quinta-feira, 12 de outubro de 2023

ANÁLISE APROFUNDADA DA PALAVRA QUETALIQUE


 Após revistar o documento onde encontrei essas palavras, notei uma coisa sobre quetalique (ketalike), ela surge com dois significados registrados, na primeira página que surge tem o significado de 'vamos', mas na última é registrado com um significado mais específico 'deixe-nos ir', isso me fez suspeitar um pouco sobre minha análise anterior, portanto decidi fazer outra análise mais aprofundada sobre essa palavra.


 Note que a estrutura ainda confirma a presença do pronome k- com um afixo -e- colado a ela, cujo não se tem uma noção exata do significado, talvez seja cognato direto do Dzubukuá ked- de ked-amoedha 'nossas mãos'. O que importa é que -lique (-like) é a estrutura que me interessa aqui, pois agora creio que ela carrege um significado de permissivo, isso pode ser confirmado por sua similaridade ao verbo *rê(C) 'abandonar, deixar' do Proto-Macro-Jê, sobrando somente -que (-ke) ao seu lado.


 Minha suspeita é de que a estrutura que parece uma palavra talvez fosse uma frase, demonstrando um aspecto da estrutura gramatical do Katuandí, nesse caso, li é um verbo auxiliar, denotando a permissibilidade, mas o mais interessante aqui é -ke, que se assemelha claramente ao ke- inicial, portanto eu tenho duas teorias que explicam a estrutura vista aqui:


1) ketalike realmente é um verbo conjugado, como ke-ta-like, -like é uma junção de duas partículas, li 'deixar' + -ke 'para, em', li indica o tipo de ação que se expressa na frase e -ke direciona/encoraja o ouvinte a fazer tal ação, talvez voltando direto para o que eu falei sobre -ke indicar o imperativo nessa língua.


2) ketalike é uma frase, que na verdade seria ke-ta a-li-ke 'nós-ir tu-deixar-nós', basicamente falando, a primeira estrutura é o verbo principal (ke-ta) indicando o movimento (ta 'ir') feito por alguém (ke- 'nós'), a segunda estrutura é o complemento da ação, os detalhes necessários para se compreender o por que de se falar de tal ação, a- 'tu' indica o sujeito, -li- 'deixar' é o verbo que está auxiliando o verbo ta e -ke 'nos' é o pronome do objeto, assim, o que a-li-ke diz é '(que) tu deixe a nós', assim pedindo permissão para que a primeira ação (ke-ta) seja realizada completando-se como:


ke-ta a-li-ke 'que tu permita (deixe) a nos nosso ir' > 'que tu nos deixe ir' > 'deixe-nos ir'


 Tal estrutura escondida pode ser argumentada através de seu registro na língua portuguesa, língua esta que não possui qualquer distinção de alongamento vocálico como demonstrado no Xocó e no Wakonã, portanto duas vogais homófonas ketA Alike poderiam facilmente se assimilar em uma única estrutura.


 Sobre a questão gramatical do uso de pronomes de objeto, argumento aqui que dentro da família Atumun, tal forma de conjugação verbal não é alienígena, sendo bastante produtiva nas línguas Arawak por exemplo (Aikhenvald (1999), p. 87.):


ri-kapa-ni 'ele(SUJ)-ver-ele(OBJ)' > 'ele o vê'


hape-ka-ni 'frio-DECL-ele(OBJ)' > 'ele está frio' ou 'ele quem sofre o frio'





Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



Nenhum comentário: