domingo, 28 de novembro de 2010

BOM PAI

 
Pescaria de Jereré no Rio São Francisco
   Para criar os filhos, Alírio começava a andar pelas ruas da cidade, com um balaio de peixe, aproximadamente 60 kg de peso na cabeça, gritando: "olha o peixe!" Toda vez que alguém queria comprar, ele tinha que colocar esforçando a carga em baixo. Quando era no verão, aquele calor do sol ele suportava nos paralelepípedos das ruas. Aquele peso diário era rotina só para ver a família numa boa. No inverno, período das chuvas, não parava essa profissão; nunca tinha férias nem frio e nem calor. Toda a cidade o conhecia como um bom pai de família; sua freguesia abrangia todas as classes da sociedade colegiense; foi respeitado do menino ao mais velho.

Na época que as lagoas Comprida, Grande, Coité ficavam cheias, o peixe era abundante; o dono prendia o peixe no viveiro. De madrugada começavam a bater na porta. Diziam: "seu Liro, seu Tojal está chamando". Era o empregado da Lagoa Grande. Ele acordava ainda escuro; os cachorros começavam a latir e ele saía para a porta d'água: "Tojal, oi eu!" Ele dizia: "o peixe tá aí; quantos quilos vai querer hoje?" Papai respondia: "vou querer uns 200 quilos". Seu Tojal dizia: "só isso?" Papai rebatia: "sim, eu sou só; vou dar três viagens para casa com esse peixe para começar a vida". O sol começava a raiar; quando eu acordava, em cima da mesa já estava o que seria para o almoço.


Nhenety Kariri-Xoco 

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