WOROY HISTÓRIA, KARIRI-XOCÓ, SABERES E FAZERES
Contos – Volume 14 – Coletânea
Nhenety Kariri-Xocó
📘FALSA FOLHA DE ROSTO
WOROY HISTÓRIA, KARIRI-XOCÓ, SABERES E FAZERES
Contos – Volume 14 – Coletânea
Nhenety Kariri-Xocó
📘VERSO DA FALSA FOLHA DE ROSTO
Obra criada por Nhenety Kariri-Xocó.
Todos os direitos pertencem ao autor.
Proibida a reprodução sem autorização prévia.
📘FOLHA DE ROSTO (FRONTISPÍCIO)
WOROY HISTÓRIA, KARIRI-XOCÓ, SABERES E FAZERES
Contos – Volume 14 – Coletânea
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
Aldeia Kariri-Xocó, Porto Real do Colégio – AL
📘FICHA CATALOGRÁFICA (FICHA TÉCNICA)
(Modelo preliminar – poderá ser ajustado depois)
Nhenety Kariri-Xocó.
Woroy História, Kariri-Xocó, Saberes e Fazeres: Contos – Volume 14 – Coletânea.
Edição independente.
1 .Cultura indígena. 2. Kariri-Xocó. 3. Tradições. 4. Contos. 5. Saberes e fazeres tradicionais.
📘 DEDICATÓRIA
À memória viva dos meus ancestrais Kariri-Xocó,
que caminham comigo na Travessia do Tempo.
Aos encantos do sopro antigo,
à força do rio que me ensina,
aos passos deixados na areia sagrada
e ao espírito que me guia
na construção desta história.
📘 AGRADECIMENTOS
Agradeço à ancestralidade que sustenta minhas mãos,
ao povo Kariri-Xocó que pulsa no meu peito,
ao Grande Mistério que inspira cada palavra
que nasce deste chão vermelho.
Agradeço também a todos aqueles
que honram a memória do nosso povo
e mantêm viva a chama da tradição.
📘 EPÍGRAFE
“A palavra é flecha que atravessa o tempo;
o conto é o caminho por onde o espírito caminha.”
— Sabedoria dos antigos
📘 ABERTURA
Nesta coletânea que nasce do coração da aldeia,
reúno histórias que atravessam séculos,
carregando o brilho dos cantos antigos
e a força da memória que não se apaga.
Cada conto é uma pedra colocada no caminho,
um gesto de resistência,
um abrir de portas para mundos tecidos
pela oralidade, pela fé
e pela coragem dos nossos ancestrais.
Aqui, o tempo não é linha,
é círculo. É retorno. É travessia.
E cada palavra é um passo
entre o ontem e o hoje.
📘 PRÓLOGO
Quando o vento sopra sobre os Saberes e Fazeres do povo Kariri-Xocó,
ele traz histórias que caminham sozinhas,
histórias que aprenderam a existir
mesmo quando o silêncio tentou calá-las.
Este livro é a escuta dessas vozes.
Nesta jornada, Woroy — espírito do caminho —
abre a trilha entre o visível e o invisível.
Os contos aqui narrados pertencem ao chão,
mas foram sonhados no céu.
São memórias que atravessam gerações,
moldadas pela resistência, pela alegria,
pela dor e pela esperança
que fez nosso povo seguir adiante.
Este volume é mais que coletânea:
é guarda, é canto, é retorno.
E ao folhear estas páginas,
o leitor também se torna caminhante.
📘 SUMÁRIO
Dedicatória
Agradecimentos
Epígrafe
Abertura
Prólogo
Contos:
Contos:
1. Iaɲaté Bunhá, A Casa de Barro e Comunhão;
2. Mekuá, O Grafismo Na Marca Viva do Povo;
3. Ubadi, Os Enfeites da Alma;
4. Sitohoyé, A Caçada Coletiva;
5. Badoque Dapró, O Arco Lançador de Pedras;
6. Iaɲaté Bechié, Mutirão da Roça;
7. Pogeɲebe, Bater Colher Feijão;
8. Utsoho Cunubó, Fazer Farinha;
9. Bubehó, Forno de Queimar a Cerâmica;
10. Nhikienkaraí, O Branco de Compaixão.
Apresentação
Introdução
Considerações Finais
Sobre o Autor
Sobre a Obra
Glossário
Agradecimentos Finais
Orelha do Livro
Capa e Quarta Capa
📘 APRESENTAÇÃO
Este livro nasce do encontro entre memória, espírito e palavra.
Cada conto aqui reunido carrega o pulso vivo do povo Kariri-Xocó, seus Saberes e Fazeres, sua força ancestral e sua caminhada sagrada pela Travessia do Tempo.
“Woroy História — Volume 14” não é apenas uma coletânea; é um território narrativo onde o passado conversa com o presente, e o espírito conduz o caminhar do contador de histórias.
