro oferecia
Seu mel cristalizado,
E a feira era um retrato
Do Brasil recém-criado.
Logo o costume cresceu,
De vila a capital,
Em Recife e Salvador,
Feiras viraram ritual.
O povo, de toda parte,
Vinha pro bem social,
Trocava produto e ideia,
Com amizade natural.
Ali nascia o costume
De o feirante madrugar,
De montar sua barraca
E sorrindo trabalhar.
A feira era convivência,
Era espaço de falar,
De vender e de ensinar,
De sonhar e de amar.
Cada banca era uma escola,
De saber e de oração,
Com ervas pra curar dor
E versos de devoção.
O cordel nascia em verso,
Cantando a plantação,
E o poeta via na feira
Seu templo e inspiração.
Assim o Brasil herdou
Da Europa a tradição,
Mas deu-lhe nova roupagem,
Com ritmo e coração.
No Nordeste, esse legado
Ganhou alma e vibração,
Virou canto, virou feira,
Virou pura criação.
🌾 Capítulo V – A Feira Nordestina: Berço da Cultura Popular
Nas terras secas do Norte,
onde o sol brilha altaneiro,
nasceu a feira de gente,
trabalhador verdadeiro.
Ali se vende e se troca,
do roçado ao tabuleiro,
com fé, suor e coragem,
mantém-se o povo inteiro,
num teatro a céu aberto,
do artista ao cozinheiro.
No chão batido e poeira,
no canto do sanfoneiro,
ecoam risos e histórias
do homem sertanejo inteiro.
Cordelista, repentista,
batuqueiro e violeiro,
fazem da feira um templo
do saber mais verdadeiro,
onde o verbo vira canto
e o verso, dom pioneiro.
Cada banca é um universo,
cada rosto um caminheiro,
de romeiro, agricultor,
de vaqueiro ou canoeiro.
Tem farinha e tem rapadura,
chapéu feito de coqueiro,
tem fé e devoção pura,
tem reza de santuário inteiro,
e a alma do povo vibra
no coração brasileiro.
Ali o povo negocia,
mas também se reconhece,
no abraço do camarada,
no verso que o sertão tece.
É escola de convivência,
onde a amizade floresce,
a cultura não perece,
e o espírito enriquece,
com o canto da esperança
que no peito prevalece.
No canto das lavadeiras,
no cheiro do café quente,
no apito do vendedor,
no chamado eloquente,
a feira é vida pulsante,
palco do povo valente,
que transforma a dificuldade
em canção resplandecente,
fazendo da labuta dura
um poema reluzente.
As barracas coloridas
trazem o brilho do chão,
com frutas, flores e cheiros
de toda a região.
A mulher rendeira vende
sua arte e tradição,
enquanto o artesão mostra
seu barro e devoção,
no olhar do povo simples
repousa a inspiração.
No meio da multidão
um poeta improvisando,
fala de amor e de luta,
do sertão se recordando.
Fala do tempo e da chuva,
da seca se lamentando,
mas o povo aplaude e vibra,
o coração pulsando,
pois na feira o verso nasce
como o sol sempre voltando.
No meio dos alimentos
e do cheiro do tempero,
há um canto que revela
um Brasil verdadeiro.
Ali se vendem memórias
e o sonho do povo inteiro,
em cada risada franca,
em cada olhar fagueiro,
brota a identidade viva
do homem nordestino inteiro.
Assim a feira se ergue,
entre o real e o divino,
do sertão à capital,
segue o mesmo destino.
É ponte entre o passado
e o futuro cristalino,
onde o povo se encontra
num gesto peregrino,
e o Nordeste se renova
com seu amor genuíno.
A feira é mais que comércio,
é cultura e comunhão,
é poema de resistência
bordado em cada canção.
É a alma que se alimenta
na força da tradição,
mistura de fé e luta,
de suor e de paixão,
símbolo do povo forte
que habita o coração.
🎶 Capítulo VI – A Feira de Caruaru: Patrimônio e Canção
No agreste de Pernambuco,
Caruaru se ergue altiva,
com sua feira famosa
que a cultura cativa.
Luiz Gonzaga cantou nela,
com emoção sempre viva,
numa canção de Onildo,
que o tempo jamais priva,
tornando o chão nordestino
uma pátria criativa.
"Feira de Caruaru",
no baião do rei do sertão,
é retrato da riqueza
do povo em comunhão.
