domingo, 28 de novembro de 2010

PAI E OS PEIXES

Canoa atual agora é motorizada
    Meu pai Alírio era conhecido por Peixe Caro pelos brancos da cidade. Quando era de madrugada saía para a margem do rio, a esperar os pescadores chegarem nas canoas; uns eram daqui da cidade; outros moravam no povoado Tibiri e de São Brás. No porto encostavam as embarcações; os balaios eram cheios para levar para casa, começar a negociar o peixe pelo tamanho e qualidade; nessa hora eu acordava com as teimas de vendedor e comprador. Depois do acerto eles iam embora.
Sarapó peixe nativo do São Francisco

Mamãe acordava para fazer o café da manhã e eu ia olhar os peixes. Tinha piranha, aragú, curumatá, dourado, sarapó, curvina, bagre, niquin, piau. A sala estava repleta de peixe. Após o café, meu pai pegava um balaio cheio. Ia vender pelas ruas da cidade. Quando acabava ele retornava para casa, para levar outro carrego. O peixe que ficava e não era vendido seco, era tratado e salgado em gamelas para vender aos matutos do interior que vinham à cidade para a feira, na sexta.
Na quinta-feira, papai matava porco para vender na estação ferroviária aos funcionários da Rede e para receber quando saísse o pagamento. Nossa casa tinha fartura; papai sempre andava com dinheiro no bolso e não deixava nada faltar: o alimento, a roupa, o remédio, tudo que uma casa precisava e a sua família.

Nhenety Kariri-Xoco

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