Aqui, a tradição oral se encontra com a escrita, preservando e renovando o que nossos antepassados nos confiaram.
O leitor é convidado a atravessar essa porta e caminhar conosco.
📘 INTRODUÇÃO
O povo Kariri-Xocó guarda uma herança espiritual marcada por histórias que não se perdem.
São narrativas que resistem ao tempo, moldadas pelo chão sagrado, pelas águas do rio Opará, pelos Saberes e Fazeres de uma cultura viva.
Esta obra surge como continuidade desse movimento ancestral.
Cada conto representa um fragmento do espírito coletivo, revelando sonhos, lutas, encantos e caminhos que formam a identidade do nosso povo.
Aqui, Woroy — o espírito do caminho — guia o leitor por entre mundos visíveis e invisíveis, mostrando os fios que tecem a vida indígena.
Mais do que uma coletânea, é um gesto de preservação, resistência e amor pela memória ancestral.
📘 CONTOS:
01. IAƝATÉ ERA BUNHÁ — A CASA DE BARRO E COMUNHÃO
Na aldeia banhada pelas águas do grande rio, quando o sol se deita no horizonte, o vento sopra histórias antigas nos ouvidos atentos dos mais novos. É nesse tempo que começa a se falar de Iaɲaté — o mutirão sagrado do povo Kariri-Xocó.
Zawã, um jovem de olhos atentos como os do gavião, havia pedido a mão de Nãmá, filha de um velho sábio das ervas. O casamento se aproximava, e como manda a tradição viva, era chegada a hora de construir a nova morada. Mas não seria apenas uma casa — seria um elo feito de barro, madeira e união.
Na língua Dzubukuá, falada pelos antigos e ensinada aos filhos, Iaɲaté quer dizer “juntar para trabalhar”. E quando a aldeia ouve essa palavra, o chamado é mais forte que o tambor: todos sabem que é tempo de juntar os corpos, os risos, os cantos e as mãos.
Logo ao amanhecer, a floresta foi saudada. Os homens seguiram mata adentro para buscar as madeiras retas e firmes. Com sabedoria antiga, cortaram os troncos certos, trançaram as paredes com cipó forte como laços de sangue. Não havia pressa, cada gesto tinha alma. Sobre a armação, cobriram com capim sapé. E onde não havia sapé, palha de arroz — pois a terra sempre oferece o que for preciso.
Chegada a hora do barro, foi feito o convite: "Venham todos. A casa vai ganhar paredes." As famílias vieram com alegria. Ao redor da futura morada, os homens pisavam no barro cantando, os jovens buscavam água nos potes de barro queimado, as crianças gargalhavam e moldavam pequenos punhados de lama como se fossem brinquedos sagrados.
As mulheres, donas do sabor e do cuidado, preparavam panelas fumegantes de comida, alimentando a força dos que trabalhavam. E os cantos de Iaɲaté ecoavam entre as árvores e as paredes em construção — melodias que contavam histórias de antepassados e anunciavam que ali o amor tomaria forma de lar.
À medida que a taipa subia, as mãos deixavam suas marcas: dedos grandes, finos, pequenos, fortes — impressões digitais de um povo unido. Era como se cada um assinasse ali: "Eu estive. Eu fiz. Eu pertenço."
Quando a casa ficou pronta, o sol se punha novamente. No barro úmido ainda fresco, as marcas eram visíveis como tatuagens da memória. A casa era mais que abrigo — era a história de um povo contada em silêncio, feita com suor, riso e cantoria.
E assim, a cada nova união, renasce o costume. Pois enquanto houver amor, floresta, barro e vontade de estar junto, Iaɲaté Era Bunhá continuará — eterno como o rio que segue.
02. MEKUÁ, O GRAFISMO NA MARCA VIVA DO POVO
Nas margens do velho rio Opará, onde o vento ainda sussurra nomes esquecidos e os cajueiros se inclinam como anciãos em oração, vivia uma jovem chamada Tainá, filha do povo Kariri-Xocó. Seu corpo, como o barro das margens, era tela viva do tempo e da memória. Cada risco em sua pele era um traço da história de muitos — não apenas dela.
Ela cresceu ouvindo as histórias dos mais velhos, que falavam com reverência dos Mekuá, os desenhos ancestrais. Contavam que eles não surgiram por acaso: vinham da junção de mundos, de encontros e dores, da mistura de povos trazidos pelo tempo e pela força da colonização.
“Meká”, diziam os avôs, “é a marca do corpo — a lembrança do Kariri Kipeá.”
“Kuatí”, completavam as avós, “são as listas do Tupi — serpentes que dançam na pele.”
Assim nasceu o grafismo Kariri-Xocó, uma arte que não se limita ao belo, mas que pulsa com o sagrado, com o vivido, com o que sobrevive.
Tainá, sentada ao lado de sua avó Nairá, mergulhava os dedos em Bunhá, o barro vermelho, e moldava potes que ganhavam vida com traços e cores.