Ali o barro, o couro, o pano,
misturam arte e emoção,
é museu a céu aberto,
patrimônio e tradição,
onde o tempo não apaga
a voz da população.
De todo canto do estado
o povo vem se encontrar,
trazendo milho, feijão,
farinha, rede e lugar.
Tem brinquedo e tem panela,
tem fruta pra se provar,
tem verso de menestrel
e arte pra se admirar,
num espetáculo humano
difícil de se igualar.
Caruaru é capital
da feira e da alegria,
onde o forró é bandeira
da mais pura poesia.
Cada banca é uma história,
cada riso, uma sinfonia,
é a alma do Nordeste
que resiste e contagia,
celebrando com Gonzaga
a força da romaria.
Nasceu do povo simples,
do pequeno agricultor,
que vendia seu sustento
com fé, suor e amor.
Com o tempo se expandiu,
virou centro expositor,
símbolo da resistência
do sertanejo sonhador,
que faz da feira um palco
do mais belo esplendor.
Ali a arte popular
ganha forma e dimensão,
escultores do barro puro
moldam fé e devoção.
Mestre Vitalino eterno
em sua imensidão,
deixou no barro da feira
a marca da criação,
fazendo da argila bruta
um espelho do coração.
Entre cores e sabores
a feira segue a brilhar,
ecoando nos altifalantes
a sanfona a chorar.
É festa e é trabalho,
é canto e é sonhar,
um retrato do Nordeste
que jamais vai se apagar,
porque a alma do povo
ali vai sempre pulsar.
Na canção de Onildo e Gonzaga
o povo se reconheceu,
no verso que eternizou
o que o tempo não corroeu.
Caruaru virou símbolo,
o Brasil inteiro acolheu,
a feira que é patrimônio
e orgulho que cresceu,
mostrando que o sertão
nunca se enfraqueceu.
Quem passa por Caruaru
guarda lembrança e ternura,
do cheiro de bolo quente,
da música e da cultura.
É mais que simples comércio,
é herança e doçura,
onde o Nordeste reflete
sua alma mais pura,
tecendo no barro e no canto
a sua força e bravura.
Assim, entre fé e arte,
Caruaru permanece inteira,
como um altar popular
em cada banca e fileira.
Do passado à modernidade,
segue firme e altaneira,
mostrando ao mundo inteiro
a grandeza brasileira,
que nasceu nas feiras livres,
com alma nordestina e guerreira.
🎤 Capítulo VII – As Vozes do Povo e os Artistas da Feira
Na feira o povo é poeta,
é cantor e é repentista,
é contador de causos
e também artesanista.
É mestre do improviso,
cordelista e humorista,
que transforma a vida dura
em canção realista,
dando voz à esperança
no olhar do nordestista.
No batuque do pandeiro,
na viola e no repente,
brota a alma do sertão,
viva e resplandecente.
A feira vira cenário,
palco do povo valente,
onde o verso é alimento,
e o riso é reluzente,
mostrando que a cultura
é do povo e está presente.
Ali o artista de rua
ergue a mão e declama,
fala do amor e da luta,
da saudade que inflama.
Canta o roçado e a seca,
o destino e a trama,
mostra que a voz popular
é chama que não se chama,
é força que vem do chão
e em todo canto se derrama.
Tem o boneco e a sanfona,
tem o teatro e a ciranda,
tem a embolada ligeira
que o povo tanto demanda.
Tem menino rimador,
moça que canta e comanda,
velho mestre contador
de histórias que a alma manda,
mantendo a chama do povo
que na feira nunca se abanda.
Nas mãos do artesão simples,
a madeira ganha vida,
o barro vira lembrança,
a palha é bem colorida.
Cada traço é poesia,
de herança e despedida,
pois ali mora a cultura,
a memória renascida,
no talento popular
que o tempo não liquida.
Tem também o sanfoneiro,
que faz o chão balançar,
com o forró pé-de-serra
que não deixa o povo parar.
No compasso da zabumba,
é difícil se aguentar,
pois a feira é alegria
e o corpo quer dançar,
é festa e é resistência,
é o povo a celebrar.
Tem vendedor declamando
as ofertas em verso rimado,
"Olha o preço da banana,
tá mais doce que o pecado!"
E o povo, alegre e sorrindo,
já vai sendo encantado,
pois no grito da feira
tem humor improvisado,
tem teatro popular
no comércio animado.
A feira é voz do povo,
é rádio viva do chão,
onde o canto se espalha
sem antena ou estação.
