segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

AS PALAVRAS TAIPRI E SÃICRO


Palavras extraídas dos compostos TAIPRI 'arrebentar o fio' e SÃICRO 'arrebentar as plantas'


 As duas palavras tem um significado em comum que é 'arrebentar', ou utilizando palavras mais modernas, 'romper, partir', essas duas palavras seriam TA(I) e SÃ(I), se elas são sinônimos diretos ou se elas tem significados especializados para certas ocasiões é difícil de se dizer, por enquanto irei reconstruir ambos como sinônimos.


 Os dois últimos elementos significam 'fio' e 'planta' respectivamente, PRI é comprovadamente 'fio', pois surge no composto BŶSAPRI 'açoite', que seria BŶSA 'destruir, quebrar' + PRI 'fio' = 'fio que quebra, fio que destrói', já KRO não tem outros cognatos, a palavra monossilábica parece ter sido substituída por BUMANA da quinta declinação, cujo pode ser o mesmo que ocorreu com a palavra nativa para milho PŶ, que foi substituída pelo empréstimo aruaque MASICHI, no entanto é difícil dizer se BUMANA é um empréstimo ou não, mais pesquisas terão de ser feitas para chegar a uma conclusão.


 Com tudo isso dito, algumas dificuldades na reconstrução devem ser ditas, por exemplo com SÃI, que possui nasalização e uma semivogal final /j/, enquanto a semivogal é algo que parece surgir posteriormente nas línguas Kariris, nasalização é mais difícil de prever quando é obrigatória e quando é dialetal, portanto irei reconstruir variantes desnasalizadas e nasalizadas para compensar, outra coisa que também terei que fazer é reconstruir com /c/ ou /s/, pois não sei se esse /s/ de SÃI é verdadeiro ou deriva de uma consoante palatal. Outro problema é na palavra TA, cujo Mamiani, novamente, não faz distinção entre palavras aspiradas e não-aspiradas, forçando-me a reconstruir com duas variantes.


Mamiani tinha um costume de anotar vogais como ele ouvia e não baseados na sua verdadeira qualidade, portanto se ele ouvir um /o/ mesmo que seja um schwa, ele anotará como um /o/, isso causa confusão na hora de reconstruir palavras. KRO parece bastante com o verbo *kre 'plantar' do Proto-Cerrado, uma das fontes de empréstimos mais produtivas dentro do Kariri, no entanto não sou capaz de dar uma boa explicação do por que a palavra surgiu como um substantivo (talvez também tivesse a qualidade de verbo) e por que o /e/ virou /o/, portanto irei reconstruir duas variantes para esse possível empréstimo e também deixar a possibilidade dele ser também um verbo anotada. Concluindo, aqui estão as reconstruções:


1) Arrebentar ¹

Proto-Kariri *ta(j) ~ *tʰa(j)


Dz.: ta, tha, tay, thay

Kp.: tà, tài

Sp.: tá, thá, táy, tháy

Km.: tà, ttà, tày, ttày

Kt.: ta, tha, tay, thay

KX.: tá, thá, táy, tháy

Pp.: ta, tai


2) Arrebentar ²

Proto-Kariri *sa(j) ~ *ca(j) ~ *sã(j) ~ *cã(j)


Dz.: ha, hay, dha, dhay, ham, ham'y, dham, dham'y

Kp.: sãi

Sp.: sá, sáy, sáng, sáng'y

Km.: sà, sày, sàng, sàng'y

Kt.: sa, say, san, san'y

KX.: sá, sáy, sã, sãy

Pp.: sãi


3) Fio 

Proto-Kariri *pri 


Dz.: pri

Kp.: prì

Sp.: prí, plí

Km.: prì, plì

Kt.: pri

KX.: prí

Pp.: pri


4) Planta

Impossível dizer quando a palavra entrou no léxico Kariri e se ela não é apenas uma palavras dialetal do Kipeá, portanto não irei reconstruir para o Proto-Kariri, porém irei dizer que, caso seja um empréstimo de línguas Jês, houve uma mudança da vogal /e/ > /ə/, portanto estas são as variantes:


Dz.: kro, krâ

Kp.: crò

Sp.: kró, kréi

Km.: krò, krà

Kt.: kro, kró

KX.: kró, krâ

Pp.: kro, krae



Autor da matéria: Ari Loussant


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