— Essa é a Hebunhawí, minha neta — disse Nairá, sorrindo com os olhos. — Pintura de cerâmica. Do He, que é pintar, e do Bunhawí, nossa cerâmica.
— E essa outra? — Tainá apontou para o desenho em seu braço.
— Esse é o Nhiró, pintura do corpo. Do Dzubukuá, que vive em nós.
— E o tear da tia Jacira?
— Aquilo é o Heburuhu, pintura do fuso. Também do Dzubukuá.
Na aldeia de Porto Real do Colégio, chamada de Aldeia Mãe, cada linha pintada, cada pote moldado, cada corpo adornado contava não apenas a resistência de um povo, mas a sua reinvenção. Era ali que as famílias, sobreviventes de antigas dores e silêncios impostos, se reconstruíam entre cantos, grafismos e memória.
Tainá compreendeu então: o grafismo não era só um desenho. Era escudo e asa. Era raiz e flecha. Era o modo como seu povo, feito de muitos, permanecia um só. Misturado, sim. Esquecido, jamais.
E ao olhar para o céu tingido do entardecer, Tainá entendeu que sua missão seria também marcar, com traço e com palavra, a continuidade do que jamais deixará de viver:
o Mekuá — o desenho sagrado da resistência.
03. UBADI, OS ENFEITES DA ALMA
Nas margens do rio onde as águas correm mansas como os sussurros dos ancestrais, vivia a anciã Kamurá, guardiã da memória do povo Kariri. Era ela quem ensinava aos mais jovens os segredos do Ubadi – os enfeites que não apenas adornavam o corpo, mas também a alma e a história dos que vieram antes.
— Ubadi não é só bonito, não, dizia Kamurá com sua voz rouca de sabedoria. — É quem nós somos.
Certa manhã, Yacané, uma menina de olhos vivos como estrela antes da aurora, aproximou-se da anciã carregando penas, sementes e um pedaço de barro.
— Vovó Kamurá, ensina pra mim?
Kamurá sorriu e a fez sentar ao seu lado, debaixo da sombra generosa do juazeiro.
— Vamos começar com as plumas. Estas vêm das aves sagradas. Vê este cocar? Cada pena aqui foi conquistada com respeito. Usamos para honrar os espíritos que voam alto — e passou o cocar sobre a cabeça da menina como uma coroa de vento e lembrança.
Ela mostrou os colares de sementes, os brincos de ossos, os braceletes de conchas e os pingentes de dentes de animais. Cada peça tinha uma história, um espírito, uma ancestralidade.
— Antes dos brancos chegarem, usávamos só o que a natureza nos dava. Hoje, alguns usam miçangas de vidro, fios coloridos e até plástico. Mas o espírito do Ubadi permanece: não é o material, é o significado.
Kamurá mergulhou os dedos em uma tigela de urucum e outra de genipapo e desenhou sobre o rosto de Yacané traços que pareciam raízes dançando.
— Essa pintura é tua identidade. Quando dançares no Toré, todos saberão quem és e de onde vens.
Depois, mostrou os cestos de cipó, feitos para colher frutas e guardar os peixes do rio. As panelas de barro, moldadas pelas mãos das mulheres, repousavam como luares secos sobre esteiras de palha.
— Vê este tacape? — disse, levantando um bastão de madeira escura, lustrado pelo tempo. — Quando o velho ancião ergue esse bastão, não é violência... é autoridade. É a palavra dos antigos que ecoa.
Yacané tocava tudo com olhos encantados, como se cada objeto fosse um livro vivo.
— Ubadi é enfeite? — perguntou com inocência.
Kamurá respondeu com firmeza doce:
— Ubadi é espelho do nosso mundo. Cada povo indígena tem seu modo de fazer, seu rito, sua alma. Os elementos podem ser parecidos, mas o sentido nasce do coração de cada etnia.
Naquela noite, à beira da fogueira, Yacané dançou com seu cocar de penas simples, pintura fresca no rosto e o colar que ela mesma havia feito com sementes do mato. E todos ali, dos mais novos aos mais velhos, viram que o espírito do Ubadi brilhava naquela menina como o fogo ancestral que nunca se apaga.
04. SITOHOYÉ, A CAÇADA COLETIVA
Houve um tempo em que a aldeia enfrentava dias de grande escassez. O silêncio dos estômagos vazios pesava mais que o calor do sol, e a fumaça das panelas vazias subia apenas com água e esperança. Diante disso, os anciãos se reuniram em volta da fogueira sagrada. As chamas dançavam como espíritos atentos, enquanto o pajé, com seus olhos sábios e voz firme, chamou o cacique e a comunidade para tomar uma decisão.
Era hora de invocar o antigo costume: SITOHOYÉ, a caçada coletiva.