Cada feira é um jornal
de cultura e expressão,
onde o verso se mistura
com a fé e a devoção,
e a palavra é bandeira
da eterna comunicação.
No fim da tarde o pôr do sol
beija o rosto do feirante,
que sorri de dever cumprido,
com olhar confiante.
Pois a feira é mais que lucro,
é legado pulsante,
é a arte de viver
com o coração vibrante,
é poesia cotidiana,
é cultura radiante.
E assim segue o povo-artista,
entre o canto e a labuta,
fazendo da feira um palco
onde o sonho se escuta.
Cada voz é resistência,
cada verso uma luta,
pois a arte é o pão da alma
que o tempo nunca enxuta,
e o Nordeste, nessa feira,
é esperança absoluta.
🕊️ Capítulo VIII – A Feira Como Patrimônio da Identidade Nordestina
A feira é mais que um espaço,
é memória e é raiz,
é retrato do Nordeste,
é cultura e é país.
Ali pulsa a identidade,
que jamais se contradiz,
pois o povo que trabalha
também canta e é feliz,
mesmo quando o sol castiga,
há beleza e cicatriz.
Do passado medieval,
herdou a troca e o trato,
do Brasil colonial,
a mistura e o formato.
Do sertão tirou a força,
do barro, o exato retrato,
do povo, a criatividade,
da fé, o firme contrato,
fazendo da feira o berço
de um povo de bom contato.
Caruaru, Campina Grande,
Juazeiro, Aracaju,
de Petrolina a Exu,
há feiras de norte a sul.
Em cada canto há um verso,
um repente, um candiru,
um artesão e um sorriso,
um vaqueiro e um batu,
unindo gerações vivas
sob o mesmo céu azul.
A feira é patrimônio
que o tempo não desmancha,
é teia de convivência
que o progresso não arranca.
Mesmo o shopping crescendo,
a alma da feira é franca,
pois ali o povo ensina
que a vida é luta e é banca,
onde o humano resiste
e o coração nunca estanca.
É patrimônio imaterial,
guardado na lembrança,
na música, na comida,
na fé e na esperança.
O cheiro de bolo quente,
de canjica e confiança,
mistura-se ao som do riso,
da prosa e da criança,
fazendo da feira um templo
da mais pura bonança.
Lá estão as gerações,
do avô ao neto pequeno,
o saber que se transmite
no costume tão ameno.
Cada produto vendido
tem um valor pleno,
pois traz a mão do homem
e o suor sereno,
na partilha coletiva
de um destino terreno.
A feira é símbolo vivo
de um Brasil profundo e forte,
onde o povo é protagonista
de seu próprio norte.
Ali não há distinção
de riqueza ou de sorte,
todos trocam, todos vivem,
todos fazem seu aporte,
pois a feira é igualdade
em sua mais bela sorte.
É cultura que resiste
em verso, canto e bandeira,
é saber que se recria
na lida costumeira.
Cada feira é documento,
é lição verdadeira,
é museu do cotidiano,
herança duradoura e inteira,
onde o tempo não apaga
a essência sertaneira.
Assim o cordel registra,
com respeito e devoção,
que a feira é monumento
do amor e da união.
É o espelho do Nordeste,
orgulho da nação,
onde o povo se encontra
em pura celebração,
e a alma nordestina brilha
na mais bela tradição.
7️⃣ Encerramento - O Legado das Feiras Livres
A feira é viva, é memória,
é um rio que nunca cessa,
corre o tempo, muda o mundo,
mas o povo não esqueça.
Pois ali mora a cultura,
que a vida enobrece e tece,
num fio de convivência
que o progresso não arrefece,
e a história, em cada banca,
em verso ainda se enriquece.
Do Oriente à Idade Média,
do mercado à devoção,
a feira cruzou oceanos,
ganhou solo e coração.
No Brasil fincou raízes,
virou chão de união,
onde o povo nordestino
ergueu sua expressão,
misturando fé e arte
num só canto e emoção.
O poeta vê na feira
um espelho encantado,
onde o povo se reflete
no labor abençoado.
É museu sem parede,
é altar improvisado,
onde o verbo é trabalho
e o suor é sagrado,
fazendo do cotidiano
um milagre consagrado.
Quem vai à feira descobre
a riqueza do saber,
pois ali o povo ensina
o valor de conviver.
