sexta-feira, 3 de março de 2023

DEFININDO AS DECLINAÇÕES DO DZUBUKUÁ


 Uma coisa que vem sido difícil para os falantes de dialetos derivados da língua anotada por Bernardo de Nantes é a falta de regularização das declinações, já que não existe um equivalente de uma gramática feita por este autor assim como existe para o dialeto Kipeá, venho através deste texto demonstrar alguns exemplos destas declinações que surgem no Katecismo Indico, usando como base as declinações de Mamiani para estabelecer uma numeração para elas e organizá-las para futuras adições ao léxico Dzubukuá (neologismos, empréstimos e etc). Neste texto irei utilizar a ortografia do Catecismo de Nantes e a minha ortografia para o Dzubukuá logo ao lado.


Primeira declinação (substantivos e verbos): O que nós conhecemos por primeira e quarta declinação na língua Kipeá parecem ter se fundido completamente no dialeto de Wracapá, para aqueles não familiarizados com a diferença entre essas duas, posso explicar elas da forma mais básica como a separação entre substantivos e verbos (apesar de haver exceções), na primeira caem em sua maioria palavras que são substantivos, raramente caem empréstimos de outras línguas, porém podem ocorrer exceções como WASÚ 'esquerda' do Kipeá que vem do Tupi Antigo *assú* que tem seu equivalente em WANYDU (WAM'YDHU), apesar deste surgir apenas em um composto, jamais sozinho e declinado. Sobre a quarta, essas seria por definição de Mamiani onde caem a maioria dos verbos ativos e passivos e suas derivações, isto é substantivo de verbos que caem nesta declinação, então por exemplo BATE 'moradia' sempre será na terceira pessoa SI-BATE, pois o verbo BA 'viver, morar' é da quarta declinação. Como eu disse anteriormente essas duas se fundiram e eu irei explicar logo após mostrar a declinação:


1ª pessoa singular: hi- (ghi-)

2ª pessoa singular: a- (â-)

3ª pessoa singular: i- (i-)

1ª pessoa plural exclusiva: hi-X-de (ghi-X-de)

1ª pessoa plural inclusiva: ku-(X-a) ~ cu-(X-a) (ku-(X-a))

2ª pessoa plural: a-X-a (â-X-a)

3ª pessoa plural: i-X-a (i-X-a)


 Àqueles que estão familiarizados com a primeira declinação devem notar que ela é bastante regular com a de Mamiani, já a quarta se diferencia da primeira pelo seu pronome de terceira pessoa ser SI- ao invés de I- e também por ter em sua maioria verbos e suas derivações, no entanto devo esclarecer algo, o Dzubukuá não possui o som /s/, dependendo de sua origem no Proto-Kariri este se transformou em /h/, /d/ ou /ð/, mas se esse for o caso, deveríamos ver a terceira pessoa sendo conjugada como hi- certo ? Seria uma ideia correta, porém o Dzubukuá que estava sendo falado na época de Nantes estava passando ou já havia passado por outra mudança sonora, uma que também ocorreu do Latim para o Português, que foi a derrubada do som /h/, essa queda também parece ter ocorrido na língua de Wracapá, pois vemos dois cognatos que comprovam isso nas palavra *odde* de Nantes e a palavra *sode* de Mamiani, ambas com o significado de 'o quê, por quê', o que indica que houve a mudança de *sode > *hode > ode na língua Dzubukuá, portanto se presumirmos que a quarta declinação existiu no Dzubukuá e no Proto-Kariri, podemos entender que ela se fundiu por que a terceira pessoa que era /hi/ acabou virando /i/. Recomendo que todos os substantivos e verbos (passivos e ativos) que não possuam declinação estabelecida no catecismo por Nantes caiam todos nesta declinação.


