sexta-feira, 12 de abril de 2024

ETIMOLOGIA DE GAKHANG 'LUA' DO MASAKARÁ


Martius anotou a palavra Masakará em seu documento para 'lua', que é *gachang* em sua ortografia, essa palavra foi comparada com o Sapuyá algumas décadas depois de sua anotação por Loukotka, em seu documento de 1932: La família Kamakan del Brasil:


Masakará: gakhang

Sapuyá: gaya-kú


 Essa comparação me interessou, pois o Kariri como um todo parece ter herdado a palavra *kaya que virou kayá no Dzubukuá e Kipeá e gayá no Sapuyá e Kamuru, como eu descrevi nos ultimos meses, o som de *y não pode ter sido herdado do Proto-Kariri, nem muito menos do Proto-Macro-Caribe, pois todos os som de *y nativos se tornaram *dz ou *dj, portanto a palavra *kaya talvez se trate de um empréstimo do Kamakã.


 Digo isso pois Martins publicou em 2007 sua revisão do documento de Loukotka, providenciando uma reconstrução da palavra baseada nas correspondências das outras línguas Kamakã:


Proto-Kamakã: *hetʃe


K1: häthie

Mo1: hädiä

Ko: hidié

K3: dihé

Me: jé

K2: (egisé)

K4: tuê

Ma: (gaxang)


 De todas as línguas que vi nestes dois documentos, o Menien e o Masakará parecem ser os mais conservadores das consoantes antigas do Proto-Kamakã, infelizmente as reconstruções de Martins são centradas unicamente nas línguas Kamakã propriamente ditas (K1, K2, K3, K4) e não nos membros como um todo, o que fez considerar o gaxang do Masakará como divergente e não correspondente ao outros idiomas, portanto eu discordo da reconstrução de Martins e providencio meus argumentos:


1) Praticamente toda vez que o som *j (equivale a y) herdado do Proto-Transanfranciscano aparece nas línguas Kamakã, o Menien tende a herdá-lo sem qualquer modificação:


PTSF: *juñ 'dente' > Menien *jo (yo)


2) O Masakará parece estar removido dos processos de um possível processo de alçamento vocálico que ocorreu na maioria das línguas, baseando em sua conservação do fonema *p em relação às outras línguas Kamakã que transformaram tal som em *hw, advirto atenção para a possível conservação de mais fonemas nessa língua.


3) Continuando sobre o Masakará, se este preserva consoantes em relação aos outros, é possível que a reconstrução de  *he-tʃe (sugiro *ɣy-ɟɛ) corresponda à transformação que ocorreu no que chamarei aqui de Kamakã Comum, enquanto uma reconstrução como *ky-ja corresponda melhor ao Proto-Kamakã, que inclui o Masakará, as línguas do Kamakã Comum (Kamakã, Kotoxó, Mongoyó) e o Menien.


 Eu teorizo que, baseado nos contos dos Kamakã, assim como um conto do povo Maxakalí, os povos transanfraciscanos compartilhassem de uma teoria sobre o porquê da lua ter manchas, isso foi por quê ela foi queimada. E podemos encontrar ainda hoje as raízes que formaram essa palavra nas línguas Kamakã:


Kamakã: ianí 'queimar' (Martins, 2007, p. 88)


Kamakã Comum: *ky 'testa, rosto'


K1: akü

Mo1: aké

Ma: kü


Assim, o composto seria *ky-ja 'rosto/testa queimado(a)' e concluo que foi um empréstimo do Kamakã para as línguas Kariri.





Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



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