Cada olhar, cada gesto,
é lição de bem-viver,
onde o simples é nobre
e o amor faz renascer,
transformando o chão batido
num templo de aprender.
No grito do feirante,
no forró do sanfoneiro,
na cantiga da rendeira,
no verso do violeiro,
vive o espírito da terra,
do homem brasileiro,
que entre o barro e o canto
é livre e verdadeiro,
fazendo da própria vida
um poema derradeiro.
Assim termina esta história,
de cultura e tradição,
de suor e resistência,
de beleza e comunhão.
Mas a feira não termina,
segue em outra canção,
pois o povo que trabalha
guarda em seu coração
a chama que nunca apaga,
a fé da renovação.
8️⃣ Epílogo Poético – O Canto que Nunca Morre
A feira é o coração
do Brasil que se levanta,
é o canto do nordestino
que o tempo não espanta.
É o cheiro da terra viva,
é voz que nunca se encanta,
é raiz que se espalhou
e a história ainda canta,
mostrando que o povo é arte
que o destino não quebra nem planta.
Lá o tempo se mistura
com o vento da lembrança,
e o menino aprende cedo
a beleza da esperança.
A feira é mais que comércio,
é cultura que balança,
é laço de identidade,
de memória e confiança,
onde o riso é liberdade
e o trabalho é aliança.
E quando o poeta encerra
seu cordel de emoção,
ele sente o mesmo pulso
de um povo em comunhão.
Pois a feira é poesia,
é verso, é multidão,
é o retrato mais fiel
da humana ligação,
onde o povo e a cultura
são a mesma canção.
9️⃣ Nota de Fontes Rimada
As fontes desta escrita,
de saber e tradição,
vêm da história das feiras
e de sua difusão.
Do Oriente à Idade Média,
em cada civilização,
dos mercados babilônicos
ao comércio em expansão,
as feiras foram escolas
de cultura e união.
Da Península Ibérica,
Portugal e Castela,
vieram moldes e feições,
a alma mais singela.
Trouxeram pro Novo Mundo
a feira, tão bela,
que cresceu com o nordestino
em labuta e aquarela,
até virar patrimônio
na vida que se revela.
Fontes da historiografia,
da tradição oral também,
dos estudos da economia
e da cultura do bem.
De Câmara Cascudo à pena
de Gilberto Freyre, amém!
E das feiras populares
que o povo mantém,
em Caruaru, Juazeiro,
Campina, Petrolina e além.
🔟 Ficha Técnica Poética
Título: A Origem das Feiras Livres
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
Gênero: Cordel Histórico-Cultural
Tema Central: A trajetória e a importância das feiras livres, desde suas origens no Oriente até a formação das feiras nordestinas, com destaque à Feira de Caruaru.
Estilo: Versos rimados em sextilhas e oitavas populares, de tom histórico e poético.
Propósito: Valorizar o patrimônio cultural, social e econômico das feiras livres como expressão viva da identidade nordestina.
Assistência Literária e Digital: ChatGPT ( assistente virtual )
Local: Porto Real do Colégio – AL
Ano: 2025
Linguagem: Popular, rimada, de caráter oral e literário.
Direitos Autorais: Reservados ao autor, preservando o registro cultural do povo nordestino.
1️⃣1️⃣ Quarta Capa (Traseira / 3D Digital)
Ilustração 3D: Feira nordestina ao entardecer, barracas coloridas, cordelistas declamando, sanfoneiros tocando, povo sorrindo e trocando produtos.
Texto poético adicional:
Na feira o povo é cultura, é arte e comunhão —
no verso vive a memória, no canto o coração.
Na feira mora a cultura,
O riso e o choro do chão,
Ali o povo é artista,
E o tempo, uma canção.
Quem passa sente na alma
Um sopro de gratidão,
Pois a feira é o espelho
Do coração do sertão.
🌿 Sobre o Autor
Nhenety Kariri-Xocó, contador de histórias orais e escritas, poeta, pesquisador e guardião das tradições de seu povo, de Porto Real do Colégio (AL).
Com sua pena e memória, transforma história em poesia, preservando o encanto das origens e a força da ancestralidade nordestina.
📜 Sobre a Obra
Este cordel-livro é um tributo às feiras livres do Nordeste — espaços sagrados de cultura, economia e vida.
Inspirado em fontes históricas e na sabedoria popular, celebra o povo que transforma cada barraca em poesia e cada feira em celebração da existência.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
Nenhum comentário:
Postar um comentário