domingo, 28 de novembro de 2010

ANTES DO POSTO

Índios morando na Rua Santa Cruz antes do Posto Indígena
    Mamãe também sabia fazer lingüiça, que aprendeu com minha avó Pureza. A corda era repleta do produto; tirava para a alimentação do pessoal da casa e a outra parte vendia aqui mesmo, a quem viesse comprar.
Ela me contava, que muitos anos antes da fundação do Posto Indígena Padre Alfredo Dâmaso, as coisas eram muito mais difíceis para os índios. Os brancos da cidade, principalmente a polícia, perseguiam os indígenas, proibindo de dançar o Toré na rua em que moravam. À noite, um pessoal que não sei o nome, chegava na rua dos Índios e mandava que nossos parentes fossem dormir cedo, às seis horas. Não podiam ouvir choro de menino.
Esse pessoal era malvado, espancava índios com chibata, montava no índio (homem) como se fosse animal, com esporas nos pés e feriam aqueles que não tinham quem os acudisse. Certa vez os índios estavam reunidos debaixo de um pé de juazeiro e começaram a dançar o Toré; entre eles havia alguns brancos da cidade observando o fato. No momento da dança em movimento, o índio Pedro Tinga pisou no pé duma mulher branca sem querer e ela caiu fazendo cenas de drama.
Alguém foi dar queixa às autoridades locais; a polícia chegou, acabou com as danças, pegou o índio Pedro Tinga e começou a espancar desde a rua até a delegacia. Arrastaram pelo chão. Os outros índios não puderam fazer nada; não tinham proteção. Ficavam temerosos porque ninguém estava do seu lado. Os índios vieram a ter algum respeito após a fundação do Posto, em 1944.

Nhenety Kariri-Xoco

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