Logo ao amanhecer, um grupo foi escolhido entre os mais valentes e hábeis guerreiros. Cada um com sua vocação, cada passo guiado pelo espírito da floresta. Saíram em silêncio, com o coração firme e os olhos atentos ao chamado da natureza.
Primeiro chegaram ao rio. As águas corriam calmas, mas pareciam vazias. Nenhum sinal de peixes à vista. Foi então que Pirapotã, conhecido por mergulhar fundo nas águas da Mãe-Terra, olhou o rio com atenção e disse:
— Aqui moram os peixes de águas profundas.
Sem hesitar, mergulhou. E logo trouxe à tona surubins, niquins e curimatãs, que brilhavam como prata molhada.
A jornada continuou. No interior da mata densa, o grupo encontrou árvores carregadas de frutos. Mas estavam altos, fora do alcance. Foi aí que Itawaçú, o escalador mais ágil da aldeia, subiu como um vento leve entre os galhos. Em pouco tempo, desceu com goiabas maduras, pitangas vermelhas como sangue novo e cachos de aricuri.
Mais adiante, na beira de um lago, viram aves em revoada: nambús, marrecas, patos selvagens. Eram ligeiras, quase impossíveis de alcançar. Mas Muirátã, o melhor arqueiro do povo, firmou seus pés na terra, puxou o arco com serenidade e, com flechas certeiras, abateu várias aves.
Seguindo as trilhas, Candará, o mestre rastejador, estudava as pegadas no chão com a sabedoria dos bichos. Logo descobriu os esconderijos das cutias, preás e tatús. Com cuidado e precisão, caçaram sem desperdício.
Enquanto isso, Natirã, o farejador da aldeia, sentiu no ar o perfume adocicado das flores. Seguindo o aroma, encontrou uma colmeia escondida entre as árvores. Com respeito e técnica, retiraram mel puro, que escorria como ouro vivo entre os dedos.
Depois de dias na mata, os guerreiros voltaram. A aldeia os recebeu com cantos e sorrisos. Trouxeram fartura: peixe, caça, mel, frutas e aves. Mas mais que isso, trouxeram a força da união. Porque foi o dom de cada um, somado ao espírito do coletivo, que saciou a fome de todos.
E assim, entre cantos, danças e partilha, SITOHOYÉ se tornou mais do que uma caçada: virou lição de vida.
05. BADOQUE DAPRÓ, O ARCO LANÇADOR DE PEDRAS
Na aldeia do tempo em que os caminhos ainda eram riscados pelos pés descalços na terra batida, havia um menino curioso chamado Dapró. O seu nome, como cantavam os mais velhos no Toré, significava “Arremessar longe”. E de fato, Dapró era atento. Enquanto os outros meninos brincavam de correr entre os cajueiros, ele observava as mãos dos velhos artesãos, os modos dos caçadores, os segredos dos pássaros.
Certa tarde, seu avô, o sábio Manoel Karuá, o chamou debaixo do pé de juazeiro. Com voz lenta, como o vento nas folhas secas, lhe mostrou um instrumento antigo, pendurado num galho, meio esquecido:
— Tá vendo isso aqui, meu neto? — disse erguendo o objeto. — É o badoque. Arco de dois cordões e couro de veado no meio. Foi com ele que cacei preás, nambus e até coelho selvagem lá nas matas do Aricuri.
Dapró arregalou os olhos. Parecia um arco de brincar, mas havia algo de misterioso naquele couro firme, na curvatura exata dos fios de algodão trançado. O avô sorriu com orgulho e continuou:
— Isso aqui não é brinquedo. Era arma de precisão. Nós, Kariri do Nordeste, sabíamos usar isso com destreza. O melhor de todos foi Geraldo dos Baca, homem de vista fina e pulso firme. Dizem que acertava passarinho em pleno voo sem errar.
O menino ouviu como quem ouve um canto sagrado. Quis aprender. E aprendeu.
Os dias seguintes foram de treino e prática. Dapró recolhia pedras arredondadas do rio, cortava o couro com cuidado, trançava os cordões com fibra de algodão cru e, aos poucos, o som do zunido do badoque cortava o ar da aldeia.
A primeira caça foi um susto: um nambu desceu do galho com um só disparo. Não era apenas sorte, era tradição renascida.
Os mais velhos começaram a sorrir. Diziam que o espírito de Geraldo dos Baca talvez tivesse escolhido aquele menino para continuar o dom. E assim foi.
Dapró cresceu e virou mestre do badoque. Mas sua missão não era apenas caçar. Era ensinar. Reuniu crianças e adolescentes, contou histórias, mostrou como fazer e usar o arco lançador de pedras.
— Não adianta ter badoque pendurado na parede — dizia com firmeza. — A tradição vive é no fazer, no usar, no ensinar. Se não passar adiante, a memória morre.
Hoje, muitos jovens da aldeia sabem o que é um badoque. Alguns até se tornam bons caçadores, mas todos sabem que aquele instrumento carrega mais que pedras — carrega história, saber, espírito ancestral.
