domingo, 28 de novembro de 2010

TRADICAO CERAMICA

Forno pronto para queimar  a ceramica
Ceramica secando ao Sol para depois ser queimada
Ceramista ensinando as crianças na escola
Comerciante da cidade comprando a ceramica
Maria Pureza, minha avó por parte de mãe, era ceramista; trabalhava em casa, como todas da profissão. Na aldeia, quando uma mãe de família não plantava arroz de meia, a alternativa foi sempre o trabalho com barro. Pureza fazia pote, panela e frigideira na própria casa onde morava, que servia de residência e olaria. As meninas da casa aprendiam com a mãe a arte, para ajudarem o marido a criar os filhos.
Minha mãe, filha mais velha, ajudava minha avó, que lhe passou o segredo da cerâmica; quando se casou, sabia todo o manejo da palhete do coité. Ela contava que viajou muito mais o meu avô Euclides; carregava a louça queimada no forno para a canoa grande de Cícero Catingueira, um branco da cidade; subia ao sertão pelo rio São Francisco vendendo potes e panelas pelas cidades e povoados até o município de Pão de Açúcar.
Na volta trazia farinha, peru, galinha e dinheiro, após uma semana fora de casa. Quando a canoa chegava ao porto defronte a aldeia encalhava; meu avô descia e mandava mamãe chamar as irmãs em casa para ajudar a levar a bagagem; era uma grande alegria, porque todos agora iam ter comida em fartura para os próximos dias.
Mamãe ajuntava, no canto, um cento de potes por semana de trabalho; quando estava com uma fornada pronta, com cerca de 250 objetos diversos, começava meu pai a comprar a lenha para efetivar a queima. O cacique Otávio, que tinha um forno, era sempre o que queimava a louça após fazer a arrumação. Começavam a vir os cambistas (compradores) da cidade, o sr. Manoel de Bilé e a sra. Bina, não-índios, e o dinheiro da produção era pago na hora da entrega.
Minha mãe Lurdes pegava o dinheiro e apresentava a papai para ver o que ia fazer, mas geralmente ele mandava ela comprar umas roupinhas para nós ou alguma coisa que necessitasse. Ela começava de novo a fazer o mesmo trabalho de cerâmica. Tinha índio que descia a Penedo, Piassabuçu e Brejo Grande para vender louça de barro. Mamãe mandava uns objetos. A canoa encostava e começavam a embarcar a cerâmica: homens, mulheres e crianças ajudavam no carrego.
 
Nhenety Kariri-Xoco  

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