sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

PRIMEIRA FRASE COMPLETA DAS LÍNGUAS TEREJÊ


O Wakonã de Antunes (1973) preservou vários aspectos desta variante Terejê, irmã do Natú e Xocó, uma delas que consegui finalmente desvendar foi a frase que surge na página 87:


Um dia, uma índia preparou muqueca com peixe assado na folha para Pissôrê. Não preparou bem. Guardou a muqueca no flechal e a mosca veio, pousou, e pôs ovos em cima da muqueca . No outro dia, havia bicho de mosca. Quando Pissôrê chegou, a índia mais bela da tribo lhe ofereceu a comida. Ele disse: "- Não presta, Pôfô, íánê di Pissôrê", isto é, vire logo em mulher ruim.


 A frase não se traduz diretamente da forma que foi dita para Antunes, veja que a palavra Pôfô é verbo 'criar', aqui ele está sendo usado como comando, para indicar tal comando, o Wakonã parecia utilizar do advérbio verbalizado 'fazer/dizer assim' *anẽ do Proto-Cerratense, herdado aqui como anê e marcado com o prefixo da terceira pessoa i-, formando y-anê '(que ele/ela) faça/seja assim', esse verbo se referindo ao anterior pôfô 'criar, fazer', faltando somente as duas últimas partes:


di Pissorê


 Seguindo a lógica da frase, a partícula di usada, e o fato de que as línguas do grupo Cerratense são majoritariamente ergativas, podemos inferir que di seja descendente do marcador ergativo *te 'por causa de' do Proto-Cerratense, concluindo a frase como:


pôfô y-anê di Pissôrê "que assim seja feito por Pissôrê" ou "que Pissôrê faça assim".





Autor da matéria: Suã Ari Llusan



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