segunda-feira, 9 de maio de 2022

DIVISÃO DO TEMPO KARIRI


Divisão do Dia / Itsa ukie


( Estudo do parente Ari Loussant )


Dzubukuá:


dhe kiedhi do anatseboe!


Hithu doihi ninho idite itsa ukie nete mo wolidzea Nhihoa. Iwikli anro wokie haboho boerute mo metea wo do 'kayapli', do 'kaye', do 'kaya', do etc (etsetuira).


Português:


Boa tarde para todos!


Hoje decidi criar uma proposta para a divisão de tempo para as línguas Kariri. Este sistema foi criado com base em palavras como 'kayapli', 'kaye', 'kaya' e etc.


MANHÃ: 


Kp.: chesatù / Dz.: kiehathu / Sb.: cesathu 'madrugada, lit.: dia-nascer-começar, 00:00:01h às 05:00h' 


Kp.: chesa / Dz.: kieha / Sb.: cesa 'manhã, lit.: dia-nascer 05:00:01h às 12:00' 


TARDE:


Kp.: chesi / Dz.: kiedhi / Sb.: cesi  'meio-dia, lit.: dia-coração, 12:00'


Kp.: chepri / Dz.: kiepli / Sb.: ceblü 'tarde, lit.: dia-deixar, 12:00:01 às 18:00'


NOITE:


Kp.: kayatù ~ kiaetù / Dz.: kayathu ~ koethu / Sb.: khayathu ~ köthu 'começo da noite, lit.: noite-começar 18:00:01 às 21:00'


Kp.: kayapri ~ kaepri / Dz.: kayapli ~ koepli / Sb.: khayablü ~ köblü 'tarde da noite, lit.: noite-deixar 21:00:01 às 00:00' .


Estas são sugestões para os três dialetos para regularizar as divisões dentro das 24 horas do dia.


Para explicar alguns vocábulos aqui: tça deriva de tçate, cujo a explicação para essa redução será enviada após essa mensagem, wokie significa literalmente 'caminho-atar' ou 'caminho atado', baseado no significado de sistema que é um decalque do grego σῠνῐ́στημῐ (sunístēmi) 'unir, associar' .


Dhe kiedhi significa 'alegre tarde', para diferenciar um pouco da tradução literal do português 'boa tarde', o dhe deriva de udhe sem o u genitivo, cujo também irei mandar o texto logo após esse:


Ari Loussant: *O afixo genitivo *-u-*


 Boa noite pessoal


 Hoje vim falar sobre o afixo -u-, cujo surge em todas as línguas Kariris e é o principal fator que distingue a 5ª declinação das demais, quero explicar qual é sua função e seus cognatos distantes dentro das outras famílias linguísticas do Brasil. Note que o próprio Mamiani demonstra como ele surge apenas em certos contextos, neste caso, ele é obrigatório para a primeira e terceira pessoa do singular e plural, mas desaparece perante a segunda pessoa como vemos no verbo ucà > a-cà 'tu amas'


 O motivo desse desaparecimento é devido à sua função gramatical, sendo similar ao 's do inglês como em John's Car, Jacob's house e etc. Note que ele também obrigatoriamente surge com o prefixo relacional dz-, agora eu sei que isso confunde muitos aqui, pois sei que devem achar que dzu- é apenas um prefixo de primeira pessoa independente e pronto, mas esse não é o caso, ele é uma junção de dois prefixos cujo genericamente funcionam como a primeira pessoa do singular, sabemos disso pois no Dzubukuá ele surge como uma estrutura opcional, sendo possivel colocar o prefixo hi- junto à estrutura dz-u-, formando portanto a estrutura real hi dz-u-cà.


 Não é possível traçar as limitações deste afixo, nem é possível afirmar que havia uma, parece-me que a quinta declinação era totalmente livre de limitações arbitrárias causadas pela interpretação de Mamiani, pois encontramos conceitos abstratos como uca 'amor' e use 'alegrar-se' ao lado de objetos tangentes como setu 'cesto' e rine 'carne salgada', palavras nativas como cro 'pedra' e empréstimos recentes do Tupi como tayu 'dinheiro' e tasi 'enxada', e por último palavras cujo provavelmente estão conectadas pela mesma raíz como *ya*crorò 'anzol' da primeira declinação e *ya*ridzi e *ya*wo que caem na quinta.


 Ari Loussant: Com tudo isso dito, deixe-me explicar como funciona e como aplicar essa função gramatical nas palavras que hão de ser criadas e importadas para essa língua, peguemos um empréstimo agora mesmo *posã* 'remédio' do Tupi possanga e apliquemos as regras de sua declinação genérica e a quinta declinação:


posã começa com consoante, caindo de forma genérica na primeira declinação, portanto:


hiposã


eposã


iposã


hiposãdè


cuposãà


eposãà


iposãà


Aplicando-o na forma da quinta declinação


dzuposã


aposã


suposã


dzuposãdè


cuposãà


aposãà


suposãà


Note que eu adotei a forma Kipeá, cujo deleta o Hi de Hidzu já que dz-u- carrega de forma genérica o significado de primeira pessoa nessa língua, mas é possível criar as versões:


hidzuposã


hidzuposãdè .


Evidências da origem do som *ts nas línguas Kariri:


Bom dia à todos, estou enviando este texto curto para demonstrar algumas evidências que encontrei para a reconstrução do som *ts, lembrando que essa é apenas uma das possíveis origens desse som, também existem outras evidências que apontam para sons diferentes cujo postarei logo aqui no grupo.


Verbo podso/potço (FN: potso) "acordar"


Cognatos na família Karib:


Tiriyó = paka


Arara = page 


Waiwái = ɸaka


Kuíkuro = haki


Todos apontam para uma reconstrução em:


*pakV ~ *pVkV


Possível reconstrução:


Pré-Proto-Kariri: *pVkV


Proto-Kariri: *pəcə ~ *poco


Dzubukuá e Kipeá: *pət͡sə ~ *pot͡so


Verbo tçate (FN: tsate) "cortar"


Cognatos na família Karib


Proto-Carib: *akete, *ako:to, *akôtô


Cognatos na família Boróro


Proto-Boróro: *kato


Todos apontam para uma reconstrução em:


*kVtV


Possível reconstrução:


Pré-Proto-Kariri: *kVtV


Proto-Kariri: *cətə ~ *cəte


Kipeá: t͡sətə ~ t͡sate


V = vogal não identificada


FN = Forma Neutra, sem influência das ortografias dos catecismos.



Autor : Ari Loussant



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