quarta-feira, 11 de outubro de 2023

ETIMOLOGIA DAS PALAVRAS PARA PLANTAS MEDICINAIS KARIRI-XOCÓ


1) Pau ferro (Akram totuá): Existem algumas possibilidades na tradução destes dois termos, como será visto nessa publicação, totuá (< *tuatua (?)) e outras variantes se repetem ao longo das palavras encontradas, o que nos indica que talvez não fosse o nome de um espécie específica e sim um nome genérico para qualquer tipo de 'folha, planta'. Akrám soa como um adjetivo, como estamos falando do pau ferro, árvore usada para criar tacapes e cujo tinha o nome de jucá no Tupi, que significa matar, além da clara semelhança com raízes encontradas nas línguas Macro-Jê e Kariri relacionadas a 'duro, rijo, forte' (kra e kro respectivamente), afirmo aqui que essa palavra seja um adjetivo marcado com o prefixo a-, indicando algo com 'qualidade de pedra', portanto a-krám 'duro', portanto temos akrám totuá 'folha da (árvore) dura'.


Manacá ( to-atchuá ) <  repetição do tema totuá.


Algodão-preto ( Endjui ) = Essa palavra tem semelhança clara com o ENDI do Kipeá da família Kariri, o que nos indica que são cognatos, mencionei para Nhenety que havia encontrado uma palavra no Proto-Kak que seria juʔi ‘algodão’, também encontrei juj no Puinave, o que confirma que djui (dzúi na ortografia Katuandí) seria cognato direto dessa palavra e do ENDI Kariri. Talvez o cognato de EN das duas palavras se encontre nas raízes ampe das línguas Arawak e ampi do Quechua, formando assim ên-dzúi 'algodão-algodão'.


Genipapo ( kassatinga ) < Essa palavra tem semelhança no que presumo ser a segunda palavra -tinga com o Tupi ting-a 'branco', no entanto sabe-se que a palavra Tupi para jenipapo é literalmente jenipapo (ou yandi-ipab na pronúncia do Tupi Antigo segundo Carvalho (1987, p. 62)), portanto a semelhança talvez não haja um nexo entre as duas raízes, mas manterei a possibilidade aberta para uma possível construção híbrida. Exatamente para que se tenha uma noção do que -tinga significa, é necessário olhar para kassa-, a única raiz que encontrei que se assemelha a essa seriam kaʃa do Kandoxi e kaʧa ‘chicha/azedo das línguas Pano, ambos com o significado de 'azedo' e 'ácido', cujo bate exatamente com o sabor ácido do Jenipapo. Voltando para tinga, caso esse não seja um empréstimo direto do Tupi ting-a 'branco', assim sendo kassa-tinga 'coisa branca e ácida', eu creio que esteja distantemente relacionado do Quechua *tika 'flor' e as variantes das línguas Arawak oteɡa 'flor' e tija 'flor', assim sendo kassa-tinga 'flor ácida'.


Melancia ( Beredzi ) < Essa palavra é cognata direta do Dzubukuá behedzi, note a mudança de h > r, o que talvez indique uma de duas coisas, ou o Katuandí passava por mudanças sonoras de h > r ou havia um som que transitava dentro do Katuandí ou do Kariri entre r e h.


Embú ( Oboé ) = Obo é claramente cognato do Dzubukuá obbo, resta saber o que significa é de obo-é, como estamos falando de um fruto, suspeito que essa palavra seja cognata do Tupi a 'fruto, semente' e portanto significa 'fruto, fruta, semente'.


Alecrim-de-caco ( Sodô Akraô ) < Teorizo aqui que a tradução seja literal, ou seja, Sodô seria 'caco' e Akraô o alecrim, a etimologia de sodô (sôdô) talvez seja cognato em sô com o Kariri bý-sá 'quebrar', dô talvez tenha relação distante com o Proto-Tupi *təK 'socar' (sok-a do Tupi Antigo) ou talvez com o Proto-Cerratense (descendente do Proto-Macro-Jê) *twa e *cuk, ambos significam 'socar', portanto sô-dô 'quebrar-socar'. Akraô talvez se quebre da seguinte forma, a-krá segue o padrão de prefixação do Katuandí, talvez esteja ligado distantemente ao Proto-Jê Setentrional (descendente do Proto-Macro-Jê) *krak-ri 'abaixo', enquanto ô seria cognato distante do Proto-Tupi ok 'raiz', portanto a-kra-ô 'prefixo-abaixo-raiz', resultando em sôdô akraô 'pedaço da raiz'.


Cidreira ( Totu-chuá ) < repetição do tema totuá.


Feijão brabo ( Guinhí ) < Essa palavra é cognato do Dzubukuá guenhie e do Kipeá ghinhé, ambos derivados de um descendente do Proto-Kamakã *kiɲa.


Quina quina ( Manussi ) < A palavra se assemelha diretamente ao subsantivo menussí 'vento', porém não fui capaz de estabelecer o motivo dessa nomenclatura, após fazer um "brute forcing" para encontrar alguma raiz que batesse com essa, decidi checar no Tupi, lá a palavra para quina quina é îuru-pyk-anga, literalmente 'tampar a boca da sombra/alma', daí seguindo esse tema, chequei no vocabulário de outras línguas, e me deparei com *manu do Proto-Takana e *manõ do Proto-Tupi, ambos com o significado de 'morrer', daí notei a semelhança no tema de 'sombra/alma' com 'morrer/morte' e portanto o 'morto' ou 'alma', portanto manussi na verdade segue a mesma temática que o Tupi. Falta apenas -si, cujo hipotetizo ter algum significado de 'expulsar' ou 'calar', talvez tenha relação com o verbo sysyîa 'tremer' do Tupi Antigo, portanto manu-ssi 'morrer-tremer' ou 'o medo do morto'.


Gegelim bravo ( Kossai ) < Kô se assemelha em todos os aspectos ao Kipeá có 'caroço', sá é cognato do Proto-Macro-Jê *cəm° ‘semente’ e í talvez tenha relação com o Nadahup *tɨb ‘semente’ e do Tupi *tˀ‐upiʔa (ambos sendo indicadores de uma forma independente ɨp ~ ɨb).


Alecrim-de-verão ( Aflô ) < Essa palavra parece ser uma adaptação da palavra portuguêsa flor para a gramática Katuandí, recebendo o prefixo a-, tornando-se a-flô 'prefixo-flor'.


Espinheiro turco ( Akram ) < Akrám é a mesma palavra que surge em Pau Ferro, etimologia naquela seção.


Mastrus (Prekuá) < prê 'comprido, alto' deriva do Proto-Macro-Jê *prêk 'alto', enquanto kuá 'pena' deriva do Proto-Macro-Jê *ŋgwañ 'pena'.




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



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