E lá na parede da casa de Dapró, agora homem velho, pendura-se um badoque novo, feito por seu neto. E a roda do tempo segue girando.
06. IAƝATÉ BECHIÉ, MUTIRÃO DA ROÇA
O sol ainda mal despontava por entre as copas das árvores altas quando os primeiros passos pisaram o chão fresco da terra escolhida. Era tempo de Iaɲaté — o mutirão da roça. No coração da aldeia Kariri-Xocó, a comunidade se preparava para mais uma jornada de trabalho coletivo, um costume antigo que ecoava como canto ancestral entre os galhos e as raízes da memória.
Anaciã, mulher de sabedoria firme, já separava o feijão para o almoço comunitário. Seu filho mais velho, Indoá, observava os homens afiando as foices à sombra de um umbuzeiro. A terra, úmida das últimas chuvas, parecia sorrir sob os pés descalços dos que se aproximavam, vindos de várias casas, de várias famílias.
— Hoje é dia de roçar, meu filho — disse o avô Ibinawá, entregando-lhe uma enxada com cabo novo. — Iaɲaté começa com o respeito à terra e à união.
Na área marcada, os homens avançavam em fileiras, derrubando o mato fino, deixando em pé apenas as grandes árvores. As sombras dessas árvores refrescavam o corpo e também a alma. Outros puxavam os tocos teimosos, limpando a área com dedicação. Tudo que era arrancado era levado para o centro da futura roça, onde seria feito o ajuntamento para a coivara.
Ao meio-dia, o aroma da feijoada trazia todos de volta para perto das panelas de barro. Homens, mulheres, jovens — todos sentados em esteiras de palha, dividindo histórias, risadas e o alimento sagrado.
— Esta é a força do nosso povo — disse Anaciã, servindo um prato a um jovem recém-chegado. — Trabalhamos juntos, colhemos juntos, vivemos juntos.
Depois de dias de roçado, veio a coivara. O mato seco crepitava em labaredas controladas, limpando o terreno com respeito ao ritmo da natureza. Em março, as mãos já depositavam sementes na terra: milho, feijão, mandioca. Era o nascimento do Bechié — a roça viva.
Quando abril chegou, os matos indesejados ameaçavam as brotações, e com eles veio outra fase do mutirão: a limpeza da lavoura. Mas agora os cantos de rojão ecoavam. Homens e mulheres formavam duplas, trocando desafios em versos cantados, em vozes fortes, cheias de riso e provocação saudável. O som atravessava as plantações e alcançava os corações como batida de tambor ancestral.
— Vamos ver quem vence na cantoria hoje! — gritava uma mulher, enfrentando o compadre com versos de sabedoria e alegria.
O tempo passou, os meses correram. Junho trouxe a colheita do milho verde, do feijão, da abóbora e da batata. Dezembro chegaria com a mandioca e o algodão, encerrando mais um ciclo da roça viva, da terra mãe.
Apesar das mudanças dos tempos, dos asfaltos que tentam cobrir os caminhos de barro, o mutirão da roça ainda pulsa no peito dos Kariri-Xocó. Iaɲaté Bechié não é apenas um costume — é memória viva, é comunhão. É a certeza de que onde há canto, terra e gente de coração firme, há também resistência.
E ali, no coração do sertão de Alagoas, essa tradição continua. Como diz o povo: “Enquanto houver canto de rojão e mão que planta, a roça viverá.”
07. POGEƝEBE, BATER COLHER FEIJÃO
Na beira da aldeia, quando a lua ainda caminhava devagar no céu e a terra soltava o cheiro da madrugada, o velho Tupanã já afia o cabo da enxada com uma pedra de rio. Era tempo de plantar. Os mais velhos diziam que a terra sussurra quando está pronta. E naquele ano, o Bechié, o roçado sagrado do povo Kariri-Xocó, estava vibrando em silêncio, pedindo o uahí – a lavoura.
Na manhã seguinte, os passos dos homens abriram caminhos na terra. Entre eles, Tupanã e seu neto Piragibe, que, com os olhos acesos de curiosidade, via pela primeira vez o ritual do plantio. As mulheres seguiam atrás, com as saias roçando o mato e as mãos firmes segurando as sementes do geɲe, o feijão que alimenta corpo e espírito. No ombro, levavam cabaças d’água e, sob a sombra generosa do juazeiro, acendiam o fogo, tiravam o cachimbo pawí e sopravam memórias no vento.
— Primeiro cava com o tasí, Piragibe — dizia Tupanã, enterrando a enxada como quem pede licença à terra. — Depois a mulher vem e planta. É assim que o mundo começa de novo.
O tempo passou, o sol correu e a chuva respondeu ao chamado da terra. Quando julho chegou, trazendo o cheiro de folhas secas e céu limpo, foi hora de colher. Tupanã, como manda o costume, chamou toda a família. O mutirão formou-se com passos, cantos e risos. A mulher de Tupanã, dona Iacira, preparava comida no mesmo juazeiro onde meses antes se fumava o cachimbo.
No terreiro arredondado, diante da roça, os feijões arrancados formavam pequenos montes. Ali, ao sol por três dias, os grãos secavam sob vigília das crianças que brincavam ao redor. E então, finalmente, chegou o dia do Pogeƞebe — bater colher feijão.
Os homens, com cacetes de madeira, começaram a bater as ramas secas. A cada pancada, a vagem se abria como uma boca de segredo, libertando as sementes que saltavam aos montes. Era como se o som ecoasse a voz dos antigos, ensinando a cada batida que o alimento é um dom, mas também é suor, comunidade e partilha.
Quando o sol beijou a linha do horizonte, os cestos já estavam cheios. Quem ajudou ganhou um punhado, sinal de gratidão. O restante foi ensacado com cuidado. No dia seguinte, a carroça puxada por burros seguia caminho rumo à casa de Tupanã, levando não apenas alimento, mas o fruto de um ciclo de tradição.
Alguns sacos seriam vendidos no comércio, mas a maior parte ficaria com a família. Era dali que viriam os pratos de sustança, as histórias ao redor do fogo, e os grãos que voltariam à terra no ano seguinte.
Assim, de geração em geração, o povo Kariri-Xocó mantém vivo o Pogeƞebe — não apenas como trabalho, mas como celebração do modo de viver.
08. UTSOHO CUNUBÓ, FAZER FARINHA
Um conto de tradição Kariri-Xocó
O céu de março se abria em gotas serenas sobre a terra quente da Colônia Indígena Kariri-Xocó. As primeiras chuvas não vinham apenas molhar o chão: elas despertavam o tempo da mandioca, ou como os antigos diziam, muicú. Era o início do ciclo sagrado.
Homens, mulheres, crianças — todos sabiam que a vida na roça estava em movimento. A terra, cuidadosamente limpa e arejada, recebia as hastes da mandioca com respeito. Levava tempo. Sete, doze meses, às vezes mais. A paciência era parte do cultivo.
Quando chegava o tempo do utsoho cunubó — o fazer da farinha — um chamado ecoava pelos quintais da aldeia. Era a hora do mutirão.
Ali, entre os caminhos de barro batido, os homens saíam cedo. De enxadas nas mãos e força nos ombros, arrancavam as raízes grossas da mandioca e as levavam até a casa de farinha, a erá cunubó. Nossa casa de farinha tradicional era de palha, guardava histórias nas paredes de taipa e cheiro de fumaça no teto, muito depois o Posto Indígena fez a casa de alvenaria em 1960.
As mulheres, de mãos ágeis e firmes, raspavam uma a uma as mandiocas, transformando casca em brilho branco. Então começava o trabalho do caititú, o moedor de madeira forte. A massa era moída, prensada e levada ao forno aquecido, onde dois homens mexiam a farinha com cuidado, como se embalassem um segredo ancestral.
O tempo da farinha não tinha pressa. Dois, três dias. Dependia da abundância da mandioca, da alegria dos cantos, da resistência dos corpos. Quando pronta, era guardada em sacos ou em potes de barro. Cada um recebia sua parte, mas o dono da roça ficava com a maior quantidade — era justo, era tradição.
Entre uma fornada e outra, as mulheres preparavam delícias. Usavam o forno ainda quente para assar o waraeró, o beiju feito da massa fresca. Em seguida, vinham o woudu, um bolo firme, natural e cheiroso, e o doce saredu, preparado com massa fina e sabor adocicado, feito para celebrar.
Ao fim do trabalho, o terreiro da casa de farinha virava festa. Panelas de carne ferviam no centro, bolos de mandioca se espalhavam entre risos e histórias. Os cantos de trabalho viravam cantos de agradecimento. As crianças corriam, os velhos contavam os dias de outrora.
Hoje, poucos ainda fazem farinha. Mas a mandioca continua nas roças. E o saber... ah, o saber permanece. Vive na memória das mãos, nos olhos dos mais velhos, no espírito de quem ainda sonha com o cheiro da farinha assando ao cair da tarde.
Porque utsoho cunubó não é só trabalho. É caminho. É união. É tradição viva do povo Kariri-Xocó.
09. BUBEHÓ, FORNO DE QUEIMAR A CERÂMICA
Na aldeia Kariri-Xocó, o tempo parecia caminhar no ritmo das mãos das ceramistas. Mãos firmes, calejadas, conhecedoras do barro, que transformavam a argila em vida, em utensílios que guardavam água, cozinhavam feijão e resistiam ao fogo. Era ali, na curva do Rio São Francisco, que o Bubehó — o forno cerâmico — se acendia como o coração ardente de uma tradição ancestral.
