domingo, 28 de novembro de 2010

ESCOLA INDIGENA


Escola vizinha Casa da Família 1946

A escola da aldeia fazia parede com a nossa casa; dava até para ouvir as aulas da professora Terezinha Wanderley, uma branca da cidade de Colégio. Por ansiedade de estudar, pedia a meu pai que queria. Ele, pela minha insistência, foi na mercearia de seu Antônio Donato e comprou um ABC de cor vermelha e deu para mim. Mamãe foi à escola comigo e falou: "comadre Terezinha, bote o José para estudar com os outros meninos; a vida dele é me aperrear". Dona Terezinha me colocou na turma da manhã; ainda me lembro: as carteiras eram daquelas que acomodavam quatro alunos.
Antes das aulas, tínhamos de dar bom dia à professora, rezar Pai Nosso e Ave Maria. O uniforme era bermuda marrom com suspensórios e camisa xadrez, fornecido pela FUNAI, como também caderno, lápis e borracha, além da merenda escolar: sopa ou leite.
Um ano depois, já estudava a cartilha e começava a formar palavras. Na hora do recreio ensinavam as brincadeiras da cidade. De manhã, o zelador abria e varria; era o índio Francisco Tamoné (Zé Gatinho) e também chegava a cozinheira, também índia, a velha Marieta.
Quando eu tinha oito anos já estudava na 1ª série e cada vez mais gostava de estudar; meus pais sempre davam uma força; já os outros, tinha deles que seus pais os tiravam da escola para ajudar na cerâmica ou nas roças.
A pobreza era dominante nessa rua. Muitos deixavam a escola. A professora reclamava ao chefe do Posto, Ademir, mas não adiantava; ele dizia: "o que é que eu vou fazer?" Os alunos, muitos deles, é quem ajudam os pais na agricultura; as meninas também auxiliam as mães a cuidar dos irmãos menores, lavam pratos; outros vão para as lagoas buscar barro para a cerâmica da mãe.

Nhenety Kariri-Xoco

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