domingo, 28 de novembro de 2010

ALEGRIA DE PAPAI

 
Familia reunida
   Meu pai era uma pessoa alegre, gostava de rir. Pegava as crianças e começava a brincar; colocava eu e meu irmão no braço, cantava e pulava. Corria e bulia com os meninos na aldeia. Às vezes dizia: "menino que anda nu, eu capo!" Os meninos saiam correndo sorrindo. As mães diziam: "o que é isso?". Eles diziam: "é o tio Olire; diz que vai capar!" Elas diziam: "é não; ele só tá brincando!"

Quando meu pai vinha da cidade, trazia banana, bala e bagana após vender o peixe. As crianças diziam: "tio Olire, me dê uma banana!" Ele nunca negava; às vezes, até os adultos. Nosso estilo de vida era mais ou menos; meu pai era um batalhador pelo pão nosso de cada dia. Quando ele ia na rua Dr. Clementino do Monte, de frente ao rio, na bodega do seu Joaquim comprar qualquer coisa, eu escapulia atrás dele; quando ele chegava lá, eu chegava também. Ele dizia: "o que é que você quer, José?" Eu dizia: "aquelas cocadas"; ele comprava, me dava e eu saía correndo para casa.
Minha mãe dizia: "já foi atrás de seu pai? Quando nós for almoçá, você nem belisca o comer!" Nessa hora papai chegava e minha mãe dizia: "mas rapaz, você comprou de novo cocada para esse menino!" Ele dizia: "comprei, ele gosta!" Ele era aquele pai que atendia os filhos no que precisassem: carinho, amor, só gritava: essa era a pisa que ele nos dava em caso de desobediência.

Nhenety Kariri-Xoco

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