As mulheres eram as tecedeiras do barro, moldando o Ruño — o pote cerâmico — e a Runhú — as panelas de barro. Seus cantos ecoavam entre os quintais, entrelaçados com o som do barro sendo amassado, moldado, afinado. Enquanto isso, os homens partiam cedo para o mato, em busca da lenha seca, escolhida com sabedoria para alimentar a fome do Bubehó.
O Anran umah, o homem do fogo, era quem assumia a tarefa mais exigente: preparar a queima. Ele conhecia cada detalhe do forno feito de tijolos e argila, com sua câmara e pequena abertura como boca faminta. Sabia o momento certo de empilhar os potes com cuidado, respeitando a ordem das peças e o sopro do vento.
Quando a tarde caía, o fogo ganhava vida. Labaredas dançavam dentro do Bubehó, como espíritos antigos saudando a tradição. Durante três horas, o calor invadia o ar, tingindo o céu com o perfume da madeira e o sussurro do barro se tornando pedra.
No silêncio da noite, o forno então descansava. Era preciso deixá-lo esfriar aos poucos, respeitar o tempo do barro. Somente o amanhecer permitiria que o Anran abrisse sua boca e retirasse, um a um, os objetos que agora estavam prontos para servir ou viajar às feiras das cidades e dos povoados ribeirinhos.
Mas os tempos mudaram. A partir da década de 1990, as geladeiras começaram a chegar às casas ribeirinhas. Os potes cerâmicos perderam seu lugar. As panelas de barro foram sendo esquecidas. As feiras já não esperavam ansiosas pelas ceramistas.
E as mulheres, as grandes mestras do barro, foram ficando velhas. Poucas continuam a moldar. Poucas ainda cantam enquanto trabalham a terra molhada.
Mas o Bubehó ainda está lá. Silencioso. De vez em quando, volta a se acender.
Porque ainda há um guardião do fogo.
E enquanto ele respirar, o forno viverá. E com ele, a memória do povo Kariri-Xocó continuará ardendo, como brasa que nunca se apaga.
10. NHIKIENKARAÍ, O BRANCO DE COMPAIXÃO
Em tempos antigos, quando a região da Aldeia de Colégio ainda pertencia à imensa Capitania de Pernambuco, os colonizadores haviam se assenhoreado das terras indígenas, tomando para si as margens férteis do Opará, o grande rio.
Os nativos, privados de plantar e de pescar livremente, lutavam para sobreviver. Certo dia, sob o sol que cintilava nas águas do rio, o ancião Ehêbá saiu com seu filho, o pequeno Wianã, para tentar a sorte na pesca. Caminharam até as margens do Opará, lançaram as redes, mas o dia todo se passou sem que um único peixe mordesse a isca.
Quando o sol já começava a declinar, tingindo o céu de laranja e púrpura, pai e filho permaneceram à beira do rio, junto a uma vasta roça de milho que se estendia, verde e dourada, até onde a vista alcançava.
Wianã, com os olhos suplicantes, virou-se para o pai e disse:
— Pai, estou com fome...
Ehêbá, com o coração apertado, respondeu com tristeza:
— Meu filho, não pegamos peixe... e nada temos para comer.
O menino, então, apontou com esperança para as espigas maduras que se balançavam suavemente ao vento:
— Olha, pai! Quanto milho!
Mas o ancião, com o peso dos ensinamentos de seus ancestrais, murmurou:
— Filho, esse milho não é nosso...
Wianã permaneceu em silêncio, mas sua fome era visível, seu rosto abatido. Ehêbá, tomado pela compaixão, não resistiu. Aproximou-se da plantação e, com cuidado, retirou três espigas, assando-as ali mesmo, na brasa improvisada entre as pedras.
Enquanto o cheiro doce do milho assado se espalhava pelo ar, surgiu, entre as fileiras da plantação, o dono da roça — João do Brejo, um homem robusto, com o olhar severo de quem zela pelo que é seu.
Ao ver os dois indígenas, perguntou em tom áspero:
— Vocês plantaram alguma roça aqui para tirar milho sem minha ordem?
Ehêbá, com serenidade e dignidade, ergueu o olhar e respondeu:
— Olá, seu João. Quem plantou essa roça aqui, nas terras dos índios, foi Nhikienkaraí "O branco de compaixão" um filho de Deus. A criança chorava de fome… e eu tirei três espigas para saciar a fome dele.
João do Brejo permaneceu em silêncio por um instante. Seu olhar endurecido se desfez, amolecido pela cena que presenciava: um pai que, mesmo diante da penúria, ensinava ao filho o respeito, mas que, diante da fome, cedia por amor.
Então, com um gesto de rara compaixão, João disse:
— Ehêbá, me perdoe por tê-lo repreendido. Vou tirar mais milho, feijão e abóbora para o senhor levar.