Segunda declinação: Assim como no caso do Kipeá, são poucas as palavras que caem nesta declinação, algumas são preposições assim como no Kipeá como no caso de *oboho* (âboho) 'com', que surge como *anhi-eboho* (âñ-âboho) 'contigo', devo esclarecer que esse /i/ ao lado de nh não é uma vogal verdadeira e sim um indicador de que o nh se trata do som do n palatalizado assim como ninho, e não o encontro entre uma consoante que representa o som nasal da vogal anterior e um /h/ independente, como em nanhe 'senhor' que é para ser pronunciado como nã-he ou nhinho 'Deus' que é na verdade ñῖ-gho. As mesmas palavras que você vê na segunda declinação do Kipeá caem aqui e são conjugadas da seguinte forma:


1ª pessoa singular: hi- (ghi-y-)

2ª pessoa singular: anhi- (âñ-)

3ª pessoa singular: h- (h-)

1ª pessoa plural exclusiva: hi-X-de (ghi-y-X-de)

1ª pessoa plural inclusiva: k-(X-a) ~ c-(X-a) (k-(X-a))

2ª pessoa plural: anhi-X-a (añ-X-a)

3ª pessoa plural: h-X-a (h-X-a)


Terceira declinação: Esta possui menos exemplos ainda, o único verbo que surge tanto no Kipeá quanto no Dzubukuá seria o verbo *enunhe* 'guardar-se', este felizmente surge conjugado no Dzubukuá e nos indica que esta declinação também existia como algo separado da segunda, é difícil dizer se ele seguia as mesmas condições que o Kipeá, pois na língua de Mamiani, a condição para uma palavra entrar nesta seria a de começar com a vogal E, devo esclarecer que uma das palavras que encontramos no Kipeá que cai nessa declinação *ena* 'barba' surge no Sapuyá como z-anatih, o que indica que nem todas as vogais desta declinação eram obrigatoriamente /e/ etimológicos, o que indica que poderia haver outra condição para uma palavra entrar nessa declinação. Recomendo tanto para esta declinação, quanto para a segunda que todos verbos e substantivos novos que chegarem sejam escolhidos pessoalmente pelos representantes do dialeto que está sendo falado, aqui está a forma que a declinação toma nesta língua:


1ª pessoa singular: hidz- (ghi-dz-)

2ª pessoa singular: andz- (âm-dz)

3ª pessoa singular: h- (h-)

1ª pessoa plural exclusiva: hidz-X-de (ghi-dz-X-de)

1ª pessoa plural inclusiva: k-(X-a) ~ c-(X-a) (k-(X-a))

2ª pessoa plural: andz-X-a (âm-dz-X-a)

3ª pessoa plural: h-X-a (h-X-a)


 Quarta declinação: Como vimos antes, a quarta declinação de Mamiani havia se fundido com a primeira por motivos fonéticos, portanto esta quarta declinação será equivalente da quinta declinação do Kipeá, a diferença principal desta versão para a de Mamiani seria a preservação da forma completa do pronome da primeira pessoa singular e plural exclusiva, já que este era composto do pronome em si hi- (ghi-) junto com o prefixo relacional -dz- que vimos na terceira declinação e o antigo prefixo genitivo -u-, formando hi-dz-u (ghi-dz-u) 'eu, meu', a segunda diferença seria na ausência do s- da terceira pessoa, que como falei antes por motivos fonéticos se transformou em h- e depois foi perdido completamente, então ao invés de hu- temos apenas o prefixo u- sozinho, esta é a forma que a quarta declinação toma no Dzubukuá:


1ª pessoa singular: hidzu- (ghi-dz-u-), dzu- (dz-u-)

2ª pessoa singular: a- (â-)

3ª pessoa singular: u- (u-) ou sem marcação

1ª pessoa plural exclusiva: hidzu-X-de (ghi-dz-u-X-de), dzu-X-de (dz-u-X-de

1ª pessoa plural inclusiva: k-(X-a) ~ c-(X-a) (k-(X-a))

2ª pessoa plural: a-X-a (â-X-a)

3ª pessoa plural: u-X-a (u-X-a) ou X-a (sem marcação)


 Devo esclarecer que se palavra já possui um u- na frente, como por exemplo *ubette* (ubete), não é necessário colocar outro u- na frente, pois essa palavra já está conjugada, portanto sempre será *ubette* (ubete) e jamais *uubette* (uubete).



Autor da matéria: Ari Loussant



Nenhum comentário: