sexta-feira, 17 de maio de 2024

A LÍNGUA DOS JUCÁS


 Nos últimos dias, venho observando os topônimos cearenses em busca de compreender as línguas locais, descobri um documento chamado "Sesmarias Cearenses: Sesmarias Cearenses: Distribuição Geografia", descobri vocábulos da língua Juká, que diferem-se completamente das línguas ao seu redor, aqui segue a análise que fiz sobre os vocábulos:


Palavras Jucá: 


  

Faroibo (Faroybo) = Riacho Favelas (árvore) (?) < PJS *pyrək-bõ 'parecer-capim' (?) 


  

Feloibou (Feloybow) = Riacho Favelas (árvore) (?) < PJS *pyrək-bõ 'parecer-capim' (?) 


  

Loucuneele (Lowkuneele) = Riacho Tabuleiros < Lowku-nee-le é a estrutura nativa dos Jukás equivalente ao -ri-ré que vemos entre os outros Tarairiú, equivale ao locativo Tupi -pe/-be 'em, no, na', como em Îagûar-y-be 'no rio das onças' > Jaguaribe.


Lowku é a pronúncia local da palavra Tupi ro-kub-a 'coisa que está deitada', traduzindo 'mesa, tábula', isso explicaria o por que de ser chamado de Riacho dos Tabuleiros, a tradução literal é:


Lowku-nee-le 'mesa-LOC-DIM' > 'no pequeno (rio) das tábulas'



Nanraniou (Nanran-yow) = Riacho Pitombeira < PJS *jarῖ-j-u ‘saltar-REL-água 


  

Lucecoró (Lusekoró) = olho d'água' 


  

Vacezoem (Vasezõẽ) = Riacho dos Bois < Cognato do PJS *aĵə-ti 'veado mateiro' com um prefixo w- relacional (cf.: W-akonã, N-akonã, J-akonã e Mebengokre w- em w-a-bê), zoem pode ser zõẽ, derivado de um antigo dzõj̃ e antes disso do PJS *ñõ 'comida', portanto w-aĵə-ñõ 'REL-veado-comida' > w-ace-dzõj̃ > w-ase-zõẽ 'boi, vaca' 



Puiú (Puyú) = Riacho Puiú < PJS *pucu 'mutuca' 


  

Vaiariré (Vayariré) = Riacho Vaiariré < PJS *mbaj 'caranguejo' + ri 'locativo' + -ré 'diminutivo', literalmente mbaj-ri-ré 'no riacho dos caranguejos' 


  

Guinancooú (Ginankooú) = nome de uma serra 


  

Fuériró (Fwériró) = Riacho Pitombeira < Nota: Aqui afirma-se que os próprios indígenas chamavam o Pitombeira de Fuériró, portanto talvez essa seja a palavra para pitomba e Nanraniou ou é um fruto diferente ou é um nome de outro corpo d'água com outra palavra não relacionada, possivelmente fué é cognato ou descendente do Proto-Jê Setentrional *pôj ‘sair.PL’, sendo no plural por conta dos cachos que as pitombas formam. 


  

Sque-o-a (Skwe'o'a) = Riacho Imbuzeiro < Parece ser um cognato do Makasará zigöh-ku 'umbu', ambos vindos de um antigo *ci-k(w)ə 'umbu'. -o-a talvez seja equivalente ao Xukurú -gu-go, portanto sque-'o-'a 'umbu-AGT-RLS' = ‘umbu-z-eiro' 


  

Cundadú (Kundadú) = Riacho Cundadú) 


  

Raram = Riacho das Rosas < PJS *rə̃-rə̃ 'flor-flor' 



Quinancuiú (Kinankuyú) = nome de uma serra < Possivelmente a palavra nativa do Jucá para serra, compare kinan e ginan com o Tarairiú kehn 'pedra' 


  

Jucaaiore (Jukaayore) = Riacho Jucáaiore 


  

Tauhaha (Taw'a'a) = Riacho Tauhaha 


  

Anabuio = Riacho do Saco 


  

Cundaú (Kundaú) = Riacho Cundaú) 



 O Tarairiú de Inhamuns é comprovado pela palavra skwe’o’a, a palavra que define a divergência dessa variante de Tarairiú. A palavra skwe significa ‘umbu, imbu’, e só possui um cognato conhecido no Nordeste, que é do Masakará do norte da Bahia ‘zigöh’ (tsigöh), indicando que a palavra passou por um processo de redução silábica (*sikwe > skwe), tal processo foi influenciado por uma sílaba tônica oxítona, provavelmente devido à proximidade do Sertão de Inhamuns ao território dos Kariri do Ceará e convivência direta com eles.  


 Essa primeira evidência põe essa língua aproximada ao Macro-Jê, o que a define como Tarairiú é que skwe’o’a é a estrutura ‘o-’a, cognata às que possuem –gu-go no Xukurú mais ao sudeste, que é a forma agentiva dessas línguas, sabemos que –go equivale ao –ka do Tarairiú do Noroeste (Areriú): ara-ka ‘briga, conflito’, portanto o Tarairiú de Inhamuns tem uma afinidade fonética com seus parentes mais ao norte na Ibiapaba, a diferença sendo que, o fonema equivalente ao /k/ do Noroeste e o /g/ do Xukurú, aqui equivale ao som de /ʔ/ (representando pela apóstrofe ‘), indicando que tal fonema era distinto nessa variante em comparação ao /k/ e /kʷ/ (esse último visto claramente em skwe). 


 A palavra fué também indica uma proximidade com as línguas de Ibiapaba, visto que passa pelo processo de lenição de /p/. No caso de Ibiapaba, tal fonema torna-se numa aproximante sonora /β/, em Inhamuns ele torna-se numa fricativa labiodental surda /f/, possivelmente através de um estágio intermediário onde também foi uma aproximante, só que surda /ɸ/. 


 Por último, talvez a palavra tau-ha-ha também seja fruto do agentivo –o-a, sendo tau possível cognato/descendente do PJS *tak ‘bater’, portanto tau-ha-ha ‘riacho batedor’.


 Para concluir, eu suspeito que algumas palavras aqui sejam na verdade de seus vizinhos, possivelmente os Candodús ou outro povo que não conhecemos o nome.





Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



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