Ehêbá, surpreso e emocionado, curvou a cabeça em agradecimento. E assim, naquele dia, entre o som manso do rio e o crepitar da brasa, nasceu o respeito mútuo entre dois homens, marcando a memória do Opará com a história de Nhikienkaraí — o Branco de Compaixão.
Autor dos Contos: Nhenety Kariri-Xocó
📘 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao encerrar esta jornada, reafirmo que cada conto é uma semente ancestral plantada no solo da palavra.
A força dos Saberes e Fazeres Kariri-Xocó não se restringe ao passado; ela floresce em cada novo leitor que se permite atravessar pela sabedoria dos antigos.
Que esta obra siga como flecha de luz, levando adiante a história do nosso povo, com respeito, verdade e espírito vivo.
Que Woroy continue abrindo caminhos para todos nós.
📘 SOBRE O AUTOR
Nhenety Kariri-Xocó é contador de histórias, poeta, pesquisador cultural, guardião da memória de seu povo e filho da aldeia Kariri-Xocó de Porto Real do Colégio, Alagoas.
Sua escrita une tradição e espiritualidade, preservando os cantos, caminhos, Saberes e Fazeres transmitidos pela ancestralidade.
Dedica-se à produção de contos, cordéis, estudos culturais e narrativas que fortalecem a identidade indígena brasileira.
📘 SOBRE A OBRA
“Woroy História, Kariri-Xocó — Saberes e Fazeres — Volume 14” integra uma coletânea voltada à preservação da memória ancestral.
O livro reúne contos que atravessam mundos espirituais, tradições orais e vivências do povo Kariri-Xocó.
Cada capítulo se conecta ao propósito maior de fortalecer a raiz, iluminar a caminhada e celebrar o espírito que sustenta a cultura do povo originário.
📘 GLOSSÁRIO
Badoque Dapró — O Arco Lançador de Pedras, geralmente na captura de aves para utilizadas na cultura.
Bubehó — Forno de Queimar a Cerâmica, construção de pedra e barro onde queima a cerâmica tradicional.
Encanto / Espírito — Manifestação espiritual ligada à natureza.
Iaɲaté Bechié — Mutirão da Roça, atividade agrícola tradicional, trabalho coletivo entre as famílias.
Iaɲaté Bunhá — A Casa de Barro e Comunhão.
Mekuá — O Grafismo Na Marca Viva do Povo.
Nhikienkaraí — O Branco de Compaixão, colonizador que se comoveu com os indígenas passando necessidade diante da invasão do território nativo.
Opará — Rio São Francisco, sagrado para os povos indígenas.
Oralidade — Forma tradicional de transmissão de saberes através da fala.
Pogeɲebe — Bater Colher Feijão, atividade de tirar as sementes das vagens utilizando varas ou pau.
Saberes e Fazeres — Conjunto de práticas, ensinamentos e modos de viver transmitidos pela ancestralidade.
Sitohoyé — A Caçada Coletiva, atividade praticada em grupos .
Travessia — Caminho espiritual entre tempos e mundos.
Ubadi — Os Enfeites da Alma, ornamentos de penas, osso, conchas, madeira que embeleza o corpo.
Utsoho Cunubó — Fazer Farinha, a fabricação de farinha artesanal do modo tradicional de forma coletiva.
Woroy — Espírito do caminho; guia ancestral.
📘 AGRADECIMENTOS FINAIS
Agradeço aos meus ancestrais, que nunca deixaram minha palavra caminhar sozinha.
Ao meu povo Kariri-Xocó, que pulsa em cada conto desta obra.
Aos Saberes e Fazeres que sustentam nossa cultura.
Ao espírito Woroy, que abre caminhos e ilumina a travessia.
E ao leitor, que agora também carrega consigo um pouco da nossa história.
📘ORELHA DO LIVRO
Este livro é um convite para entrar nos caminhos dos Saberes e Fazeres Kariri-Xocó.
Em cada conto, Nhenety Kariri-Xocó entrelaça tradição oral, espiritualidade e poesia, guiando o leitor pela Travessia do Tempo.
“Woroy História — Volume 14” revela mundos que respiram, vozes que ecoam e histórias que se recusam a desaparecer.
Aqui, o passado é vivo.
O presente é ritual.
E o futuro é semente.
📘 CAPA (TEXTO)
WOROY HISTÓRIA, KARIRI-XOCÓ, SABERES E FAZERES
Contos – Volume 14 – Coletânea
Nhenety Kariri-Xocó
📘 QUARTA CAPA
Nesta obra, Nhenety Kariri-Xocó conduz o leitor pela Travessia do Tempo, revelando contos que unem ancestralidade, Saberes e Fazeres e resistência.
Cada narrativa reforça a importância da memória indígena e a força espiritual que sustenta o povo Kariri-Xocó.
Uma coletânea que honra o passado, ilumina o presente
e entrega ao futuro a semente sagrada da palavra.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó












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